Alexandre de Zagottis, sócio da Advis e herdeiro da RaiaDrogasil: pós no MIT ajudou a criar um modelo matemático de controle de riscos
Da Redação
Publicado em 6 de agosto de 2012 às 17h10.
São Paulo - Recém-chegado aos 39 anos, o paulistano Alexandre de Zagottis tem sido motivo de um zum-zum-zum no mundinho formado por gestores, investidores e analistas do mercado financeiro nacional. A bolsa está caindo, os juros oferecem retornos pífios para quem aplica em renda fixa: a rotina de quem vive de ganhar dinheiro para os outros está difícil como nunca no Brasil.
Mas Zagottis está, no elegante jargão do mercado financeiro, dando a “porrada” de sua vida em 2012. Em português corrente, isso significa que ele está ganhando dinheiro como nunca. Ao lado de seu sócio Eduardo Bodra, de 37 anos, Zagottis lidera a área de gestão de recursos da empresa paulista de investimento Advis desde 2008.
Voava relativamente sob o radar até que seu desempenho começou a destoar da média. De janeiro a junho, seu fundo de ações deu 49% de retorno. Hoje, grandes bancos brigam para distribuir seus fundos a clientes — entre junho e julho, Banco do Brasil, Citi, HSBC e JP Morgan fecharam acordos com a Advis; Credit Suisse, Itaú e Safra são parceiros desde 2010. Zagottis e sua turma são o maior fenômeno do mercado financeiro brasileiro do ano.
O que chama a atenção de tanta gente é a consistência do resultado dos oito fundos administrados pela Advis. Três multimercados estão entre os seis melhores do setor no último ano, e o maior deles, o Delta, rendeu 111% em três anos e meio, o dobro do Ibovespa. Também há certo entusiasmo com o estilo de investimento da Advis.
Zagottis, herdeiro da rede de farmácias RaiaDrogasil e, no passado, forte candidato à sucessão para a presidência da empresa, e Bodra, ex-tesoureiro e gestor dos bancos Fator e Itaú BBA, têm uma trajetória pouco usual.
Em 2000, durante um mestrado em administração no Massachusetts Institute of Technology (MIT), Zagottis teve a ideia de criar um modelo matemático, rodado por computadores, para controlar o risco de fundos. Voltou ao Brasil, mostrou o projeto ao amigo Bodra anos depois e os dois passaram a lançar fundos usando esse modelo (até então, a Advis atuava apenas como consultoria financeira).
Deu certo na crise de 2008. Com base em dados históricos sobre o mercado financeiro, o modelo ajudou a definir os melhores momentos para comprar e vender ações, moedas e títulos de renda fixa. Segundo os gestores, isso garantiu um retorno de 13% do fundo multimercados Macro no ano, enquanto os concorrentes — e a bolsa — desabaram.
“Eles começaram a se destacar ali. Poucos gestores conseguem ir bem em momentos tão complicados”, diz Ricardo Rochman, professor da Fundação Getulio Vargas e um dos responsáveis pelo ranking de fundos publicado anualmente por EXAME.
“Não é o computador que determina onde vamos investir. Selecionamos os ativos com base em análises macroeconômicas e no desempenho das empresas. A vantagem do modelo é mostrar quanto comprar e vender”, diz Zagottis. Há, nas carteiras dos fundos, de ações de empresas americanas e europeias a moedas de países emergentes.
Parte dessas operações é feita nos mercados futuros — e é alavancada, ou seja, os gestores usam mais dinheiro do que têm para apostar, o que aumenta o potencial de ganhos e perdas.
Hoje, 60% do patrimônio da Advis está aplicado fora do Brasil. A principal aposta é que a crise europeia vai piorar antes de melhorar. Para eles, dá para ganhar dinheiro com isso comprando títulos nos mercados futuros que se beneficiem de uma possível desvalorização do euro.
Além disso, estão otimistas com o México. Não estão comprando ações mexicanas, porque estão caras — o índice IPC, principal da bolsa mexicana, está próximo de seu pico histórico. Mas estão aplicando em peso mexicano — para a Advis, a moeda valorizará com o aumento de investimentos estrangeiros e exportações.
No Brasil, eles têm comprado ações de setores variados voltados para o mercado interno — as principais são as da varejista Lojas Marisa e as do grupo de energia Cosan — e de pagadoras de dividendos, como a empresa de saneamento Sabesp.
A Advis não é a primeira butique de fundos a virar a queridinha dos investidores — algumas se mantiveram no topo por anos, outras nem tanto (e há aquelas que quase quebraram). O caso de sucesso mais duradouro é o da Hedging-Griffo, comandada pelo paulistano Luís Stuhlberger até ser comprada pelo Credit Suisse em 2006.
O fundo Verde, criado em 1997 por Stuhlberger e ainda gerido por ele, só teve um ano de desempenho negativo, 2008. Ao todo, rendeu 6 600%, quase dez vezes mais que o Ibovespa. O grande fracasso é o da gestora GWI. Durante anos, antes da crise de 2008, seus fundos renderam bem mais do que a média na base do risco: apostas nos mercados futuros correspondiam a 150% do patrimônio.
Com a quebra do banco Lehman Brothers, a volatilidade disparou e seus fundos perderam 94% em dias. Houve casos menos extremos, como o da Geração Futuro, que chegou a ter o fundo de ações mais rentável do mercado em 2007, mas passou a entregar retornos apenas medianos desde então.
“Todo mundo especula quanto tempo nossa boa performance vai durar”, diz Zagottis. Lidar com a turma que torce contra será parte de sua vida a partir de agora. Os tempos em que Zagottis se dava ao luxo de voar sob o radar ficaram para trás.