(Leandro Fonseca/Exame)
Luísa Granato
Publicado em 16 de setembro de 2021 às 05h26.
Última atualização em 17 de setembro de 2021 às 11h16.
Após duas décadas de estudos sobre a tendência do trabalho, a americana Tsedal Neeley, professora da prestigiada escola de negócios Harvard Business School, ficou surpresa ao ver como as empresas mundo afora seguiram funcionando bem durante a pandemia. Claro, sem levar em consideração alguns percalços aqui, outros ali, como conexões de Wi-Fi instáveis, filhos, pets ou obras de vizinhos atrapalhando a concentração, o home office saiu fortalecido na cultura de muitas empresas até então completamente avessas a esse modelo de organização do trabalho.
“E eu aprendi que, quando necessário, as pessoas mudam a forma de trabalhar e podem se manter criativas”, disse Neeley à EXAME. Boa parte das constatações de Neeley está em A Revolução do Trabalho Remoto, livro lançado em julho deste ano para reunir ensinamentos da gestão corporativa a ser tirados da pior crise sanitária da história moderna.
O que acontecerá no dia a dia das empresas daqui para a frente, num mundo já com vacinas eficazes no controle dos sintomas mais graves da covid-19 e, por isso, com negócios já começando a chamar os funcionários de volta ao escritório, ninguém sabe ao certo. Para a especialista da Harvard Business School, a mudança no trabalho durante a pandemia foi grande demais para simplesmente sumir agora que a circulação de pessoas está ficando mais ou menos segura.
Neeley está certa da permanência de algum tipo de trabalho remoto no cotidiano das empresas daqui para a frente — o chamado esquema “híbrido”. E, num cenário ainda com muitos pontos de interrogação — e se uma nova variante for resistente às vacinas? —, as lideranças corporativas serão mais importantes do que nunca para guiar as equipes no meio das incertezas.
A julgar pela vontade dos funcionários, a hora é de revolução profunda na gestão corporativa. Parte do desejo vem, justamente, da incerteza. De acordo com o estudo Reimagine Work, da consultoria McKinsey com mais de 5.000 profissionais do mundo todo, incluindo o Brasil, a falta de uma visão clara sobre o mundo pós-pandemia é uma fonte de preocupação e ansiedade para 47% dos entrevistados.
Mais forte do que o medo do futuro está a vontade de um trabalho com mais propósito: 52% dos profissionais demonstraram o desejo de um modelo de trabalho mais flexível, e 51% torcem para a chacoalhada geral causada pela quarentena servir de pretexto para culturas corporativas com mais espaço para um equilíbrio entre vida pessoal e trabalho.
Levando em consideração a popularidade de discussões como diversidade e saúde mental em corredores e conversas de Zoom, a sensação geral da mão de obra mundo afora é de que chegou a hora de dar voz às pessoas por trás de um negócio — e de a liderança escutar atentamente o que elas têm a dizer antes de tomar decisões. Em vez de gastar tempo e dinheiro com tecnologias ou processos impostos de cima para baixo, a solução dos problemas virá do processo de escutar o que vem do time, de um gerente experiente a um jovem dando os primeiros passos no mercado.
“A mudança pela qual os líderes precisam passar é entender que seu maior inimigo será o sentimento das pessoas de estarem ‘de fora’. As pessoas vão se conectar com o trabalho e com a companhia através do que o líder está falando, não importa o meio, seja ao vivo, seja por e-mail”, diz Neeley.
Com um cenário ainda incerto e expectativas da mão de obra lá em cima, como a liderança deve agir neste momento? Nesta edição, a EXAME traz 50 boas práticas de gestão de empresas com operação no Brasil. Algumas delas são herdadas do período mais bicudo da pandemia, outras são um pouco mais antigas. Todas servem de inspiração para a liderança daqui para a frente. A escolha partiu de sete dos principais especialistas em recursos humanos do país (leia as biografias abaixo).
Cada um indicou até dez empresas com lideranças comprometidas em montar equipes de excelência — e resultados financeiros idem. A reportagem da EXAME, então, selecionou 50 histórias levando em consideração o critério de urgência — o foco, aqui, foram as ideias de gestão com mais viabilidade de ser adotadas rapidamente no maior universo de empresas possíveis. Em seguida, a equipe de reportagem checou as informações repassadas pelo time de especialistas com cada um dos negócios indicados.
O resultado é o Guia para Liderança no Pós-Pandemia, dividido em cinco temas da ordem do dia de todo gestor: formação de mão de obra, construção de cultura organizacional, transformação digital dos negócios, políticas de inclusão e cuidados com a saúde mental. Como a inovação nunca vem sozinha, existiam diversos programas e iniciativas que poderiam ser destacados para cada companhia e tema. Então, foi feita uma seleção das maiores lições da empresa. São histórias como a da plataforma de bem-estar Gympass, que virou a chave de um aplicativo de academias para cobrir o bem-estar integral na pandemia — e cuja CEO, Priscila Siqueira, ilustra a capa desta edição. Num mundo acelerado, incerto e em transformação, as histórias vêm em boa hora.