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Por que a diversificação no exterior é uma das tendências do ano

Cada vez mais brasileiros escolhem ativos com exposição à economia global. Entenda o fenômeno e conheça os investimentos que mais crescem

Ações da Tesla dispararam 743% em 2020: brasileiro pode investir por meio de corretora nos EUA ou de BDRs no Brasil (Jason Reed/Reuters)

Ações da Tesla dispararam 743% em 2020: brasileiro pode investir por meio de corretora nos EUA ou de BDRs no Brasil (Jason Reed/Reuters)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 17 de dezembro de 2020 às 05h17.

Última atualização em 2 de janeiro de 2021 às 19h45.

O Brasil é um país de território continental, mas seu tamanho é pequeno no mercado de capitais: só 1% das empresas listadas no mundo está na B3. Isso significa que a imensa maioria dos investimentos em ações está fora do país, sem contar títulos de renda fixa, fundos e outros produtos. Isso não era um problema enquanto os investidores conseguiam retornos polpudos com alta liquidez e pouquíssimo risco na renda fixa com juros em dois dígitos por aqui.

Porém, com as taxas cada vez mais baixas, a falta de opções começou a pesar, e o que era incômodo virou atitude: o brasileiro passou a enxergar cada vez mais longe. E é esse apetite que deve impulsionar a tendência de novas fronteiras para o pequeno investidor.

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Uma das mudanças mais aguardadas para 2021 é a permissão para que fundos de investimento de varejo coloquem 100% de seus recursos em ativos no exterior. A mudança em estudo pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) permitirá aumentar a gama de possibilidades dos investidores “normais”, aqueles sem certificação técnica ou que possuem menos de 1 milhão de reais em aplicações financeiras.

“Ter ações internacionais na carteira é importante porque aumenta o grau de diversificação. Deveria ser uma opção para todos, independentemente do tamanho do investidor”, afirma Daniel Martins, CEO e diretor de investimentos da GeoCapital, gestora voltada para ativos no exterior. O interesse por produtos fora do Brasil já vinha crescendo desde que a Selic começou a cair em 2016, mas a pandemia trouxe novos e impensáveis patamares.

Em tempos de crise, os investidores correm para o mercado americano em busca não só de retorno como de segurança e proteção. Neste ano até novembro, o segmento de fundos de investimento no exterior aumentou seu patrimônio líquido em 100 bilhões de reais, ficando 20% acima do registrado no fim de 2019, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Em relação a 2016, a expansão foi de 125%. No mesmo período, os fundos de investimento em ações do exterior tiveram aumento de 483% de patrimônio.

“O brasileiro mudou de patamar e entendeu que seus investimentos não precisam ficar reféns de reformas, de declarações de ministro”, diz William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities, corretora pioneira em abrir as portas dos Estados Unidos para brasileiros do varejo.

Especialistas dizem que o investimento no exterior é uma tendência que veio para ficar e vai seguir forte, pelo menos, neste ano e em 2022, devido à taxa de juro baixa no Brasil. Nem mesmo fatores como a forte variação do câmbio devem surtir efeito impeditivo, uma vez que o investimento no exterior faz parte de uma estratégia de diversificação de longo prazo.

Em novembro, mês em que o dólar teve a maior queda mensal do ano, a B3 registrou crescimento recorde de investidores em ações estrangeiras negociadas por meio de Brazilian Depositary Receipts (BDRs). Impulsionado pela liberação do ativo para pequenos investidores, o número de pessoas físicas que investem em BDRs saltou 105%, para 97.454.

(Arte/Exame)

Mesmo quando os BDRs ainda eram exclusivas para investidores institucionais e qualificados, o interesse crescente do pequeno investidor já dava sinais por meio dos fundos de BDRs. Somente o da gestora Western Asset cresceu quase 3.000% em número de cotistas no ano passado, superando a barreira dos 100.000. Já o patrimônio líquido do fundo se tornou um dos maiores da indústria, passando de 384 milhões para 2,3 bilhões de reais sob gestão.

Parte desse crescimento se deu graças à rentabilidade de 60% no último ano. “Mesmo com volatilidade intensa e grandes incertezas no mundo todo, os investidores perceberam que precisam ir atrás de risco para rentabilizar o portfólio”, afirma Mauricio Lima, gestor da ­Western Asset. Com nomes de empresas familiares aos brasileiros, como Amazon, Apple, Netflix, Tesla e McDonald’s, a gama de BDRs listados na B3 já supera a de ações.

São 670 empresas estrangeiras listadas em forma de BDRs, ante cerca de 400 ações disponíveis na bolsa brasileira. Com as novas regras da CVM, que autorizaram a chegada de BDRs de ETFs, o pequeno investidor terá condições, em breve, de investir em uma cesta de empresas de diversos mercados fora do mundo rico, como os de Hong Kong, México e Taiwan. A viagem do investidor para fora está só começando.

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