A bioquímica americana Jennifer Doudna, da Universidade da Califórnia em Berkeley (Nick Otto/The Washington Post/Getty Images)
Flávia Furlan
Publicado em 16 de novembro de 2017 às 13h05.
Última atualização em 16 de novembro de 2017 às 13h09.
A curiosidade científica levou o ser humano a descobrir uma forma de editar sua herança genética. A bioquímica americana Jennifer Doudna, da Universidade da Califórnia em Berkeley, cientista que desenvolveu a tecnologia de edição de gene — em parceria com a microbiologista Emmanuelle Charpentier, do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano, da Alemanha —, diz que a técnica vai ajudar a tratar ou curar doenças. Certamente vamos viver mais com isso. Mas viveremos para sempre? “Não sabemos o suficiente sobre o genoma humano para responder com confiança a essa pergunta ainda”, diz.
Como ocorreu a criação da técnica de edição de genes?
Ela é resultado de um projeto científico básico sobre como as bactérias combatiam infecções virais. Eu comecei a estudar isso há dez anos, a pedido de uma colega da Universidade da Califórnia, em Berkeley. E fiquei fascinada por esse trabalho, que era bastante obscuro para a ciência. O resultado foi o estudo publicado em 2012 com a Emmanuelle Charpentier.
De que forma esse método pode curar defeitos genéticos?
O poder e a versatilidade dessa tecnologia abriram novas e amplas possibilidades para a biologia e para a medicina. Ela pode ser usada para criar novas terapias para tratar ou curar doenças genéticas. Experimentos recentes em ratos mostraram que ela pode corrigir mutações que causam doenças como fibrose cística e distrofia muscular. A tecnologia é especialmente promissora para tratar doen-ças que são causadas por pequenas mudanças de DNA, como a anemia falciforme. Ela também pode ser usada para permitir que outros organismos, como porcos, cultivem órgãos para ser transplantados para os seres humanos.
Existem outras aplicações dessa tecnologia?
Os pesquisadores de todo o mundo estão usando a técnica de edição de gene para desenvolver culturas resistentes a pestes na agricultura. Ela pode ser usada também para controlar a população de mosquitos, como os que transmitem doenças como a zika ou a malária.
Com tamanho avanço, estamos perto de saber se há um limite para a vida humana?
Não sabemos o suficiente sobre o genoma humano para responder com confiança ainda. O que sabemos é que tecnologias como a edição genética nos dão o poder de ajudar todas as espécies a viver mais.
Essa é a nova fronteira do conhecimento?
Vivemos em um mundo baseado em dados, e nossa capacidade de gerar, acessar, entender e aplicar essas informações significa que tecnologias inovadoras podem ser usadas de forma mais eficaz para manter, melhorar e proteger nosso planeta.