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“As cidades vão competir mais que as nações”, afirma Ydir Vissers

Ydir Vissers, sócio da consultoria Monitor Group, diz que o mundo está cada vez mais urbano e que, em pouco tempo, a influência dos prefeitos vai aumentar

Ydir Vissers, da monitor: “Em breve, veremos prefeitos no Fórum Econômico Mundial” (Divulgação)

Ydir Vissers, da monitor: “Em breve, veremos prefeitos no Fórum Econômico Mundial” (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 12 de abril de 2012 às 11h12.

São Paulo - A teoria da competitividade entre as nações inspirou muitos governos ao longo de décadas. Para o holandês Ydir Vissers, responsável pela área de competitividade da consultoria Monitor Group, é hora de fazer uma atualização. Em entrevista a EXAME, Vissers defendeu que a competição agora se dá entre cidades. 

1) EXAME - Por que o senhor diz que as cidades estão ganhando importância? 

Hoje, mais da metade da população mundial vive no meio urbano. Os talentos, a inovação e a geração de riqueza estão nas cidades. Quando uma empresa estuda onde se instalar, avalia uma cidade, sua mão de obra e seus fornecedores.

A briga não é somente entre países — Brasil e China, por exemplo. É entre São Paulo e Xangai. São Paulo até pode disputar com o Rio de Janeiro e outras capitais brasileiras para que os melhores talentos escolham viver lá. Mas os rivais mesmo estão no exterior. A briga é cada vez mais entre cidades.

2) EXAME - O que exatamente isso muda?

O prestígio das cidades vai aumentar. O debate sobre os temas locais vai ganhar mais espaço. Se você parar para pensar, as 40 cidades mais importantes do mundo repre­sentam uma grande proporção do PIB mundial, mas não são os prefeitos que estão no Fórum Econômico Mundial, em Davos, a cada começo de ano. Num prazo de cinco a dez anos, o poder dos prefeitos vai aumentar. 

3) EXAME - Onde essa maior importância já é mais clara?

O crescimento chinês acontece nas cidades. A China, por sinal, é um dos países que apresentam altas taxas de urbanização. O país precisa das cidades para manter seu crescimento. Isso explica a atenção que o governo dá à questão da criação de empregos urbanos. Ligado a isso, há, claro, a necessidade de manter a paz social. Sem os empregos urbanos, o número de protestos vai explodir.

4) EXAME - Essa questão é uma particularidade da China?

Não exatamente. A tão falada Primavera Árabe, a revolta popular que tomou conta de países do Oriente Médio desde o fim de 2010, tem relação direta com a falta de empregos entre os jovens. Por isso, as autoridades da Arábia Saudita, onde 60% da população tem cerca de 25 anos, estão empenhadas em criar postos de trabalho nas cidades.

5) EXAME - Esse é um fenômeno mais ligado a países emergentes?

Acredito que não. Nos Estados Unidos, por exemplo, fala-se muito sobre a necessidade de criar mais empregos industriais nas grandes cidades. Na tentativa de ser reeleito, é provável que o presidente Barack Obama pressione para incentivar a produção local. A Apple, que contrata fornecedores na China, já é alvo de críticas. 

6) EXAME - Como essa pressão será exercida?

Veremos mais governos mudarem a tributação para fazer com que as fábricas permaneçam instaladas em seus países de origem. Ou para que voltem.

7) EXAME - O senhor prevê o aumento do emprego industrial nos países ricos?

Os Estados Unidos e o Reino Unido se tornaram economias voláteis, porque estão baseadas em serviços. Quando o sistema financeiro entrou em colapso, todo mundo viu como isso pode ser um problema. Cada vaga no segmento industrial gera de dois a cinco empregos em outros setores.

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