Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann. Foto: Germano Lüders 30/03/2015 (Germano Lüders/Exame Hoje)
Rodrigo Caetano
Publicado em 16 de julho de 2020 às 06h00.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 11h58.
Entidade filantrópica criada pelo bilionário Jorge Paulo Lemann, a Fundação Lemann anunciou recentemente o apoio financeiro aos testes, no Brasil, de uma vacina para a covid-19 criada pela Universidade de Oxford, na Inglaterra. “Assim como na saúde, o Brasil prescindiu de uma coordenação nacional para combater os efeitos da pandemia na educação”, diz o advogado Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann há nove anos. Desde março, a ONG tem fechado parcerias com governos estaduais para garantir aulas virtuais a mais de 2 milhões de estudantes de escolas públicas. Na entrevista a seguir, Mizne conta os desafios da iniciativa.
Como a Fundação Lemann reagiu à pandemia?
Em 13 de março, uma sexta-feira, percebemos que ia parar tudo. Na segunda-feira seguinte, convocamos outras fundações e o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação [Consed]. A partir daí montamos um plano de ação. Todos os dias nos reunimos das 15 às 17 horas. Há muita disposição.
O plano de ação teve apoio do Ministério da Educação (MEC)?
No início, o MEC atuou na coordenação nacional. Estava, por exemplo, conduzindo negociações com operadoras de telefonia para viabilizar aulas online via celular. Depois saiu. Acho que foi uma opção do governo. Assim como na saúde, o Brasil prescindiu de uma coordenação nacional para combater os efeitos da pandemia na área de educação.
O que do plano já saiu do papel?
Na primeira etapa, montamos um sistema de ensino por meio do WhatsApp. Também fechamos parceria com o YouTube e com o Canal Futura para transmitir conteúdos educacionais. Na segunda etapa, apoiamos governos estaduais para criar suas aulas virtuais. Dos 2 milhões de professores brasileiros, 25% já adotam nossas soluções. O impacto alcança 2,2 milhões de alunos. A terceira etapa é garantir um retorno seguro às escolas.
O que esperar do retorno às aulas presenciais?
A fotografia é péssima. A evasão escolar chega a 40% dos alunos. Dos que terminam o ensino, 90% não aprendem quanto deveriam. O avanço é lento. Não sei como a produtividade brasileira vai crescer desse jeito. Agora há sinais de esperança. Há 20 anos, a evasão era muito maior. Nesta pandemia quebramos barreiras culturais que antes pareciam intransponíveis, como o uso em massa da tecnologia em sala de aula.