Por que o campeonato brasileiro de LoL vai adotar modelo de franquia
A Riot Games, desenvolvedora do jogo, anunciou que os times de League of Legends terão que se associar a uma liga para poder participar do CBLoL em 2021
Carolina Ingizza
Publicado em 28 de janeiro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 28 de janeiro de 2020 às 17h15.
Confirmando a expectativa do setor, a Riot Games anunciou semana passada que o Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLoL) vai adotar um modelo de liga em franquia em 2021. Ao longo deste ano, a empresa desenvolvedora do jogo irá definir os preços para os times se associarem e avaliar os candidatos.
Com uma liga fechada, o CBLoL vai operar de modo semelhante às ligas de basquete e futebol americano dos Estados Unidos. Os times participantes compram a entrada e não saem do campeonato a menos que fechem suas operações ou vendam suas vagas para terceiros.
Outros campeonatos de LoL ao redor do mundo já adotam o modelo. China e América do Norte foram as regiões pioneiras, implementando o sistema no campeonato de 2018. Na sequência, em 2019, foi a vez dos torneios da Europa e Turquia adotarem o esquema de franquias.
Para os times, a liga fechada garante uma segurança para a realização de investimentos a longo prazo. Sabendo que vai ficar anos na “série A” do campeonato, um time pode se sentir mais confiante para investir em infraestrutura, contratar jogadores juniores e treiná-los.
A certeza da permanência no torneio por anos também dá vantagem aos times durante negociação de contratos com patrocinadores.
“Hoje as receitas com publicidade caem com o rebaixamento. Com as franquias, as equipes terão um fluxo contínuo de receita”, comenta André Sica, sócio do CSMV Advogados, escritório especializado em e-sports. Para o especialista, o sistema de franquias vai propiciar uma maior estabilidade de trabalho para os times.
Com isso, a tendência é a profissionalização do ecossistema de LoL no Brasil. Os times ganharão investidores, e a verba de publicidade patrocinando o campeonato e as equipes deve aumentar. “Os times pensarão mais como sócios e menos como competidores, seu objetivo comum será melhorar a competição e o espetáculo”, afirma o advogado.
A ressalva, para o especialista, é que a liga de sócios irá inevitavelmente fechar o mercado. “Menos times poderão entrar no torneio, a menos que comprem uma vaga no futuro”, diz.
Fim do circuito desafiante?
Atualmente, o campeonato é dividido em duas séries. Na primeira, que é o CBLoL, disputam oito times — classificados por critérios esportivos. O último colocado é rebaixado para o circuito desafiante da competição, que conta com seis times; em contrapartida, o primeiro colocado da série B sobe ao primeiro patamar.
Para entrar na segunda divisão do torneio, há classificatórias abertas para todos os times do país. Cerca de 400 equipes disputam durante o ano para tentar conquistar o local do time pior classificado do circuito desafiante.
Com o novo modelo de liga de associados, deixa de existir o propósito da “série B”. Carlos Antunes, diretor de e-Sports da Riot Games no Brasil, conta que a empresa não quer deixar de incentivar novos jogadores no país. Por isso, a companhia vai adotar um modelo de em que todos os times da liga principal mantêm um segundo time.
A partir de 2021, então, haverá a transmissão dos jogos disputados entre os times alternativos da liga principal. A empresa espera, com essa liga batizada de academy, incentivar o cenário de e-sports nacional e garantir que os fãs tenham a mesma quantidade de conteúdo para consumir durante o ano.
O futuro do CBLoL
A Riot irá anunciar ao longo do ano quantos times participarão do CBLoL a partir de 2021 e quanto custará para fazer parte da liga. A empresa diz que vai avaliar, além da capacidade esportiva e financeira para a compra da participação, o quanto os times estão preparados financeiramente para fazer investimentos contínuos ao longo dos anos.
“Todos esses pontos específicos vão ser explicados ao longo dos meses. Vamos ser transparentes para que o mercado e a nossa comunidade saiba como o processo funciona”, diz Antunes.
Nos Estados Unidos, onde o modelo já é usado, 10 times disputavam o campeonato antes das franquias e seguiram sendo 10 equipes no modelo atual. Por lá, cada vaga custou 10 milhões de dólares de investimento. Times já consagrados no segmento norte-americano, como Liquid e Echo Fox, permaneceram no sistema de franquias.
A novidade foi que times tradicionais de esportes entraram para a liga. O time de basquete Houston Rockets entrou na liga norte-americana de LoL com o Clutch Gaming. As equipes Cleveland Cavaliers e Golden State Warriors, também do basquete, compraram a sociedade na liga de e-sports com o 100 Thieves e com o Golden Guardians, respectivamente.
Na Europa, também são dez times e cada vaga custou aproximadamente 8 milhões de euros. No Brasil, a tendência é que o tíquete de entrada seja mais barato, na casa dos dois a quatro milhões de reais, segundo apurou EXAME.
Antunes acredita que com a profissionalização do LoL pelo modelo de franquias no Brasil, mais times de esportes tradicionais optem por investir no CBLoL. Flamengo e Santos, por exemplo, já têm times disputando o campeonato brasileiro e o circuito desafiante.
“Na hora que o CBLoL faz um movimento comprovando ao mercado que e-sports é um negócio sustentável, times maiores e grandes marcas se sentirão mais seguros em investir no segmento”, diz o diretor da Riot Brasil.
Mercado de e-sports
Globalmente, o mercado de e-sports faturou 1,1 bilhão de dólares em 2019, segundo dados da Newzoo, agência de marketing especializada na categoria. O Brasil é o terceiro maior mercado de esportes eletrônicos no mundo, com 9,2 milhões de entusiastas.
No continente americano, o faturamento da categoria foi de 441 milhões de dólares no ano passado, 32 milhões só na América Latina. Na região, 45 milhões de pessoas por ano veem e-sports. No mundo, são 443 milhões de pessoas e a previsão é que sejam 495 milhões de espectadores no final de 2020.
Entre a audiência que consome conteúdo em português e espanhol, o jogo League of Legends teve o maior número de horas assistidas na plataforma de streaming Twitch no primeiro semestre de 2019: 83,3 milhões de horas. A segunda modalidade mais vista foi Counter-Strike: Global Offensive.
De acordo com a Riot, o CBLoL é uma das suas maiores audiências globais, alcançando 5 milhões de espectadores únicos por ano. A liga brasileira só perde em audiência para os torneios da China, EUA, Europa e Coreia do Sul.
Antunes ressalta que todas essas ligas transmitem os jogos em inglês, atingindo um público mundial, enquanto no Brasil, a maioria das visualizações são nacionais.
Em número de parceiros grandes, a liga brasileira também se destaca. Em 2019, marcas como Red Bull, Gillette e Dell patrocinaram o campeonato. A expectativa é que, com o novo modelo, parcerias assim se intensifiquem em 2021.