Pegaki: o e-commerce vai tirar você de casa
Com estratégia para reduzir custos de frete, startup credencia pequenos comércios ou redes de lojas para receber produtos comprados online
Da Redação
Publicado em 12 de abril de 2018 às 18h29.
Última atualização em 12 de abril de 2018 às 20h26.
O varejo online pode até ser o futuro, mas funciona muito melhor em lugares menos comprometidos com o passado. A Índia é um exemplo limite. Para ganhar terreno no país, conhecido pela infraestrutura precária, grandes varejistas como a americana Amazon e a local Flipkart fecharam parcerias com as pequenas lojas de bairro, as kiranas, que vendem um pouco de tudo. Elas foram transformadas em pontos de retirada dos produtos comprados na internet. A questão melhorou a logística final da entrega, ajudou os pequenos negócios a sobreviver e agradou o governo, que temia pela extinção das Kiranas e falava em fortes regulações.
Em termos de infraestrutura, o Brasil está mais para a Índia do que para a Bélgica. Na tentativa de integrar melhor a cadeia logística e reduzir custos de varejistas e transportadoras, o empresário João Cristofolini fundou no final de 2016, com Ismael Costa e Daniel Frantz, a startup Pegaki. O nome é infame, mas o objetivo é nobre: criar uma rede de pontos de retirada de mercadorias, eliminando assim uma das grandes deficiências do varejo eletrônico no país.
A Pegaki credencia pequenos comércios ou redes de lojas a receber produtos comprados online. A ideia, que já existe na Europa e nos Estados Unidos há décadas, chega ao Brasil para tentar melhorar a experiência de compra para todos os envolvidos. O usuário teria custos de frete reduzidos e não mais precisaria ter alguém em casa para receber o produto; as transportadoras cortam seus custos; os varejistas reduzem a complicação logística e podem oferecer produtos por preços menores; os lojistas e comerciantes ganham maior volume de pessoas e divulgação.
Segundo João Cristofolini, presidente da empresa, as estimativas da Pegaki apontam que hoje cerca de 20% das entregas já são retiradas em pontos físicos no Brasil, principalmente em lojas das varejistas que têm também o e-commerce, como Magazine Luiza ou Ponto Frio. Em mercados onde o modelo de entrega em pontos é mais desenvolvido, como nos Estados Unidos, essa margem chega a 40%. “Nosso objetivo é elevar essa margem para algo em torno de 30%. Atualmente temos 100 pontos em São Paulo e Rio de Janeiro e já negociamos a abertura de outros 1.000 pontos de recebimento nessas cidades”, afirma Cristofolini.
Além de pequenos negócios, a Pegaki tem parcerias com redes como as lavanderias 5àsec, os supermercados Carrefour e os hotéis Accor, que já têm algumas unidades cadastradas como pontos para recebimento. Os locais de retirada recebem da Pegaki pelo credenciamento e ganham fluxo de pessoas. Os varejistas de pequeno e médio porte pagam uma taxa média de 2,50 reais por produto para a Pegaki, que cobre o custo de manutenção da compra por 7 dias e também o seguro da mercadoria. As varejistas maiores trabalham junto das transportadoras e têm modelo de contratação negociado por produto, caso a caso.
A Pegaki, criada em Joinville (SC), surgiu inicialmente com a necessidade atender à demanda de um dos sócios, Daniel Frantz, que tinha um e-commerce e muitos problemas para lidar com insucesso de entregas e a logística reversa de devoluções. “Nós começamos a procurar soluções e acabamos vendo várias iniciativas e alternativas para o problema lá fora. Depois a ideia foi crescendo, fomos selecionados pela aceleradora Cotidiano e fizemos uma primeira rodada de captação”, diz.
Sem fricção
Com um ano de operação, a Pegaki ainda não dá lucro, mas cresceu mais do que o esperado na visão dos diretores, principalmente em termos de parcerias: além das redes onde a retirada é feita, a companhia já fechou negócios com a Dafiti, o maior varejo online de moda da América Latina. Entre as transportadoras, já há uma parceria com a Transfolha, empresa de logística e distribuição do Grupo Folha. Outros nomes do varejo digital estão sob análise.
Só com a Dafiti, a estimativa é que sejam entregues 1.000 encomendas por dia nos 13 pontos parceiros escolhidos pela varejista em São Paulo. “Nós identificamos que a entrega e a devolução de produtos eram as partes inconvenientes da experiência do usuário na Dafiti, o que vai de encontro à conveniência que tentamos oferecer. A parceria com a Pegaki foi uma das soluções que encontramos para retirar fricção do processo de compra e torná-lo mais agradável”, afirma Malte Huffmann, vice-presidente de marketing e fundador da Dafiti.
Para Gastão Mattos, fundador da consultoria Gmattos, especializada em negócios digitais e e-commerce, este é um mercado com grande possibilidade de crescimento. “Nos Estados Unidos, o modelo de retirada em pontos faz muito sentido para reduzir os custos de frete. Por aqui nós ainda temos a questão da infraestrutura e da segurança. Há muitos lugares e CEPs onde transportadoras e até os Correios se negam a fazer entregas”, diz. Segundo ele, o custo da “última milha” pode chegar a 15% do valor do produto comprado, o que é bastante em um mercado que trabalha com lucros, muitas vezes, de um dígito. “As limitações logísticas não podem limitar o crescimento do setor”, afirma.
A consolidação de várias entregas em um único ponto diminui entre 5% e 15% o valor gasto com a logística para entregar em vários lugares, de acordo com estimativas da Transfolha — em mercados mais desenvolvidos, a economia pode chegar a 30%. O consumidor não reclama: segundo pesquisa realizada pela transportadora Total Express, do Grupo Abril, em conjunto com a consultoria Wayra, 29% dos entrevistados, todos consumidores finais, gostariam de contar com a opção de retirar suas encomendas em pontos fixos.
Segundo Alexandre Felix, diretor da Transfolha, o modelo de armários, ou lockers, requer um investimento em infraestrutura maior e por isso tem um retorno de longo prazo, enquanto que o modelo da Pegaki, de credenciamento de pontos, tem um investimento menor. “Há uma demanda dos consumidores e nós estávamos de olho nesse tipo de solução há alguns anos, mas somos uma empresa tradicional e é mais difícil implementar inovações. A parceria com a Pegaki foi essencial”, diz.
Ao que tudo indica, o próximo passo do comércio digital é tirar o consumidor de casa.