Os planos da InLoco após a venda do braço de publicidade para o Magalu
O Magazine Luiza comprou, na semana passada, o Canaltech e a Inloco Media, unidade de negócio da startup criada em 2014
Carolina Ingizza
Publicado em 11 de agosto de 2020 às 14h53.
Última atualização em 11 de agosto de 2020 às 19h02.
Os últimos cinco meses foram agitados para a startup brasileira Inloco . Logo no começo da pandemia do novo coronavírus , a empresa aplicou sua tecnologia de geolocalização para medir o nível de isolamento social nas cidades brasileiras. A repercussão do serviço lhe rendeu 15 milhões de novos usuários em março e abril. Agora, em agosto, a empresa volta aos holofotes ao vender seu braço de publicidade baseada em geolocalização, a plataforma Inloco Media, para a varejista Magazine Luiza.
Além da tecnologia, 12 funcionários da startup vão trabalhar agora para a divisão de publicidade digital da empresa, o MagaluAds. A venda não é sinal de crise para a Inloco. André Ferraz, presidente e fundador da startup disse, em entrevista à EXAME, que desligar a unidade de negócio faz parte de um movimento para a empresa investir nos produtos de marketing, prevenção à fraude e geolocalização.
Publicidade transitória
A Inloco nasceu de um projeto de ciência da computação da Universidade Federal de Pernambuco, em Recife. O fundador da companhia estava empenhado em criar ferramentas que permitissem a "internet das coisas", modelo em que os dispositivos pessoais estariam conectados entre si e realizando tarefas de forma autônoma. Com isso, seria possível, por exemplo, chegar em casa e o forno estar pré-aquecido e o ar-condicionado estar ligado.
Para que esse cenário seja verdade, é necessário ter tecnologias de geolocalização precisas, que funcionem bem dentro de ambientes fechados, assim como ferramentas de segurança digital. Afinal, ninguém quer correr o risco de ter a própria casa hackeada. A Inloco nasceu para criar essas infraestruturas. Para poder financiar suas pesquisas, a startup precisou abraçar outros mercados, como a publicidade. A estratégia deu certo. Em 2016, a Inloco Media já era avaliada em 50 milhões de reais e tinha escritórios em Nova York, Berlim e Londres.
“Apesar de gerar lucro, a publicidade sempre foi vista por nós como um negócio transitório”, diz Ferraz. Por isso, quando o Magazine Luiza, que era cliente da ferramenta de mídia há alguns anos, demonstrou interesse em oferecer o produto para o seu marketplace, a startup decidiu que era hora de vendê-lo.
Nova aposta
O dinheiro da venda, de valor não revelado, será investido pela Inloco na sua ferramenta de identidade digital, que ajuda a prevenir fraudes em transações online. “O mercado agora é viável e foi acelerado pela covid-19. Temos visto quantas fraudes, clonagens e invasões de contas estão acontecendo no mundo digital”, diz Ferraz.
A tecnologia começou a ser construída com o aporte de 20 milhões de dólares que a empresa recebeu em junho de 2019, liderado pelo fundo americano Valor Capital e pelo brasileiro Unbox Capital, da família controladora do Magazine Luiza.
A identidade digital criada pela Inloco foi pensada para substituir a necessidade de login e senha para autenticar pessoas. Os SMS ou e-mails de confirmação também seriam descartados pela solução. Ela mapeia o comportamento do usuário no smartphone e cria uma identidade com base no seu padrão único de geolocalização. Hoje, as empresas que utilizam a ferramenta ainda precisam exigir senhas, mas, aos poucos, a ideia é que as etapas tradicionais sejam eliminadas. A cada cliente protegido, a startup ganha alguns centavos.
Lançado ao público no começo do ano, o produto já tem clientes no mercado financeiro e de e-commerce. Para melhorá-lo, a empresa irá investir 85% dos seus recursos e espera que ele represente de 70% a 80% do seu faturamento até o final do ano. As duas outras frentes de negócio, de marketing para engajamento online e de inteligência para geolocalização, continuam funcionando.
A projeção da startup é de que a saída da receita de publicidade resulte em um faturamento em 2020 igual ao de 2019. A base de usuários, por outro lado, deve crescer 50% em relação ao ano passado. Segundo Ferraz, o maior objetivo de 2020, que era construir um time comercial forte nos Estados Unidos, já se concretizou.
Em 2021, a ambição aumenta. O fundador que transformar a startup em um player global e aposta no pioneirismo de sua solução antifraude para isso. “Queremos consolidar nossa posição como referência na categoria de solução que estamos criando”, diz Ferraz.