O segredo desta startup para capacitar profissionais em falta no mercado
Fórmula da Awari, que cresceu mais de 1.000% em um ano, é apostar na mentoria de pessoas do mercado para atrair estudantes de tecnologia
Victor Sena
Publicado em 12 de abril de 2021 às 16h24.
Última atualização em 13 de abril de 2021 às 15h31.
Mentoria individual, cases do mercado e suporte de carreira é o segredo por trás da metodologia de educação da startup Awari, que oferece cursos digitais para a área de tecnologia e aposta neste formato para diminuir o famigerado déficit de profissionais de Tecnologia de Informação, que deve chegar a 260 mil no Brasil nos próximos anos.
Os cursos da escola digital são voltados para três áreas que foram diagnosticadas como as que mais têm precisado de profissionais: produto e design, desenvolvimento e negócios.
Com a pandemia e a digitalização forçada da economia, o número de vagas para profissionais de tecnologia tem disparado no Brasil.
“Ao mesmo tempo em que isso acontece, a taxa de desemprego no país continua alta. Então, tem uma lacuna. Nosso trabalho é diminuir essa lacuna e qualificar as pessoas para o mercado. Quando a gente olha para as vagas abertas no mercado de tecnologia, a maior parte são dentro de três verticais: desenvolvimento, business e design”, explica Fábio Muniz, CEO e fundador da empresa.
Com apenas um ano no mercado, a startup aposta em nomes fortes na mentoria para fortalecer a marca e atrair novos alunos.
Assim, a estratégia de mentoria é totalmente alinhada ao plano de negócios da empresa, que recebeu no último ano 2,2 milhões de aporte de investidores anjos.
“Tem uma concorrência no mercado e não tem como fugir disso. Até pela natureza do mercado de educação. O nome da instituição traz força. A gente tem construído isso com os alunos, trabalhado o nome Awari, que não existe, mas existe a confiança dos mentores. A pessoa pode não conhecer a Awari, mas aí vê que tem o mentor da Nubank, da Loft, do Quinto Andar…Aí ela pensa em dar uma olhada. E a gente constrói a partir daí a confiança”, explica Muniz.
O formato com mentores também ajuda a manter o conteúdo dos cursos atualizado, segundo o fundador. Assim, evita-se a defasagem, que é um risco que ronda o mercado de educação em tecnologia, ao se levar em conta a velocidade com que novas ferramentas e habilidade são exigidas..
Outro benefício da mentoria é que aumenta a eficiência do processo de aprendizagem porque o estudante não “perde tempo” apostando em um caminho de estudo que pode não ser o melhor. Assim, evita a “fricção” no processo, nas palavras de Fábio Muniz.
Fábio Muniz criou a empresa em 2018, a partir de cursos individuais que oferecia na área de design. A decisão de começar a ensinar, que logo depois gerou a empresa, aconteceu a partir do momento que encontrou dificuldades para encontrar profissionais de design em 2016 quando foi contratado para montar uma equipe.
Com a demanda forte por profissionais de tecnologia e o fortalecimento do ensino à distância na pandemia, o modelo da empresa deu certo.
Com apenas um ano, a Awari saltou de um rendimento 12 para 410 mil reais por mês, tem 1.180 alunos e 270 mentores.
Por trás do sucesso de empresas de cursos livres, também está uma mudança de paradigmas no setor de educação, na visão do fundador.
As empresas têm valorizado menos a necessidade de um diploma de curso superior, e mais a real habilidade do profissional e cursos livres.
“A gente vem observando uma tendência do mercado que consome produtos educacionais de olhar cada vez mais para o retorno do investimento. Isso não fazia parte da jornada de compra de educação no país, por motivos como acesso à crédito. Cada vez mais a avaliação para investir é pensando no retorno, no mercado de trabalho. Por conta desse tipo de avaliação do consumidor, as empresas pararam de olhar para as qualificações tradicionais”, opina Fábio. “Com essas duas tendências, temos cursos mais livres com mais importância no processo de formação. Hoje, eles entram muito como transição de carreira ou como próximo passo na Awari. Nos próximos 10 anos, a tendência é que eles substituam as formações de faculdade.”
Empresas como a IBM e a Microsoft já flexibilizaram a exigência do diploma do ensino superior. O Google criou no último ano sua própria “universidade”, com cursos rápidos, e aceitará aquela formação em vez da tradicional Ciências da Computação.
Além das três atuais trilhas, que têm cursos individuais de User Experience, Data Science e Growth Marketing, a empresa pretende apostar em outras lacunas do setor de tecnologia, como o de vendas e o de segurança de dados.
“A longo prazo, a gente acredita que o modelo de ensino que trabalha com mentoria individual, cases reais e suporte de carreira em seis oito meses possam funcionar em diversas outras áreas”, diz Fábio.