O próximo passo da tecnologia em escritórios: vigiar passos do funcionário
A Euclid ajuda negócios a entenderem como os empregados usam o ambiente de trabalho. Startup de análise espacial acabou de ser comprada pela gigante WeWork
Mariana Fonseca
Publicado em 22 de fevereiro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2019 às 06h00.
Se há uma empresa que levanta a bandeira do ambiente de trabalho do futuro, ela é a WeWork . A gigante, que está entre imobiliária de coworkings e startup, realizou uma aquisição que mostra seu palpite sobre como serão os escritórios daqui para a frente -- de olho nos passos que seus funcionários dão, literalmente.
Essa é a proposta da Euclid, uma startup de análise espacial com 24 funcionários localizada em São Francisco (Estados Unidos). A compra do negócio foi divulgada pela WeWork no começo do mês, com valores não divulgados.
Para a WeWork, a Euclid analisará como os funcionários usam seus espaços de coworking e dará dados relevantes às empresas que se estabelecem nos imóveis da gigante ou querem ser como ela, tornando tais negócios mais produtivos. Mas a forma com que a startup opera pode assustar empregados desavisados.
Por onde você anda?
A Euclid possui uma tecnologia própria para entender como empregados andam pelos escritórios. O negócio usa de sinais de Wi-Fi enviados a smartphones para monitorar os passos dos frequentadores de um espaço, sem a necessidade de instalar equipamentos adicionais.
Em uma reunião, por exemplo, a Euclid consegue medir quantas pessoas compareceram. Comparando quantas pessoas estiveram em um happy hour à tarde ou de noite, uma empresa poderia verificar a melhor hora para reunir seus empregados. Isso eliminaria espaços com poucos visitantes, diminuindo custos fixos das empresas.
Nem tudo são flores, porém. A tecnologia da startup levanta preocupações de vigilância individual dos funcionários. O chefe de produtos Shiva Rajaraman não negou essa possibilidade ao site de tecnologia TechCrunch, mas disse que esse não é o foco no momento e que a WeWork está “olhando para um nível agregado de dados para entender como o espaço está sendo usado”.
Identificados ou não, a vigilância é um fato e pode incomodar alguns empregados. O que não impediu a Euclid de conquistar investidores. A startup captou um total de 43,6 milhões de dólares em investimentos, fora o valor pago recentemente pela WeWork.
Segundo Rajaraman, o primeiro passo é testar a Euclid nos próprios coworkings da WeWork, em regiões como São Francisco, Nova York (Estados Unidos), Xangai (China) e Tel Aviv (Israel). Depois, a Euclid será integrada a um pacote de análise, a ser vendido para companhias que querem dar uma cara de WeWork aos seus escritórios.
Alguns negócios atendidos pelo WeWork hoje são Amazon, Airbnb, Facebook, Microsoft e Starbucks. No Brasil, negócios como Cielo, Claro, Riachuelo e Porto Seguro estão nos coworkings da gigante.
O futuro dos escritórios está no software
Cada vez mais linhas de código mudarão o ambiente de trabalho -- um movimento que, ao menos na WeWork, já começou há algum tempo. O negócio adquiriu há seis meses a startup Teem, que possui um sistema de administração de escritórios. De acordo com o TechCrunch, a compra custou 100 milhões de dólares à gigante. A Euclid é a primeira aquisição da WeWork em 2019, após quatro compras de empresas no ano passado e outras cinco em 2017.
A WeWork defende que seu processo de reforma e decoração possui muita estratégia e tecnologia envolvida, reduzindo despesas operacionais de seus clientes maiores entre 25 a 50%. Com a aquisição de tantos sistemas, a empresa de coworkings aprimora sua oferta aos residentes.
O valor é percebido especialmente para os grandes clientes da WeWork, que representam cerca de 30% dos seus ganhos e se beneficiam mais da escalabilidade que a tecnologia proporciona, aumentando produtividade e cortando despesas.
Cortando, inclusive, passos em falso dos funcionários.