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A Snow Business ganha dinheiro com nevasca de mentirinha

A inglesa Snow Business — que começou a fabricar neve artificial para a produção de filmes há 30 anos — deverá faturar quase 50 milhões de dólares em 2014 impulsionada pelas vendas online de iglus e bonequinhos de gelo

Darcey Crownshaw, da Snow Business: "Contratei designers e paisagistas para elaborar projetos de decoração para vitrines de lojas. Hoje não vendemos só produtos mas também serviços" (Gemma Day / Divulgação)

Darcey Crownshaw, da Snow Business: "Contratei designers e paisagistas para elaborar projetos de decoração para vitrines de lojas. Hoje não vendemos só produtos mas também serviços" (Gemma Day / Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 3 de julho de 2014 às 13h38.

São Paulo - O físico inglês Darcey Crownshaw, de 60 anos, sente um orgulho danado quando assiste a filmes como O Curioso Caso de Benjamin Button, Gladiador e a sequência sobre as aventuras do bruxinho Harry Potter. Ele é o fundador da Snow Business, empresa que fabrica a neve artificial utilizada nessas megaproduções.

Além da indústria cinematográfica, a Snow Business fornece neve de mentirinha para produtoras de séries de televisão e agências publicitárias que criam os comerciais de empresas como a montadora Mercedes-Benz e a companhia aérea irlandesa Aer Lingus. Em 2014, a Snow Business deverá faturar quase 50 milhões de dólares, 16% mais do que no ano passado.

Crownshaw teve a ideia de criar a Snow Business em 1983, quando ainda trabalhava numa distribuidora de papel em Sheffield, sua cidade natal. Na época, ele vendeu uma carga com 3 toneladas de tiras de papel escuro para uma produtora que filmava a minissérie Os Últimos Dias de Pompeia, tendo como base o livro do inglês Edward Bulwer-Lytton.

A papelada foi usada para reproduzir as cinzas liberadas pela erupção do Vulcão Vesúvio, que devastou a cidade italiana de Pompeia no ano de 79. Tempos depois, a mesma produtora fez uma nova encomenda — dessa vez o pedido era de papel branco picado, que seria utilizado para filmar uma cena de nevasca num filme para televisão.

“Comecei a perceber que havia espaço para uma empresa que atendesse apenas a indústria do cinema”, disse Crownshaw em entrevista a Exame PME. “Pesquisei esse mercado e decidi pedir demissão para criar uma empresa de neve artificial, que é um produto usado com muita frequência nas filmagens.”

A Snow Business surgiu num momento de mudanças. Até então, a neve artificial usada nos filmes era feita de um tipo de isopor que demora mais de 50 anos para se decompor. “Era cada vez maior a pressão dos estúdios para que seus fornecedores trabalhassem com materiais menos agressivos”, diz Crown­shaw.

A Snow Business, que fabricava só neve de papel, começou a se destacar entre os concorrentes. “Criamos neve de papel reciclável e nos posicionamos como uma empresa sustentável.” Na década de 90, a Snow Business começou a usar neve à base de batata e arroz. “Foi uma novidade e tanto”, afirma Crownshaw. “Dependendo do lugar onde é usada, a neve nem precisa ser recolhida, pois funciona como adubo.”

As inovações permitiram à Snow Business entrar para a lista de fornecedores dos estúdios responsáveis pela produção de grandes sucessos de bilheteria.

No portfólio da empresa estão filmes como a adaptação de 2005 de A Fantástica Fábrica de Chocolate, em que o ator americano Johnny Depp vive o personagem Willy Wonka, a comédia romântica O Diário de Bridget Jones, com a vencedora do Oscar Renée Zellweger, e as adaptações dos livros infantis As Crônicas de Nárnia.

Hoje, Crownshaw conta com orgulho dos filmes para os quais forneceu — mas, no fim da década de 90, isso chegou a ser um problema. Nessa época, a Snow Business não conseguia atender mais do que três grandes projetos por ano. “A dependência de poucos contratos era muito grande, o que aumentava bastante o risco da operação”, diz Crownshaw.

Essa preocupação foi o que fez a Snow Business chegar ao ano 2000 de cara nova. Crown­shaw começou a criar áreas específicas para atender clientes cuja demanda é mais recorrente — como estúdios de filmes publicitários e produtores de eventos como festas corporativas e casamentos.

De acordo com a consultoria PwC, só o mercado de entretenimento — que inclui as indústrias cinematográfica e de eventos — move mais de 1 bilhão de dólares por ano em países como Estados Unidos, Inglaterra, França e Japão. Nos emergentes, como Rússia e África do Sul, o mercado cresce em média 10% ao ano.

Para aproveitar esse potencial, a Snow Business mantém uma rede de representantes espalhada por 30 países. “É para atender nossos clientes com mais atenção”, diz Crownshaw. “Queremos aproveitar a demanda em países onde a concorrência ainda é baixa.”

Há seis anos, a Snow Business estreou um novo canal de vendas — o comércio eletrônico. Entre os produtos à venda no site estão objetos de decoração, como iglus e bonequinhos de gelo, sacos de neve artificial e produtos biodegradáveis utilizados na limpeza de tudo isso.

No ano passado, a loja online representou 7% das receitas da empresa. Em 2011, Crownshaw também contratou uma equipe de designers e paisagistas para elaborar projetos de decoração para vitrines de lojas de brinquedos e de roupas. Trata-se de um esforço para que a Snow Business aumente sua rentabilidade nos próximos anos.

“Em vez de vender só neve, agora também queremos prestar serviços”, diz Crownshaw. “Os projetos de decoração chegam a ser 30% mais rentáveis do que os contratos de venda aos quais estamos acostumados.”

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