As produtoras Karina de Oliveira Vicari Sarri e Maria Creusa Sarri criaram uma página no Facebook e outras redes sociais para vender hortaliças (Pierre Duarte/Plus Images/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 5 de março de 2022 às 10h00.
Última atualização em 7 de março de 2022 às 10h51.
Por Jornal de Negócios do Sebrae-SP
Antes da pandemia, a produção do Sítio Ipê, localizado em Morro Agudo, era vendida em duas feiras na cidade e para dois estabelecimentos. Com a horta lotada de verduras, em março de 2020, a notícia de que seria necessário fechar os locais de venda trouxe muita preocupação para a família Sarri, dona do sítio. Mais acostumada com a tecnologia, Karina Sarri tomou a frente da situação e ajudou o marido e os sogros na digitalização: fez cadastro de clientes para criar um grupo no WhatsApp, elaborou uma logomarca para negócio e montou um perfil no Facebook.
Hoje, dois anos depois, o sítio tem, em média, 170 clientes no grupo de WhatsApp e conseguiu mais oito clientes fixos, entre pizzaria, lanchonete e supermercado. A família Sarri faz parte de um grupo de pequenos produtores rurais que precisou marcar presença no mundo digital para manter as vendas e sobreviver na crise.
Atualmente, 68% dos produtores rurais comercializam via redes sociais, aplicativos ou internet, segundo a 13ª edição da pesquisa “O impacto da pandemia nos pequenos negócios”, realizada pelo Sebrae. Em maio de 2020, esse índice era de 58%. O destaque é para o WhatsApp, com adesão de 96% dos produtores, seguido do Instagram (58%) e Facebook (41%).
Na avaliação do consultor do Sebrae-SP Luiz Felipe Cavallari, um dos principais desafios que os produtores enfrentaram para fazer a digitalização foi conhecer a operacionalização das ferramentas, ou seja, entender o que realmente WhatsApp, Facebook e Instagram, entre outras redes sociais, oferecem e como o seu uso pode ser convertido em vendas.
“Tudo que é novo e desconhecido causa, em um primeiro momento, medo e receio. Os empreendedores estão quebrando essa barreira e começando entender como as mídias sociais e os canais digitais podem favorecer seu pequeno negócio e aumentar a competitividade e produtividade, que antes era restrita a grandes empresas”, destaca.
No Sítio Ipê, as entregas são feitas em três dias da semana. Karina e a sogra, Creusa, se organizam para receber os pedidos, embalar e fazer a distribuição. O sistema deu tão certo que a família participa da feira apenas em um dia da semana e vende o restante da produção para os clientes já cadastrados.
“Não podemos ficar de braços cruzados esperando a oportunidade. Nós que temos de correr atrás”, afirma Karina, que recebe mensagens diariamente de pessoas em busca de informações para compra de produtos. Karina também se organiza para postar fotos e vídeos no Instagram, além de produzir conteúdo para o TikTok com os alimentos disponíveis na semana.
“O marketing é fundamental”, completa a empreendedora, que recebe, inclusive, mensagens de moradores de outras cidades da região interessados nas hortaliças, legumes, verduras e frutas.
O Facebook e o WhatsApp são as plataformas escolhidas pelo produtor João Roberto Pina, de Jaborandi, para vender a produção de hortaliças. Ele cultiva as hortas em três terrenos na cidade e se organiza para cuidar da plantação, receber os pedidos e realizar as entregas durante a semana. A dinâmica é: ele posta os alimentos disponíveis no dia, recebe os pedidos e realiza as entregas. Alguns clientes até passam nos terrenos para fazer as compras.
Ele costuma usar o status do WhatsApp para informar os contatos sobre as novidades do dia e logo começa a receber os pedidos. “Consegui muitos clientes pela quantidade e qualidade dos produtos. Muitas pessoas passaram a comprar da horta em busca de alimentos frescos”, conta.
Para 2022, o produtor espera um ano promissor. “Com a pandemia, recebi apoio do Sebrae, resolvi me formalizar e estou me organizando para aumentar meus canais de venda e começar a fornecer para a prefeitura”, afirma Pina, que também firmou uma parceria com a Cooperativa de Produtores Rurais de Barretos e Região (Coopbar).
Mesmo com o avanço da digitalização no campo, o consultor do Sebrae-SP pontua que existem pontos a serem superados. Uma pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Sebrae e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de 2020, mostrou que 67,1% dos produtores têm dificuldade de acesso à internet por questões de custo, acompanhados por 47,8% com problemas de conexão ou falta dela nas áreas rurais.
“Não dá para fazer transformação digital sem acesso à internet, mas, entre os que já conseguem, temos observado uma evolução no uso das ferramentas digitais para comunicação mais efetiva com o cliente. Já faz parte do seu dia a dia”, destaca Cavallari.
O consultor ressalta ainda a importância dos produtores se preocuparem em fazer essa digitalização. “A curva da inovação é muito curta. Antigamente, levava-se dez anos para colocar um produto comercial no mercado e transformar a produtividade, hoje isso ocorre em menos de um ano. O conhecimento deve sempre estar presente na vida do produtor. Ele tem de estar antenado às transformações tecnológicas que auxiliarão na redução dos seus custos e principalmente seu tempo”, reforça.
- Desenvolver sua marca de uma forma simples e que o cliente se identifique com seus produtos e serviços.
- Criar e solidificar a carteira de clientes.
- Dimensionar a sua carteira de clientes com sua capacidade de produção e entrega.
- Potencializar os itens que têm maior facilidade de produção e que lhe ofereçam a melhor margem.
- Estudar o melhor canal de mídias sociais onde poderia encontrar o seu potencial consumidor.
- Criar conteúdo constantemente para manter o relacionamento com o cliente e ter uma boa comunicação.
- Sempre monitorar e estudar a melhor logística de entrega. Tanto para o cliente quanto para o produtor.
- Facilitar sempre a compra para o cliente.
- Sempre ouça seu cliente, ele é seu melhor conselheiro.
- Otimize seu tempo com as ferramentas digitais e não deixe que elas sejam uma tortura. Pelo contrário, elas vieram para facilitar a vida do produtor.
- Implante a rastreabilidade de produtos. Hoje o cliente procura cuidados e é preciso oferecer a ele a proteção necessária ao adquirir um alimento: seguro e saudável.