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HR Techs: startups de RH encontram caminho livre para crescer

As chamadas HR Techs, startups do setor de recursos humanos, encontram caminho aberto para crescimento no Brasil - inclusive nos pequenos negócios

Guilherme Dias, sócio da Gupy: empresas de tecnologia atuam na área de RH, oferecendo novas soluções para esse mercado (Reinaldo Canato/Ricardo Yoithi Matsukawa-ME/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)

Guilherme Dias, sócio da Gupy: empresas de tecnologia atuam na área de RH, oferecendo novas soluções para esse mercado (Reinaldo Canato/Ricardo Yoithi Matsukawa-ME/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 18 de junho de 2019 às 06h00.

Última atualização em 18 de junho de 2019 às 06h00.

A tecnologia está presente em quase todas as operações de uma empresa nos dias de hoje – do sistema de controle de estoque às postagens nas redes sociais para anunciar promoções e novidades.

Apesar disso, a gestão de pessoas, um dos pontos críticos de qualquer organização, ainda é um espaço carente de soluções tecnológicas para auxiliar seus processos – ou, quando elas estão disponíveis, não conseguem ter penetração nas organizações.

De olho nas oportunidades dessa área, empreendedores brasileiros estão investindo na criação de HR Techs, startups voltadas para área de recursos humanos (em inglês, human resources, de onde vem a sigla HR).

São empresas que oferecem programas para analisar centenas de currículos com uso da inteligência artificial, plataformas para gestão de benefícios, softwares para gestão comportamental, aplicativos para oferta de vagas temporárias e uma série de outras ferramentas tecnológicas voltadas para aumentar a eficiência desses processos.

Um estudo publicado em abril do ano passado pela aceleradora Liga Ventures, e que analisou 8.434 startups brasileiras, aponta que 122 dessas empresas estão voltadas para soluções na área de RH. O estudou também identificou que essas startups podem ser divididas em 11 grupos de atuação dentro do setor.

Uma dessas empresas inovadoras é a Gupy, fundada em 2015, que oferece uma plataforma para digitalizar todo o processo de recrutamento e seleção.

Com uso de inteligência artificial e machine learning (aprendizado de máquina), os processos passam a “compreender” cada vez mais o padrão de contratação das empresas, aumentando a chance de acerto e reduzindo o tempo de todo o processo.

“As grandes empresas, quando divulgam suas vagas, conseguem atrair um número grande de candidatos. Dessa forma, o maior desafio é na identificação daqueles mais alinhados”, afirma Guilherme Dias, CMO e cofundador da Gupy. “Há oportunidades em todos os setores do ciclo de vida dos funcionários.

Um ponto de atenção está no recrutamento e seleção. Uma vez que esse processo é o que alimenta todos os outros, aumentar a assertividade nas contratações pode evitar gastos em todos os outros momentos da jornada do funcionário”, completa.

NA PELE

A Gupy nasceu da experiência de uma dos sócios, Mariana Dias, como funcionária de uma gigante de bebidas do país, que viveu na pele os desafios de gerenciar um grande volume de candidatos para as vagas oferecidas pela empresa.

Desde o princípio, a ideia era utilizar a inteligência artificial para identificar os melhores candidatos para as vagas – o que os softwares de recrutamento não ofereciam até então. Hoje, a startup atende principalmente empresas de grande porte e recebeu diversos aportes de capital para expansão.

Para Guilherme, o mercado de RH é um “oceano de oportunidades” para quem quer empreender. “O setor de RH cuida do ativo mais importante de qualquer empresa, que são as pessoas. E as oportunidades de otimização são infinitas, desde o recrutamento e seleção, onboarding, treinamentos e performance, por exemplo”, diz.

Mesmo assim, ele aponta o contraste de uma área com tanto potencial ainda ser pouco familiarizada com o uso de tecnologia. “Estamos no momento da transformação digital do setor e as empresas que conseguirem unir uma cultura de inovação com as ferramentas e tecnologias que auxiliam na maximização dos resultados, certamente terão um maior diferencial competitivo”, afirma.

O presidente da Associação Brasileira de RH em São Paulo (ABRH- -SP), Guilherme Cavalieri, acredita que o setor de HR Techs tem um potencial “gigantesco”. “Esse mercado ainda está em processo de amadurecimento. Ainda há muito desconhecimento, principalmente por parte das pequenas e médias empresas”, afirma.

Por isso, também, um dos objetivos da associação atualmente é capacitar o profissional de RH a ser um protagonista dentro das empresas – em outras palavras, o gestor de pessoas precisa ter um comportamento empreendedor.

Na opinião de Cavalieri, ao contrário do que se possa imaginar, a revolução digital dentro do RH vai abrir caminho para “humanizar” os processos.

“Os dados e a tecnologia, se bem aplicados, chegam até o indivíduo. Com o avanço da tecnologia, temos programas muito mais assertivos, com foco na humanização e na individualização. A tecnologia também facilita um ciclo todo de recrutamento e seleção para chegar a dois três finalistas para uma vaga. Isso libera tempo para que as entrevistas sejam feitas com mais qualidade”, ressalta.

MERCADO MADURO

Fora dos processos internos das empresas, também é possível encontrar oportunidades para empreender na área de RH. O engenheiro de softwares Mórris Litvak partiu de uma experiência pessoal para identificar um nicho de mercado a ser explorado.

Aos 80 anos, a avó dele sofreu uma queda e precisou parar de trabalhar. “Ela era uma pessoa superativa, mas quando parou de trabalhar a saúde decaiu”, conta. Na mesma época em que a avó veio a falecer, em 2012, Mórris também fazia trabalho voluntário em um lar para idosos.

Essa conjunção de fatores o levou a entrar nesse universo e criar, em 2015, a MaturiJobs, uma ferramenta que conecta profissionais com mais de 50 anos em busca de emprego e empresas com vagas abertas. A empresa começou com recursos próprios, e está captando investimentos-anjo.

“Em 2015, quando estourou a crise econômica, havia muita gente com 50 a 60 anos que não conseguia mais arrumar emprego, porque, além da crise, havia a questão da idade. E isso antes de eles se aposentarem”, diz.

Hoje, há 90 mil pessoas cadastradas – 70% deles têm curso superior. Mesmo assim, o número de vagas cadastradas ainda é pequeno em relação à oferta. Por isso, o empreendedor lançou também o MaturiServices, um banco de profissionais freelancers acima de 50 anos, e está investindo em cursos de autoconhecimento e empreendedorismo para o público mais velho.

Na opinião do empreendedor, a área de recursos humanos é estratégica para as empresas, mas por muito tempo permaneceu alheia à inovação.

"A tecnologia está trazendo mais inteligência e agilidade para o RH, mas boa parte das empresas ainda não está sabendo lidar com isso, principalmente no recrutamento e seleção”, afirma. A maioria das empresas que utiliza a plataforma é pequena e média, que, segundo Mórris, tem mais flexibilidade para testar novidades.

ESCALA MENOR

Apesar disso, o mundo das HR Techs ainda parece distante do dia a dia dos pequenos negócios – alguns dos motivos podem ser o custo das soluções ou mesmo falha no marketing das startups, que não conseguem atingir esse perfil de público.

“As pequenas empresas precisam de serviços de RH, mas não têm a informação de como consegui-los”, afirma a consultora do Sebrae-SP Esmeralda Queiroz Cruz. Para ela, uma das causas é que, geralmente, o crescimento dos pequenos negócios acontece organicamente – as contratações, por exemplo, costumam ocorrer na esteira de um aumento de demanda, sem planejamento prévio.

“Quem está começando a empreender nesse setor pode pensar em soluções acessíveis em termos de custo, afinal, são milhões de MPEs. E investir muito em comunicação e marketing para esse público. A necessidade existe, mas é preciso saber se a conta vai fechar em uma escala menor”, aponta Esmeralda.

Sites de bancos de currículos e mesmo a rede social LinkedIn, que aponta adequação de currículo à vaga, são os mais utilizados pelos pequenos negócios. Mesmo assim, a inovação tecnológica não é capaz de substituir o planejamento bem-feito. “O empresário precisa saber muito bem o perfil de quem ele quer contratar, porque, mesmo que a ferramenta funcione muito bem, vai acabar contratando errado”, conclui.

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