Greve dos Correios atrapalhou o e-commerce? Para alguns, ela só ajudou
Volume de encomendas postadas na estatal caiu 19% nos primeiros dois dias de paralisação. Comércio eletrônico encontrou alternativas para frete
Leo Branco
Publicado em 23 de agosto de 2020 às 12h16.
Última atualização em 28 de agosto de 2020 às 15h51.
A greve dos funcionários dos Correios desde terça-feira, 18, afetou o dia a dia de milhares de vendedores do comércio eletrônico brasileiro. Oito entre dez lojas virtuais de pequeno e médio porte dependem da estatal para levar os produtos até a casa dos clientes, segundo pesquisa da startup Loja Integrada.
Ao que tudo indica, a paralisação dos Correios está mudando a situação. Nos dois primeiros dias de paralisação dos Correios , o volume de encomendas postadas nas unidades da estatal que não aderiram à greve caiu 19% em relação ao normal, segundo um levantamento do Bling, um negócio de tecnologia dedicado a sistemas de gestão para microempreendedores individuais além de pequenos e médios negócios com vendas online.
Ao mesmo tempo, o uso de transportadoras particulares ou de startups de tecnologia para fretes deu um salto durante a greve dos Correios. Segundo os dados do Bling, quem mais ganhou negócios no primeiro dia de paralisação foi, pela ordem, a paulistana Intelipost (28% de aumento em relação ao período anterior à greve), Total Express (25%), Mandaê (16%), Mercado Envios, braço de logística da gigante do e-commerce Mercado Livre (9%) e B2W , dona das marcas Americanas e Submarino (1%).
Para chegar aos resultados, os técnicos do Bling monitoraram a emissão de notas fiscais e as estratégias de logística de mais de 40.000 lojistas online de todas as regiões do País.
Os funcionários dos Correios, de braços cruzados desde terça-feira, reivindicam melhores condições de trabalho. A greve tem o apoio de 35 sindicatos de empregados da estatal.
Atraso na entrega
Num primeiro momento o impacto para o consumidor final das pequenas e médias empresas ( PMEs ) pode ser uma aumento no prazo de entrega. Segundo André Dias, presidente da Neotrust/Compre&Confie, que monitora o comércio eletrônico, encomendas que demorariam dez dias antes da greve, podem, agora, levar de 12 a 15 dias. Extravios poderão ser mais comuns nas próximas semanas. “A esperança é que a greve não seja extensa. Se não, vai ter impacto grande para o comércio eletrônico, ainda mais em momento em que o setor dobrou de tamanho por causa da pandemia”, diz Dias.
Embora as PMEs que vendem produtos em marketplaces estão de certa maneira protegidas por causa de alternativas logísticas como transportadoras e motoboys, Dias lembra que mesmo grandes varejistas como o Mercado Livre usam os serviços dos Correios.
Para Fernando Sartori, fundador da Uello, startup que otimiza rotas para entregas urbanas, a greve dos Correios vai afetar as entregas no comércio eletrônico, principalmente os pequenos e médios negócios online. “Quem inicia no e-commerce tende a recorrer ao serviço da estatal como principal meio de entregas”, diz Sartori. Para ele, o primeiro passo para evitar prejuízos é informar ao cliente sobre a situação. “A ideia é esticar o prazo das entregas atuais e futuras”, diz.
A greve dos Correios vem num momento de alta nas reclamações sobre os serviços da estatal. De acordo com o Procon de São Paulo, foram 2.182 queixas contra o serviço da empresa no primeiro semestre de 2020 — cinco vezes mais do que no mesmo período no ano passado. O atraso nas entregas é o principal motivo de reclamações, diz a entidade de defesa do consumidor, em nota à imprensa.