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Expansão da moradia traz oportunidades para empreendedores

Existem hoje mais de 60 milhões de domicílios no Brasil — e serão necessários 23 milhões na próxima década. como aproveitar este momento?

Rita Ortega, da Praquemarido: "Meus maridos estão sempre ocupados com serviços em casas e apartamentos que acabaram de ser adquiridos" (Gabriel Rinaldi)
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Da Redação

Publicado em 17 de setembro de 2012 às 06h38.

São Paulo - O eletricista Maurício Ogata, de 39 anos, é um Maridaço. O título não foi dado por sua mulher, Claudia — Maridaço é o nome do cargo que ele ocupa na Praquemarido, rede paulistana de serviços de reparos domésticos. Na Praquemarido, em vez de ser gerente disso ou daquilo, o funcionário é classificado conforme sua especialidade.

Os pintores são chamados de Maridos Aquarela, os eletricistas de Maridos Elétricos e os encanadores de Maridos Aquáticos. Quem sabe fazer de tudo é um Maridaço. "Chegar a Maridaço não é fácil", afirma Ogata. "É preciso deixar o cliente completamente satisfeito."

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Fundada há dez anos pela em­preen­dedora paulista Rita Ortega, de 46 anos, e por Alexandre, de 42 — seu marido de verdade —, a Praquemarido cresceu com o sistema de franquias. No ano passado, o faturamento da empresa foi de 12 milhões de reais — quatro vezes mais que em 2010, quando os Ortega aderiram ao sistema de franquias. A marca está em 22 estados. "Devemos fechar o ano com 180 unidades", diz Rita. "E, em 2013, a rede vai dobrar de tamanho."

É difícil imaginar um negócio como a Praquemarido se expandindo tão rapidamente alguns anos atrás. Para que uma rede de serviços de reparos domésticos cresça é necessário haver canos furados e fios partidos suficientes para consertar. E, para que isso exista, antes de mais nada é preciso haver muitos imóveis onde possam quebrar — segundo estimativas da Fundação Getulio Vargas e da Fiesp, existem hoje no Brasil mais de 60 milhões de domicílios.

Serviços domésticos, como os que a Praquemarido oferece, são uma das muitas oportunidades que se abrem para pequenas e médias empresas no grande mercado que se formou nos  últimos anos com o aquecimento do setor imobiliário. A lista inclui de tudo — mobília caríssima feita sob medida, objetos de decoração, aparelhos eletrônicos, roupa de cama.

Vender produtos e serviços para a casa tem futuro por um motivo simples — por melhor que seja a planta ou a qualidade da mobília, quase todo mundo tem vontade, mais cedo ou mais tarde, de mudar alguma coisa — colocar papel de parede, trocar os lustres, instalar uma cortina.


Filhos nascem, filhos crescem, filhos saem de casa. Mudanças importantes na família pedem transformações mais radicais que, muitas vezes, só podem ser feitas com uma reforma. Gente comprando material para obras é o que não falta. Uns escolhem a tinta para renovar as paredes, outros derrubam tudo para criar um novo ambiente.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção, as vendas do setor cresceram 2,6% no primeiro semestre de 2012.  "Mais vendas nas lojas significa mais trabalho para mim, e isso é ótimo", diz Carine Canavesi, de 37 anos, dona da Pavão Revestimentos, fabricante paulista de azulejos decorados. Carine espera fechar 2012 com 2 milhões de reais em receitas. "É o triplo do ano passado", diz ela.

Segundo algumas pesquisas, a maior parte das reformas está sendo feita por famílias cuja renda cresceu recentemente. De acordo com um estudo do instituto Data Popular, neste ano 24,5 milhões de famílias devem tocar alguma obra, mesmo modesta, em sua casa ou apartamento.

"Quase 60% das reformas de 2012 estão sendo feitas pela nova classe média", diz Renato Meirelles, sócio do Data Popular. "Esse pessoal economiza dinheiro para fazer pequenas melhorias, como trocar um telhado velho ou o piso da sacada."

Há os que querem mexer aqui e ali para valorizar um imóvel a ser vendido ou alugado. É essa a situação da dona de casa Lindinalva Marlena Silva Cabilo, de 35 anos, moradora de Embu das Artes, na Grande São Paulo. Há pouco mais de dois meses, Lindinalva e seu marido, o técnico em eletrônica Manoel, assinaram o contrato de compra de uma segunda casa.

"Foi um investimento", afirma Lindinalva. "Queremos ter uma renda extra com aluguel." Antes disso, a fachada e o quintal serão reformados. "É para a casa valer mais e poder cobrar mais", diz ela.

Famílias que ascenderam socialmente são um capítulo à parte. Segundo a Fundação Getulio Vargas, em 2013 haverá 29 milhões de brasileiros nas classes A e B — o dobro de 2002. "Para esse pessoal, trocar a mobília ou o piso da casa inteira deixou de ser um sonho ambicioso", diz o empreendedor Ayres Tavares, de 70 anos, dono da Kitchens, empresa paulistana de móveis planejados.


Quem compra na Kitchens são clientes como a engenheira eletrônica Monica Azzali, de 43 anos, diretora de qualidade da GM na América Latina. Nos próximos meses, Monica, seu marido, Claudio (também executivo da GM), e as duas filhas pequenas vão se mudar para um novo apartamento em Santo André, na Grande São Paulo. "Estamos só esperando a Kitchens terminar a instalação dos móveis na cozinha e nos quartos", diz Monica. Ela calcula ter gasto o equivalente a 30% do valor do apartamento, de 360 metros quadrados, com a mobília.

Para atender clientes em todo o país, a Kitchens inaugurou na última década 20 unidades próprias em capitais e cidades médias de regiões prósperas, como Norte, Nordeste e o interior de São Paulo. No ano passado, a empresa obteve um faturamento de 190 milhões de reais — 10% mais do que em 2010.

Tradicionalmente, o mercado imobiliário é um daqueles setores em que fases de aquecimento intenso se intercalam com momentos de acomodação. Nos últimos seis meses, o número de imóveis financiados caiu 9% em relação ao mesmo período do ano passado. “A valorização foi forte nos últimos meses, e o consumidor está esperando os preços se estabilizarem”, diz Octávio de Lazari Junior, presidente da Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança.

A necessidade de mais habitações não deve diminuir tão cedo. Segundo estimativas da Fundação Getulio Vargas, até 2022 mais de 15,9 milhões de famílias se formarão no Brasil. Há hoje 7,2 milhões de famílias dividindo o teto com outras pessoas ou vivendo em residências precárias. Para atendê-las, será preciso construir 23,1 milhões de moradias na próxima década.

Outra razão para manter boas perspectivas para os empreendedores ligados ao setor está no crédito imobiliário. No ano passado foi financiado cerca de 1 milhão de imóveis — o equivalente a 5% do PIB. "Até 2015, essa fatia deve subir para 10%", diz Lazari Junior.

Essas previsões fazem um bem enorme para o humor do engenheiro civil Altino Cristofoletti, de 52 anos. Ele é dono da Casa do Construtor, rede de franquias de locação de equipamentos para construção civil com sede em Rio Claro, no interior de São Paulo. Entre os clientes da empresa estão pequenas construtoras, que fecham contratos de aluguel de equipamentos, como betoneiras e carrinhos de mão, para construir uma casa na praia.

Outro público é formado por pedreiros autônomos, que alugam instrumentos como esquadros e furadeiras. A Casa do Construtor tem hoje 130 unidades em mais de 115 cidades brasileiras. No ano passado, a empresa faturou 78 milhões de reais, 45% mais do que em 2010. "Sempre tem alguém precisando de uma ferramenta emprestada", diz Cristofoletti.

Recentemente, ele percebeu que, ajustando um pouquinho o foco da expansão, seria possível fazer a Casa do Construtor crescer ainda mais rapidamente. "Muitas cidades menores têm duas ou três pequenas locadoras de equipamentos que suprem a demanda local", diz ele. "Temos dado condições especiais a esses empreendedores para que se transformem em franqueados da Casa do Construtor." Desse jeito, Cristofoletti deixou de lado o plano de chegar a 2015 com 250 franquias. "A perspectiva agora é chegar a 2020 com 1.000 unidades", diz.

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