Dani Scalco, fundadora e CEO da ParentsIN, decidiu olhar para a lacuna entre mães e mercado de trabalho para empreender (ParentsIN/Divulgação)
Quando a contadora Taís Pinheiro fundou a Conube, em 2014, a maternidade ainda era um desejo distante. Foram anos dedicados exclusivamente à criação e expansão do que é hoje uma das principais plataformas de contabilidade online do país.
A empresa nasceu da preocupação em trazer mais modernidade e revolucionar o relacionamento entre os empreendedores e a contabilidade. “Queria impactar a vida do empreendedor e fazer com que ele mude a percepção sobre o próprio negócio e enxergasse a contabilidade como algo menos antiquado”,conta. Atualmente a Conube tem mais de 2.400 clientes e 116 funcionários.
“Sempre considerei a minha atividade como algo de extrema importância e sensibilidade. Isso formou o meu caráter como uma futura mãe também”, diz. Agora Taís também é mãe da Celina, de 2 anos. Para ela, o equilíbrio entre o papel profissional que desempenhava e a maternidade foi a chave para uma vida mais feliz.
A conclusão veio a duras penas. Depois de uma viagem ao exterior e uma complicação durante a gravidez, Taís ficou internada durante 28 dias em uma UTI fora do país. “Aquela foi a primeira vez em que realmente parei o trabalho definitivamente. A partir daí percebi que teria que desacelerar e distribuir o meu tempo”, diz.
A missão, porém, não é fácil. A gestão do tempo continua sendo o principal desafio, segundo a empreendedora. “Há dias em que dedico pouco tempo com minha filha, e fico culpada. Mas tenho aprendido que mais importa a qualidade do tempo em que passo com ela, do que a quantidade”.
“A felicidade do meu maternar, também me traz felicidade no trabalho. E o mesmo acontece quando tenho conquistas no trabalho. Sinto que serei uma mãe melhor se manter essa troca positiva”, diz. A mesma preocupação é estendida a todas as novas mães da startup. Na Conube, as gestantes são incentivadas a reduzirem suas cargas de trabalho, compartilharem tarefas e, se necessário, deixar o trabalho para acompanhamento médico.
Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que cerca de 50% das mulheres são demitidas até dois anos após o retorno da licença-maternidade. Além do maior tempo com os filhos, o cenário hostil e a dificuldade em retornar ao mercado de trabalho é o que motiva uma pequena porcentagem de mães brasileiras (4,2%) a se aventurarem no empreendedorismo, segundo o relatório Female Founders, elaborado pelo Distrito Dataminer. O cenário serviu de oportunidade para Dani Scalco, fundadora da ParentsIN.
Após o nascimento do segundo filho, ela fundou a startup que funciona como uma plataforma de conexão entre empresas e mães que procuram recolocação no mercado de trabalho. Na ParentsIN, companhias publicam vagas voltadas especificamente para esse público, enquanto as mães fazem o cadastro para a busca dessas posições. “A ideia era conectar as duas pontas: as empresas que buscavam novas mulheres na liderança e mães que queriam voltar à ativa depois dos meses de licença”, conta.
Todas as empresas cadastradas passam por uma análise de perfil e devem cumprir alguns requisitos antes de publicarem suas vagas. Entre eles, um mapeamento de cultura organizacional feito pela ParentsIN. Na lista das companhias que já contrataram profissionais pela plataforma estão a Beta Learning e a Marketing Sem Frescuras.
“Queremos ir na contramão do mercado e do hábito de olhar a maternidade como algo negativo”, explica. “Sabemos que em um mundo dominado pelas máquinas, soft skills como mediação de conflitos, planejamento, comunicação, liderança e gestão do tempo são habilidades que as mães têm de sobra”.
No lado pessoal, Dani também diz usufruir da flexibilidade e disrupção da maternidade empreendedora. Cinco empresas já estão cadastradas na plataforma, e mais de 1.000 profissionais cadastradas. A meta é trazer de volta ao mercado 1.000 mulheres mães até 2024.
A maternidade também surgiu junto do início da jornada empreendedora de Renata Bonaldi, CEO da SleepUp, startup de monitoramento do sono e tratamento de insônia. Com o final da licença-maternidade, Renata se uniu a outros três sócios - sendo duas mulheres (uma delas sua irmã gêmea) - para a criação da empresa, em novembro de 2019. “O tratamento para insônia hoje é elitista e poucas pessoas têm acesso. Queremos resolver a dor de milhões de brasileiros”, diz a fundadora.
“O nascimento da minha filha foi o estopim para que eu empreendesse”, conta. Incentivar um ambiente familiar também é algo muito importante na SleepUp, segundo Renata. A startup tem 15 colaboradores e, entre a alta liderança, todas as mulheres também têm filhos pequenos.
Em comum às outras empreendedoras citadas na matéria, Renata avalia o maior tempo com os filhos como a principal vantagem da rotina empreendedora “Cada dia dessa pandemia foi difícil e desesperador, mas podíamos ficar com os nossos filhos. Neste período, a alegria era poder ter tempo e os filhos lado a lado o tempo inteiro”, disse.