Em 1 ano, o sistema desta startup já dá R$ 500 mi em crédito por mês
A startup UME aposta na modernização do sistema de crediário para bancarizar a população e, com isso, conquistou clientes como as varejistas Havan e Bemol
Leo Branco
Publicado em 28 de setembro de 2020 às 13h26.
Última atualização em 28 de setembro de 2020 às 17h27.
Pouco antes da pandemia, perto de 45 milhões de brasileiro estavam sem acesso a serviços bancários, segundo uma pesquisa do Instituto Locomotiva, de estudos sobre a economia na baixa renda. Ao total, esse público movimenta mais de 800 bilhões de reais por ano em papel-espécie e está longe do mercado de crédito.
As coisas mudaram nos últimos meses por causa do pagamento do auxílio emergencial de 600 reais a autônomos sem renda com o isolamento social. A ajuda do governo federal provocou uma corrida às agências da Caixa Econômica Federal para a abertura de contas digitais capazes de receber os recursos. Ainda assim, a adoção de serviços financeiros no Brasil é ainda aquém do normal em países desenvolvidos.
Para o empreendedor Berthier Ribeiro, facilitar o acesso a produtos financeiros virou uma oportunidade de negócio. Em 2018, Ribeiro fundou a UME, uma fintech de concessão de crédito às camadas da população de baixa renda — que, normalmente, não dispõem de relacionamento bancário para conseguir empréstimos quando precisam.
Em dois anos, a UME conquistou grandes clientes como as lojas de departamento Havan , presente em boa parte do interior do país, e Bemol , forte no Amazonas.
A UME não divulga valores de faturamento. Apesar disso, um indício da demanda aquecida pelo negócio é o volume de crédito aprovado mensalmente pela plataforma: 500 milhões de reais. “O impacto financeiro nas operações de crédito tem sido expressivo, chegando a aumentar a geração de caixa em 15% dos clientes e a taxa de aprovação de crédito em 30%”, diz Ribeiro.
A tese da UME é a de que a bancarização no Brasil vai ocorrer por meio da adoção de tecnologias para tornar o crédito concedido no ponto de venda, popularmente conhecido como crediário, é uma realidade muito forte no país.
Popularizado na década de 1950 com a forte expansão da Casas Bahia, o crediário continua a ser o principal produto financeiro para a fatia da população de renda mais baixa. “Trata-se de uma realidade consolidada que pouco mudou ao longo dessas sete décadas”, diz Ribeiro. “Em particular, nosso foco atual é estabelecer parceria com varejistas que não possuem serviço de crédito próprio e que atendem a fatia da população sem acesso a serviços bancários.”
A aposta da UME é crescer ajudando varejistas a analisar a qualidade do crédito numa velocidade mais rápida que o usual por meio de algoritmos para rastrear uma porção de dados até então guardadas de maneira meio bagunçada nos varejistas.
Entre os dados catalogados pelo sistema da UME estão endereço e fontes de renda do tomador de crédito. Tudo isso abastece um sistema dedicado a responder, com algum grau de confiança, se é arriscado ou não conceder o empréstimo ao cliente.
“A promessa é de receber a resposta da análise em cerca de 3 minutos”, diz Ribeiro, pontuando que o normal no varejo brasileiro é de o crédito demorar 30 minutos, em média, para ser aprovado.
Para além de fornecer a tecnologia para análise do crédito, a UME oferta capital próprio para financiar as varejistas – fazendo, assim, a gestão de toda a cadeia de concessão de crédito aos clientes.
Antes de fundar a UME, Ribeiro trabalhou três anos no banco BTG Pactual e na startup mineira Méliuz , de tecnologias para concessão de recompensas por compras — o chamado cashback.
O desafio para a UME, daqui para a frente, é diversificar as fontes de receita em meio à digitalização crescente do varejo brasileiro. Na prática, isso poderá massificar tecnologias como as oferecidas pela startup de Ribeiro e derrubar a barreira de entrada deste mercado.
Até lá, Ribeiro e os demais sócios da UME vão seguir torcendo para mais brasileiros terem acesso a produtos financeiros — e pedirem crédito por meio de tecnologias como as oferecidas por eles.