Como este brasileiro conseguiu ter um negócio no Vale do Silício
Alessio Alionço enfrentou decepções na sua vida de empreendedor – até que decidiu criar um negócio global. Saiba o que você pode aprender com a Pipefy:
Mariana Fonseca
Publicado em 8 de novembro de 2016 às 14h25.
Última atualização em 8 de novembro de 2016 às 14h50.
São Paulo – Há uma ideia comum no mundo empreendedor de que, se um negócio chega ao Vale do Silício , não há por que ter uma sede em outro lugar. Ainda mais se for um negócio brasileiro - um país cheio de desafios para o empreendedor .
Porém, Alessio Alionço fez diferente. O criador da Pipefy, uma ferramenta de gerenciamento de processos, possui um escritório no Vale e outro em Curitiba. Ele não tem planos de ficar em apenas um lugar, e diz que tal decisão foi fundamental para que seu produto se tornasse tão global: hoje, a Pipefy é usada por mais de 40 mil companhias, de 140 países distintos.
A inspiração para criar um produto que atingisse diversas regiões veio de uma experiência de trabalho em uma startup israelense. No pequeno país, os donos de negócio sabem que é preciso pensar além das fronteiras.
“Todo empreendedor de Israel precisa ter um produto super competitivo, porque irão dividir espaço com negócios americanos e europeus. Eles se preparam desde cedo para isso, tendo uma mentalidade global e agressiva. Decidi que o próximo empreendimento que eu fizesse teria um mindset de grande”, conta.
O empreendedor contou sua experiência durante a Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo (CASE 2016), um dos maiores eventos de negócios inovadores da América Latina. A conferência acontece em São Paulo e alguns temas comentados são gestão de produtos, vendas e internacionalização. É possível acompanhar o CASE 2016 ao vivo e online, por meio de streaming.
Veja, a seguir, os conselhos de Alessio Alionço para ter um produto global – e por que isso inclui ter escritórios tanto no Vale do Silício quanto no Brasil:
1. Foque no desenvolvimento de produto
O primeiro passo para ter um produto global é, claro, focar em ter um bom desenvolvimento. Segundo Alionço, não adianta sair do país e começar a vender suas ideias se o produto final não tem uma interface produtiva ou um bom design. “Seja product firs t, investindo muito nesse desenvolvimento de produto.”
2. Olhe para fora da janela e resolva problemas globais
Outro ponto para ter um produto global é, obviamente, não pensar em um problema que seja muito específico da realidade brasileira.
Alionço recomenda pensar em uma dor que ainda não foi resolvida ou que você poderia resolver melhor do que a concorrência atual. E, a partir daí, sonhar grande. “Tenha como meta tornar-se o melhor player nesse mercado, independente do seu país de origem.”
3. Esqueça ficar apenas na tradução
Além de product first, Alionço defende também uma mentalidade global first: primeiro se coloque como uma empresa internacional, e depois como uma brasileira. “É como se você fosse um negócio fundado no Vale do Silício, e que por acaso tem um fundador brasileiro”, resume o empreendedor. “Olhando o site da Pipefy, percebe-se que não é apenas um site traduzido para o inglês, que temos funcionários em São Francisco.”
Na mesma linha, muitos brasileiros pensam que para inserir-se na cultura do Vale do Silício, por exemplo, basta pegar um avião, hospedar-se em um hostel e visitar a sede do Google. “Isso não é suficiente para criar oportunidades. É preciso entrar pela porta da frente: eu fui lá para participar da aceleração da 500 startups, por exemplo”, conta Alionço. “A Pipefy recentemente levantou 2,4 milhões de dólares, com aportes de fundos qualificados como Founder’s Club, Redpoint e a empresa Zendesk.”
4. Seja bom em poucas tarefas, e não regular em várias
Um erro muito comum de empreendedores, especialmente daqueles focados no desenvolvimento de produtos, é focar muito no lançamento de novos serviços. Porém, se você quer se destacar no mercado, é melhor ter foco.
“Seja o melhor em poucos serviços. Você tem que resolver os problemas de algum nicho, e assim você pode se dedicar a ser o melhor especificamente nele”, defende Alionço.
5. Por fim, avalie as vantagens de permanecer no Brasil
Agir de forma global, tendo escritórios em diversos locais, pode ser um grande diferencial competitivo. É por isso que o fundador da Pipefy resolveu não trazer os 25 funcionários do negócio para o Vale do Silício, quando teve a chance.
“Isso foge do senso comum de todo empreendedor de que é preciso ir ao Vale. Na verdade, boa parte da minha operação é gerenciada no Brasil”, conta.
Isso porque, permanecendo no Vale do Silício, ter um diferencial competitivo é bem mais difícil. “Pense nos 20 mil melhores engenheiros do Vale. Eles têm tanto lugar para trabalhar que, se ele for para sua empresa, este nunca será o plano A dele. E você irá desembolsar muito para ter o pior desses 20 mil.”
Com o custo que o empreendedor teria no Vale, ele pode ficar no Brasil e contratar os melhores engenheiros e designers do país – sem precisar oferecer altos salários. “Para todos os engenheiros que eu tenho, por exemplo, a remuneração não foi o grande diferencial. Eles vieram pelo sonho de construir uma empresa global, um produto brasileiro que vai atingir milhares de pessoas e disputar com serviços como Slack e Asana. Você vai naturalmente atrair as melhores pessoas do país, por meio desse diferencial competitivo na região.”