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Sites com blockchain pagam usuários e ameaçam Facebook

A chamada internet financeira coloca o modelo de negócio do Facebook de ponta-cabeça.

Facebook: se hoje as pessoas postam no Facebook de graça, no futuro pode não ser assim (Dado Ruvic/Illustration/Reuters)

Facebook: se hoje as pessoas postam no Facebook de graça, no futuro pode não ser assim (Dado Ruvic/Illustration/Reuters)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 27 de fevereiro de 2018 às 14h56.

David Kadavy costumava postar no Facebook sem esperar qualquer pagamento em troca. Até que apareceu o blockchain.

Kadavy conta que, após encontrar um novo segmento da internet baseado na tecnologia de livro-razão digital, recebe para postar seu blog e seu podcast no Steemit, um website que salva textos em um blockchain. O site tem suas próprias moedas digitais, a mais conhecida delas se chama Steem, e paga pessoas como Kadavy por postar e comentar no website. Kadavy, um escritor americano de 38 anos que mora na Colômbia, conta que ganhou cerca de US$ 2.000 em janeiro.

“Sinto que estou na Idade da Pedra quando acesso o Facebook ou o Twitter”, disse Kadavy. “Eles não têm nenhum valor sem as contribuições dos usuários. Se o Facebook não reagir a isso, as coisas podem mudar rapidamente. Deveriam estar muito preocupados.”

A chamada internet financeira coloca o modelo de negócio do Facebook de ponta-cabeça. No Facebook, os usuários publicam conteúdo no website e a empresa recebe dinheiro por isso -- no ano passado, registrou US$ 41 bilhões em receita. No Steemit, o dinheiro vai na direção oposta. O Facebook, com 2,1 bilhões de usuários mensais, talvez não esteja nem enxergando o Steemit, que afirma ter 9 milhões de visitantes por mês, pelo retrovisor. Mas Kadavy é apenas uma das centenas de milhares de pessoas que ganham dinheiro postando, jogando e visualizando anúncios nos novos websites e aplicativos baseados em blockchain, nos quais praticamente todas as ações dos usuários estão ligadas a remunerações baseadas em tokens.

Mais de 1.000 projetos que registram dados em livros-razão digitais, chamados dapps, diminutivo de aplicações descentralizadas, estão em operação ou em fase de testes. E muitas vezes permitem que os usuários ganhem suas moedas especiais ou criptomoedas com algo que já fazem gratuitamente em outros websites.

O Facebook e o Twitter não responderam aos pedidos de comentário.

Normas de privacidade

Há alguns obstáculos no caminho da internet financeira. As novas normas de privacidade da Europa exigem que os websites apaguem as informações dos usuários em determinadas circunstâncias. Isso pode ser um problema, já que o blockchain é imutável e normalmente não pode ser alterado com facilidade.

Mais importante que isso, a maioria dos livros-razão digitais tem problemas de escala quando mais usuários entram a bordo. Recentemente, o blockchain do ethereum paralisou porque muitos usuários começaram a jogar CryptoKitties.

“Esses sistemas descentralizados ainda não são feitos para crescer e ganhar escala com as massas”, disse Anthony Di Iorio, cofundador do ethereum, em entrevista. “Novas tecnologias sempre dão problemas. Leva tempo.”

Mas, ele observa, vale a pena esperar. “Isso será mais importante que a internet”, disse. “Será totalmente revolucionário para todos os setores.”

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