Potência na África: quem é a companhia aérea do avião que caiu na Etiópia
A estatal estava em seu melhor momento. Ultrapassou concorrentes e se tornou a maior companhia aérea africana, com voos para 119 destinos pelo mundo
Karin Salomão
Publicado em 11 de março de 2019 às 12h48.
Última atualização em 11 de março de 2019 às 15h30.
A Ethiopian Airlines, que aproveitou bons ventos e se tornou a maior companhia aérea da África, enfrenta turbulências. Um avião Boeing 737 Max caiu pouco depois de decolar de Adis Abeda, capital da Etiópia, com destino a Nairóbi. Não houve sobreviventes entre os 157 passageiros e tripulantes.
A estatal estava, até então, em seu melhor momento. Ultrapassou as concorrentes Kenya Airways e South African Airways como a maior companhia aérea africana em faturamento e transportou, no ano fiscal de 2017 a 2018, 11 milhões de passageiros, o dobro de cinco anos atrás. Tem uma frota de 111 aeronaves e 16 mil funcionários. Como comparação, a Gol transportou 33,4 milhões de passageiros no ano passado.
Em 2017, recebeu o prêmio de melhor companhia aérea da África pela Skytrax, consultoria do mercado de aviação.É pioneira no continente na operação de voos de longa distância e viaja para a Europa, Estados Unidos, Oriente Médio e Ásia, principalmente para a China. Entrou na associação Star Alliance em 2011, como parte de um plano para 2025 para se tornar uma das aéreas mais relevantes da região.
É uma das companhias aéreas mais internacionais do continente, com 119 destinos para passageiros ou frete pelo mundo. Na América do Sul, opera voos saindo de São Paulo e Buenos Aires. Tem uma parceria de compartilhamento de voos com a Azul e com a Avianca Brasil.
A Ethiopian Airlines é uma das mais seguras da África, com poucos incidentes nos últimos anos, segundo a International Air Transport Association (IATA, ou Associação Internacional de Transporte Aéreo).A última grande tragédia da companhia aérea ocorreu em 2010, quando um avião Boeing 737-800 caiu no mar depois de decolar do Líbano, causando a morte de 83 passageiros e sete tripulantes.
Sua expansão internacional é apoiada pelo primeiro ministro etíope, Abyi Ahmed, que prometeu abrir a companhia e outras estatais para receberem investimento estrangeiro. A empresa ainda é 100% controlada pelo governo da Etiópia.
A companhia faturou 3,3 bilhões de dólares no ano fiscal de 2017 e 2018 e apresentou lucro nos últimos dez anos, com ganhos de 232 milhões de dólares no último ano.
O CEO, Tewolde GebreMariam, disse para a Forbes que a companhia aérea cresceu de 20% a 30% nos últimos oito anos. "Dado o crescimento cumulativo dos últimos anos, provavelmente não há nenhuma outra aérea no mundo que tenha crescido tão rápido quanto nós", afirmou ele ao veículo.
A companhia ainda está longe das gigantes globais. A maior companhia aérea do mundo, a American Airlines, transportou quase 200 milhões de passageiros em 2017. No entanto, o foco da africana é outro: competir pelos voos para a região do Golfo, dominada pela Emirates, e para a Turquia, atendida principalmente pela Turkish Airlines.
Também busca aumentar sua presença na África, uma vez que 80% do tráfego aéreo entre o continente e o resto do mundo é feito por companhias não africanas.
História
A companhia nasceu em 1946, quando o primeiro voo decolou de Asmara rumo ao Cairo, no Egito. A empresa foi criada como uma joint venture com a extinta TWA, Trans World Airlines, que era norte-americana.
Os primeiros aviões também vieram dos Estados Unidos: foram comprados cinco C-47 Skytrains do exército americano, após a 2a Guerra Mundial. Os aviões tinham pouco conforto e os assentos eram bancos que se estendiam pelo comprimento da aeronave, enquanto o corredor central ficava livre para o transporte de carga.
Um ano depois, novos aviões do mesmo modelo foram adquiridos, com um diferencial: os 21 assentos eram organizados em fileiras voltadas para a frente da aeronave.
O primeiro capitão etíope a comandar um voo da companhia foi Alemayehu Abede, 11 anos depois da criação da Ethiopian Airlines.O primeiro centro de treinamento foi inaugurado no mesmo ano, em parceria com o governo dos Estados Unidos.
A companhia teve seu primeiro CEO de nacionalidade etíope apenas em 1971. Na década de 1990, já voava para os principais destinos do mundo e suportou a construção de um terminal de passageiros moderno em seu principal aeroporto, Bole International Airport.Opera também no segmento de transporte de carga.
Frota
A companhia passou a comprar jatos da Boeing na década de 1960.Atualmente, quase todos os aviões da empresa são fabricados pela Boeing para voos de passageiros de médio e longo alcance.
Havia apenas um exemplar do modelo Boeing B737-MAX, que caiu no domingo, e que estava em uso há quatro meses. No entanto, a companhia aérea encomendou 29 aviões desse modelo para os próximos anos.
Para voos domésticos, a companhia vooa com aviões Q400, da Bombardier e há ainda aviões da Airbus, do modelo A350-900XWB.Ainda que a companhia tenha operado os aviões C-47 do exército americano por décadas, hoje todos os aviões da frota tem menos de cinco anos.
Depois do acidente de domingo, China, Indonésia e Etiópia suspenderam os voos do avião 737 MAX 8, da Boeing. A descoberta da caixa-preta com o gravador de voz da cabine e os dados digitais de voo, informada pela TV estatal da Etiópia, devem revelar detalhes sobre a causa da queda.