Portugal Telecom recusará proposta da Telefônica pela Vivo, apostam analistas
Cinco de seis analistas ouvidos pelo site de EXAME afirmam que oferta não será aceita
Tatiana Vaz
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h39.
São Paulo - Os acionistas da Portugal Telecom devem recusar, amanhã (30/6), a venda da Vivo à Telefônica. É nisso que apostam cinco dos seis analistas do mercado de telecomunicações procurados pelo site de EXAME. De acordo com os especialistas, essa será uma maneira de a empresa portuguesa forçar a Telefônica a elevar o valor oferecido pelos 50% de ações que detêm na operadora brasileira. Pela proposta que será votada, os espanhóis se dispõem a pagar 6,5 bilhões de euros por esses papéis. A assembléia está marcada para as 10 horas, em Lisboa (6 horas da manhã, pelo horário de Brasília).
A oferta que será debatida já representa uma revisão da posição inicial da Telefônica. A proposta original, apresentada em meados de maio, era de 5,7 bilhões de euros. A iniciativa foi prontamente rejeitada pelo conselho de administração da Portugal Telecom, que a considerou "inoportuna". Em 15 de junho, a Telefônica aumentou a oferta para 6,5 bilhões de euros - o que forçou o conselho de administração a convocar a assembleia de amanhã. Mesmo assim, a direção da Portugal Telecom tem afirmado que a oferta da espanhola não reflete o valor estratégico da Vivo.
"A Telefônica já deve até estar se preparando para elevar a oferta, e não duvido que isso aconteça de hoje para amanhã, antes da votação", afirma Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. "Fazendo isso, a Telefônica não precisaria esperar uma nova reunião dos acionistas, já que ela tem pressa na decisão."
Para ser aprovada, a proposta deveria subir para cerca de 7,5 bilhões de euros, de acordo com a área de análise da Planner. A corretora também não descarta que os espanhóis elevem a oferta no último instante, a fim de evitar a derrota. A corretora engrossa o coro dos que afirmam que os recursos serão aplicados pela Portugal Telecom na compra de outra operadora brasileira - e a aposta é a Oi.
Brasil em destaque
Para os analistas, a recusa é tida como certa pela importância que o mercado brasileiro vem conquistando no cenário mundial e também pela necessidade da Telefônica inovar seus serviços no Brasil. "Se a oferta for recusada, a Vivo conseguiria se manter sozinha no mercado, por meio de parcerias comerciais para oferta de serviços integrados", diz Rosângela Ribeiro, analista de investimentos da SLW Corretora. "Já a Telefônica, por atuar apenas com telefonia fixa, está num setor decadente e precisa aumentar logo seu portfólio de ofertas aos clientes".
A negociação pelo controle da operadora brasileira envolve ainda a delicada situação econômica dos países de origem da PT e Telefônica, segundo Evaldo Alves, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas. Segundo ele, tanto a Espanha, quanto Portugal vivem uma crise financeira grave, o que aumenta ainda mais o valor estratégico da participação dos portugueses na Vivo.
"Na negociação, o valor da operadora ultrapassa o valor de mercado, pois envolve questões políticas e até nacionalistas", afirma o professor. "As empresas são de dois países atualmente carentes de financiamentos; vai ceder primeiro o lado que primeiro precisar de recursos rápidos".
Nova parceria
Com os recursos da venda da Vivo, a Portugal Telecom investiria no mercado brasileiro por meio da compra de ações na Oi ou na criação de uma empresa fornecedora de serviços de banda larga, segundo a opinião de Luiz Faro, especialista em telecomunicações da consultoria de negócios Naxentia.
Dos ouvidos pelo site de EXAME, a analista Camila Saito, da Tendências Consultoria, é a única a apostar num resultado favorável à Telefônica amanhã. "A oferta é boa para ambas as partes, tanto para a Telefônica, que quer oferecer serviços convergentes ao mercado brasileiro, quanto para a Portugal Telecom, que pretende investir em outra operadora no Brasil", diz.