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O embate da vez: TV a cabo vs. Facebook

Os canais de notícias por assinatura estão com tudo, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Por aqui, graças à intensa cobertura da ainda mais intensa crise política, a Globo News vem batendo seguidos recordes de audiência. Nesse processo, passou da 25a para 8a posição entre os canais mais assistidos. Um dos trunfos é a […]

JORNALISTAS DA FOX NEWS: o canal bate recordes de audiência, mas encara uma concorrência crescente dos serviços de vídeos em redes sociais / Alex Wong/Getty Images
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Da Redação

Publicado em 15 de julho de 2016 às 12h52.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h58.

Os canais de notícias por assinatura estão com tudo, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Por aqui, graças à intensa cobertura da ainda mais intensa crise política, a Globo News vem batendo seguidos recordes de audiência. Nesse processo, passou da 25a para 8a posição entre os canais mais assistidos. Um dos trunfos é a mobilidade na grade de programação – que permite, por exemplo, que o canal fique 12 horas consecutivas transmitindo um único evento, como a votação do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara.

Nos Estados Unidos, o fenômeno se repete. Segundo a consultoria Nielsen, a Fox News chegou à segunda posição entre os canais a cabo do país em 2015, atrás apenas do canal de esportes ESPN. É a melhor colocação de um canal de notícias na história do país. Sua principal concorrente, a CNN, cresceu 23% no ano passado. O maior impulso também foi a cobertura em tempo real de grandes eventos, sobretudo a corrida de democratas e republicanos à Casa Branco. Debates ao vivo também ajudaram.

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Com o acirramento da corrida presidencial americana, o Brexit, o impeachment no Brasil, e a crescente onda de atentados e protestos pelo mundo, o terreno parece pavimentado para que os canais mantenham o ritmo. Na verdade, sim, não fosse por um detalhe. Uma nova forma de transmissão de eventos ao vivo consegue ser ainda mais ágil do que a televisão a cabo, os sites de notícias, a rádio – são os serviços de vídeo em tempo real de redes sociais como o Facebook ou o Twitter. Eles têm uma vantagem competitiva aparentemente imbatível: dão o poder de divulgação dos fatos às pessoas diretamente envolvidas. E acabam ampliando o escopo de eventos com cobertura ao vivo.

Os casos mais emblemáticos aconteceram na semana passada. Em Minnesota, Diamond Reynolds transmitiu ao vivo pelo Facebook Live de dentro do carro o assassinato de seu namorado Philando Castile por um policial. Em Dallas, o fotógrafo Michael Kevin Bautista também usou o Facebook Live para transmitir, em tempo real, o ataque que deixou cinco policiais mortos. Em Baton Rouge, na Louisiana, DeRay Mckesson, um dos líderes do movimento Black Lives Matter, divulgou um vídeo de sua própria prisão pelo Periscope, o serviço de vídeos em tempo real do Twitter.

“Na semana passada o Facebook Live mostrou que pode se transformar na rede de notícias por assinatura mais inteligente da história”, disse Jonathan Klein, ex-presidente da CNN, ao jornal New York Times. Com 1,6 bilhão de assinantes, diz ele, o Facebook pode ter 1,6 bilhão de correspondentes para capturar notícias.

Gatinhos ou atentados?

Claro que, na prática, as coisas não são tão simples. Até hoje, os serviços de vídeo do Facebook e do Twitter são muito mais conhecidos por transmitir eventos como a explosão de uma melancia com elásticos de dinheiro, como fez o site Buzzfeed, ou a gargalhada de uma americana ao vestir uma máscara do personagem Chewbacca, de Guerra nas Estrelas (que já foi visto 159 milhões de vezes). Mas as duas empresas parecem determinadas em ganhar terreno também em notícias (embora com apetites diferentes). O Twitter anunciou esta semana uma parceria com a CBS News para transmitir as convenções dos partidos Democrata e Republicano, e deve começar a transmitir ainda este ano os jogos da próxima temporada da NFL, a liga de futebol americano.

O Facebook, por sua vez, reluta em se apresentar como um veículo de mídia. Em maio, a empresa se envolveu numa polêmica após republicanos divulgarem que seu feed de notícias intencionalmente priorizava conteúdos mais orientados à esquerda. Seu fundador, Mark Zuckerberg, chegou a se reunir com um grupo de políticos republicanos para explicar que tudo não passava de especulação. “O Vale do Silício tem uma reputação de ser liberal. Mas o Facebook reúne pessoas de todas as ideologias”, escreveu na época em seu perfil.

No dia 29 de junho, o site divulgou um comunicado explicando uma série de mudanças em seu feed de notícias com o objetivo de que as pessoas possam ver mais conteúdo sobre seus amigos e familiares, e menos notícias de veículos tradicionais. É uma resposta a um problema crescente da empresa. O site especializado em tecnologia The Information revelou que as pessoas estão compartilhando menos informações pessoais na plataforma — segundo fontes anônimas, o Facebook viu uma queda de 21% dos compartilhamentos originais, relacionados à rotina, amigos e família em 12 meses. Para um site criado para conectar as pessoas, é um problemaço.

Analistas enxergaram nas mudanças recentes um sinal claro de que, para a empresa, bebês fofinhos vão continuar mais importantes que atentados e ataques terroristas. Mas explicar isso para a audiência é mais complicado. Uma pesquisa do Pew Research Center revelou que, para jovens americanos entre 20 e 30 anos, o Facebook é a principal fonte de informação sobre política. Seis em dez utilizam o Facebook, enquanto 44% dizem assistir a canais como a CNN. Para os americanos com mais de 60 anos, as televisões locais lideram, com 60% – ainda assim, 40% acessam também o Facebook com esse fim.

Nem só de vantagens, porém, vivem as redes sociais. Na competição entre TV ao vivo e vídeos em tempo real, Facebook, Twitter e outros serviços que nascem toda semana têm um problema tamanho família, que ainda não sabem como enfrentar. Como discernir entre os vídeos de utilidade pública, e aqueles que apenas servem de plataforma para criminosos? Após os eventos em Dallas na semana passada, o Facebook se apressou em afirmar que está investindo no monitoramento das transmissões, e que conteúdos impróprios podem ser interrompidos a qualquer momento.

Outro trunfo evidente dos canais de TV e da mídia tradicional é usar as redes sociais como aliado, reproduzindo conteúdo divulgado nas redes, e até produzindo seu próprio conteúdo com essas ferramentas. O New York Times tem feito uma série de reportagens especiais sobre temas cotidianos de Nova York utilizando o Facebook Live. Nesta quinta-feira, jornais e canais de TV entraram com correspondentes ao vivo, em suas páginas do Facebook, comentando o atentado na cidade de Nice, na França, que deixou mais de 80 mortos. Nessa disputa por quem inova mais e quem informa melhor, quem sai ganhando é o consumidor.

(Lucas Amorim)

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