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O carro elétrico para as massas

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York Quem pensa em carro elétrico pensa em Tesla Motors, empresa do Vale do Silício que provou a ideia de que é possível produzir e vender carros 100% movidos a eletricidade. Mas pouca gente de fato dirige um Tesla. Desde 2008, quando o primeiro modelo chegou às ruas, a companhia […]

MARY BARRA, CEO DA GM, COM O BOLT: é a veterana montadora que está prestes a inaugurar de fato a era dos carros elétricos. / Bill Pugliano/Getty Images
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Da Redação

Publicado em 23 de setembro de 2016 às 11h54.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h34.

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York

Quem pensa em carro elétrico pensa em Tesla Motors, empresa do Vale do Silício que provou a ideia de que é possível produzir e vender carros 100% movidos a eletricidade. Mas pouca gente de fato dirige um Tesla. Desde 2008, quando o primeiro modelo chegou às ruas, a companhia vendeu apenas cerca de 140.000 unidades. E a maioria custa muito mais caro do que um carro comparável híbrido ou a gasolina. Foi por esse motivo que, no fim de março deste ano, o fundador e CEO da empresa, Elon Musk, surpreendeu o mundo com o anúncio do primeiro modelo “popular”. A novidade não foi exatamente o posicionamento do Model 3 — que começa em 35.000 dólares —, pois, desde os primeiros dias da Tesla, Musk falava em um mercado de massa para carros elétricos. A surpresa foi o sistema de vendas do Model 3: os interessados tinham de fazer um depósito de 1.000 dólares para garantir um lugar na fila. Cerca de 400.000 pessoas pagaram o depósito inicial. A promessa é entregar os primeiros carros a partir do segundo semestre de 2017.

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O carro elétrico acessível finalmente chegou — mas não é o Tesla Model 3. A GM, uma das mais tradicionais montadoras americanas, anunciou na semana passada os detalhes do Chevrolet Bolt EV, um compacto inteiramente elétrico que foi apresentado como conceito em janeiro do ano passado. O Bolt vai custar 37.500 dólares (dos quais 7.500 podem ser abatidos graças a um programa de incentivo do governo) e terá autonomia de 383 quilômetros, cerca de 40 a mais do que o Model 3. As diferenças de especificações técnicas, porém, são pequenas diante do novo desafio que o Bolt representa para a Tesla: concorrer com uma empresa que produz carros há 108 anos.

Os americanos poderão sair das concessionárias GM dirigindo seu novo Bolt ainda neste ano. O Model 3 da Tesla só deverá chegar aos primeiros compradores daqui a um ano — se a empresa não atrasar de novo. Prazos perdidos são uma constante na Tesla. Uma análise do The Wall Street Journal aponta que a empresa deixou de cumprir prazos mais de 20 vezes nos últimos cinco anos. Em dez deles, o atraso médio foi de quase um ano. O utilitário esportivo Model X, que deveria ter sido lançado em meados de 2014, chegou ao mercado só em setembro de 2016. O próprio Model 3 havia sido prometido para o fim de 2014.

Musk projeta que a Tesla produzirá de 100.000 a 200.000 unidades no ano que vem, e 500.000 em 2018. Mas, num documento entregue à Securities and Exchange Commission, órgão que regula o mercado de capitais americano, a companhia faz ressalvas importantes: “Não temos experiência até aqui na produção de veículos nos altos volumes que esperamos para o Model 3 e, para termos sucesso, precisaremos desenvolver capacidades de manufatura, processos e cadeias de suprimento eficientes, automatizadas e de baixo custo a fim de sustentar tais volumes”. A Tesla teve de reconfigurar sua linha de montagem na Califórnia para produzir o Model 3. Esse não é um problema para a GM. A empresa produz o Bolt em Detroit, na mesma fábrica em que são produzidos modelos a gasolina, usando os mesmos robôs e funcionários.

Outra questão essencial é financeira. Em valor de mercado, os números da Tesla são fenomenais. A empresa tem meros dez anos de vida, mas está avaliada em 30,8 bilhões de dólares, ou 60% do que vale a GM, empresa que só está viva hoje graças à ajuda amiga do governo americano depois da crise financeira de 2008. Esse número, no entanto, reflete a promessa futura da pioneira dos carros elétricos. O retrato presente é bem mais sombrio. Num e-mail aos funcionários no final de agosto e obtido pela Bloomberg, Elon Musk faz um apelo. “A realidade pura e simples é que a Tesla estará numa situação muito melhor para convencer potenciais investidores a apostar em nós se a manchete não for ‘Tesla perde dinheiro de novo’, e sim ‘Tesla desafia todas as expectativas e atinge a lucratividade’ ”, escreveu Musk.

A empresa ficou aquém das projeções dos analistas de Wall Street nos dois primeiros trimestres fiscais do ano, e o resultado do terceiro trimestre pode ser decisivo para os investidores — ainda mais com a pressão extra da chegada do concorrente da GM. A Tesla precisará de uma nova injeção de capital no final do ano para produzir o Model 3 e para concluir uma nova fábrica de baterias. Enquanto a empresa que é sinônimo de inovação no setor automobilístico se vira para cumprir o prometido, é a veterana GM que está prestes a inaugurar de fato a era dos carros elétricos.

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