Nasce uma gigante pelo fim dos testes de cosméticos em animais
Campanha global da Natura &Co, capitaneada pela marca The Body Shop, pede abolição dos testes em cobaias no mundo
Vanessa Barbosa
Publicado em 11 de abril de 2018 às 17h30.
Última atualização em 26 de abril de 2018 às 11h21.
São Paulo – Quando a Natura concluiu a aquisição da marca britânica The Body Shop , em setembro do ano passado, não nascia ali apenas um grupo de cosméticos global, multicanal e multimarcas – o Natura &Co, constituído também pela australiana Aesop, adquirida em 2012 – mas um gigante que não testa seus ingredientes e produtos em animais e que quer convencer o mundo a fazer o mesmo.
Exemplo desse empenho é a campanha “Para Sempre Contra Testes em Animais", capitaneada pela The Body Shop, marca historicamente reconhecida por seus produtos livres de crueldade (do inglês “cruelty free”), em parceria com a Cruelty Free International, organização não-governamental que lidera esforços nessa seara.
O objetivo é angariar oito milhões de assinaturas em uma petição pelo fim dos testes animais na indústria cosmética e encaminhar o documento à Organização das Nações Unidas (ONU), a fim de criar uma pressão global pelo fim dos testes. A petição está disponível online e também pode ser assinada em uma das 121 lojas da The Body Shop no Brasil.
A causa naturalmente ressoa nas demais marcas do grupo Natura &Co. Apoiadora da campanha, a brasileira Natura não testa produtos ou ingredientes em animais há mais de dez anos, e tampouco o faz a australiana Aesop. Ao longo desta semana, toda a rede de consultoras da Natura vai receber a nova revista da marca para angariar assinaturas para a campanha.
“Uma das resultantes da formação do Grupo é a crença na capacidade de mudança que as três marcas juntas possuem. Temos alinhamento de valores, de sustentabilidade e de valorização da vida”, diz à EXAME Andrea Alvares, vice-presidente de marketing, inovação e sustentabilidade da Natura.
Segundo a executiva, o grupo está estudando a possibilidade de aderir a um selo “cruelty free”, que comunique de forma mais clara aos consumidores o posicionamento da marca. Ter o selo não significa que a empresa não usa nenhum ingrediente de origem animal. Alguns produtos de maquiagem da Natura trazem em sua composição cera de abelha e lanolina (gordura extraída da lã de ovelha).
Novas regras, novos mercados
Eliminar todo e qualquer teste na indústria cosmética mundial exige mudanças de regras. São diversas as leis que regulamentam a produção de cosméticos no mundo.
Há países que permitem o uso de cobaias animais em casos específicos, por exemplo, para avaliar irritação, alergias e corrosão da pele, testes oculares e de toxicidade.
É o caso do Brasil, onde esse tipo de prática é permitida, embora não obrigatória, e do Japão. Na União Europeia, testes de produtos cosméticos em animais são proibidos há cinco anos.
Mas a prática ainda é obrigatória na China, um dos maiores mercados de produtos de beleza e com grande potencial para a expansão das três marcas da Natura &Co, que ainda não atuam por lá.
Em teleconferência com analistas em dezembro passado, Robert Chatwin, vice-presidente internacional da Natura, afirmou que o grupo poderia “ter um plano China”, embora não tenha detalhado que plano seria. Seja como for, a expansão de cosméticos “cruelty free” no mercado asiático é totalmente dependente da mudança da legislação chinesa.
Testes livres de crueldade
No Brasil, a Natura foi uma das primeiras gigantes do setor a extinguir os testes de cosméticos em animais, em 2006. “Já desenvolvemos 67 metodologias alternativas, tanto para avaliar a segurança quanto eficácia dos ingredientes e produtos”, afirma à EXAME Roseli Mello, diretora de inovação e segurança do consumidor da Natura.
Ao invés de usarem animais, os métodos modernos de teste incluem exames sofisticados usando células e tecidos humanos em 3D (o chamado “in vitro”), técnicas de modelagem de computador avançadas (conhecidas como modelos “in silico”), e estudos com voluntários humanos nas últimas etapas de testes.
A empresa não abre quanto já foi investido no desenvolvimento de tecnologias alternativas para testes de segurança e eficiência. “Mas posso te assegurar que é bastante. Como trabalhamos com ingredientes inéditos da biodiversidade, há uma grande preocupação em garantir que eles são seguros, e daí a necessidade de tecnologias sofisticadas para garantir segurança do consumidor”, diz Andrea Alvares, vice-presidente de marketing, inovação e sustentabilidade da Natura.