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Nasce um grupo educacional de 27 bi

Após muitas indas e vindas, o grupo de ensino Kroton acertou na manhã desta sexta-feira a compra de sua principal concorrente, a Estácio. Conseguiu isso após subir sua proposta inicial em cerca de 30%. A primeira oferta, feita no dia 2 de junho, previa uma relação de troca de 0,98 ação da Kroton para uma […]

SALA DE AULA DA KROTON: investidores têm confiança na fusão da companhia com a Estácio e ações têm maiores altas do dia no Ibovespa / Germano Lüders (Germano Lüders/Exame)

SALA DE AULA DA KROTON: investidores têm confiança na fusão da companhia com a Estácio e ações têm maiores altas do dia no Ibovespa / Germano Lüders (Germano Lüders/Exame)

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Letícia Toledo

Publicado em 1 de julho de 2016 às 12h56.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h46.

Após muitas indas e vindas, o grupo de ensino Kroton acertou na manhã desta sexta-feira a compra de sua principal concorrente, a Estácio. Conseguiu isso após subir sua proposta inicial em cerca de 30%. A primeira oferta, feita no dia 2 de junho, previa uma relação de troca de 0,98 ação da Kroton para uma da Estácio. No dia 2 de junho, a oferta subiu para 1,25. Nesta sexta, concordou em aumentar a relação de troca 1,28 e ainda pagar uma quantia em dinheiro. No total, a oferta equivale a uma relação de troca de 1,33 ação da Kroton para cada uma da Estácio. O leilão foi influenciado pelo interesse da Ser Educacional, que entrou na disputa com uma oferta de 1 bilhão de reais para os acionistas da Estácio.

A nova empresa é de longe o maior grupo de educação do mundo. Tem 27 bilhões de reais de valor de mercado, 8 bilhões de faturamento e 3 bilhões de reais de geração de caixa. Além disso, tem 1,6 milhão de alunos, o que representa 25% do total de matrículas de estudantes universitários brasileiros. Os números são tão impressionantes que mudam definitivamente a dinâmica do mercado brasileiro de educação. Juntas, as seis maiores concorrentes de Kroton e Estácio teriam perto de 1 milhão de alunos.

O negócio foi recheado de indefinições porque a Estácio não tem controlador. Ao longo dos últimos dias, o empresário Chaim Zaher, segundo maior acionista da empresa com cerca de 14% dos papeis, se reuniu com Janguiê Diniz, da Ser, para tentar chegar a um acordo. Articulou, sem sucesso, um negócio com a Unip, do empresário João Carlos Di Genio. No dia 16 de junho, Zaher assumiu a presidência no lugar de Rogério Melzi e, desde então, vem tentando levantar capital com investidores para ele mesmo comprar a Estácio.

Na decisão de ontem, Zaher e sua filha, Thamila, se abstiveram de votar em função de potenciais conflitos de interesse – Zaher, afinal, é acionista, presidente e potencial comprador da Estácio. A rigor, a compra só será fechada na assembleia de acionistas marcada para o dia 8 de julho e, embora improvável, há quem aposte numa reviravolta. “Até o último minuto podem surgir novidades”, diz um investidor da Estácio.

Se a oferta for mesmo aprovada, o negócio precisa passar pelo crivo do Cade, o conselho de defesa da concorrência. Seria um dos processos mais complexos já analisados pelo orgão. Na fusão da Kroton com a Anhanguera, o Cade levou o prazo máximo para autorizar o negócio — um ano – e foi obrigado a vender a rede de ensino a distância Uniasselvi. Desta vez, a análise também pode levar todo esse tempo e já há acionistas da Kroton se perguntando se vale a pena oferecer ao Cade a opção de vender o a operação de ensino a distância (EAD) para encurtar os prazos.

Isso porque a nova empresa terá 55% de participação no ensino a distância, com mais de 1.100 pólos pelo país. Mas, para a empresas combinada, o EAD da Estácio representa apenas 2,5% do faturamento. Para os concorrentes, quanto mais duro o Cade for, melhor. Dessa forma, eles limitariam o poder de fogo da Kroton, e ainda ganhariam a chance de adquirir negócios interessantes. “Vamos atuar com todas as forças para que o Cade seja duro”, diz o executivo de um grande grupo do setor. O ministro da Educação, Mendonça Filho, tem dito a interlocutores que não acha positiva para o país uma “excessiva”concentração de mercado.

De qualquer forma, quando o negócio for definitivamente aprovado (com ou sem remédio amargo), começa uma outra fase igualmente complexa – a integração. A Kroton cresceu fazendo dezenas de aquisições ao longo da última década e se especializou em integrar companhias em tempo recorde – em alguns casos, apenas 90 dias. Mas, com a Estácio, executivos da própria Kroton reconhecem que o processo levaria de 1,5 a 2 anos. Além do EAD, a nova companhia une as operações de ensino presencial da Kroton concentradas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e as da Estácio, centradas no Rio de Janeiro mas com atuação em todos os estados do Nordeste e alguns do Norte.

Com a compra da Estácio, a Kroton vai adiar um projeto de ganhar terreno no ensino básico, que volta a ser um objetivo para o longo prazo. O negócio consolida um crescimento impressionante. Criada em 1966, a Kroton já fez dezenas aquisições em sua história. Três delas mudaram a cara da companhia, e do setor. A primeira foi a compra da mato-grossense Iuni, em 2010, que deu à Kroton seu atual presidente, Rodrigo Galindo, um dos mais conceituados e ambiciosos executivos do setor. Galindo é filho do fundador da Iuni, Altamiro Galindo. A segunda foi a compra da paraense Unopar, em 2011, que deu à Kroton a liderança no mercado de ensino a distância. Por fim, a fusão com a Anhanguera, anunciada em 2013 e aprovada em 2014, que consolidou a companhia na liderança do mercado brasileiro.

Em todos esses negócios, conseguiu reduzir custos e melhorar a eficiência de um setor historicamente conhecido por ser pouco profissional. A compra da Estácio pode gerar até 6 bilhões de reais de sinergias para os investidores. É esperar – e acompanhar – para que os alunos também saiam ganhando.

(Letícia Toledo e Lucas Amorim) 

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