Exame Logo

Na China, "motivos pessoais" escondem demissões por subornos

As empresas chinesas vêm adotando o eufemismo preferido das corporações americanas para divulgar a saída de altos executivos: "motivos pessoais"

Demissão: “as companhias raramente são claras sobre os motivos que levaram um diretor executivo a abandonar o cargo”, diz especialista (ThinkStock)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de fevereiro de 2015 às 15h43.

Hong Kong - As empresas chinesas, que estão tendo dificuldade para encontrar o melhor modo de divulgar a saída de altos executivos em meio a medidas enérgicas de combate à corrupção em todo o país, vêm adotando o eufemismo preferido das corporações dos EUA: motivos pessoais.

No sábado, o China Minsheng Banking Corp. citou “motivos pessoais” para justificar que seu presidente tenha pedido demissão , enquanto a mídia continental informava que ele está sendo investigado pelas autoridades.

Um mês antes, a desenvolvedora Kaisa Group Holdings Ltd. disse que o presidente do seu conselho estava deixando o cargo por “questões de saúde”, o que disparou o calote de um de seus empréstimos.

A companhia é alvo de um inquérito por vínculos com um ex-chefe de segurança de Shenzhen, que está sendo investigado por um suposto suborno, disseram duas pessoas com conhecimento do assunto.

O presidente Xi Jinping está travando a maior guerra contra a corrupção em décadas e as empresas que operam em bolsa estão buscando precedentes sobre quais informações divulgar e como fazê-lo. Mais de 70 altos executivos das corporações estatais foram presos no ano passado, de acordo com o People’s Daily, inclusive de empresas listadas em Hong Kong.

“As companhias raramente são claras sobre os motivos que levaram um diretor executivo a abandonar o cargo”, disse David Webb, acionista ativista e fundador do Webb-site.com, em entrevista. “É muito engraçado, porque vários pedem demissão ao mesmo tempo, ou um logo depois do outro, pelo mesmo motivo”.

O Minsheng disse que a renúncia do seu presidente não iria afetar as operações da companhia. Um porta-voz da Kaisa não quis comentar.

Casos recentes

Webb conta outros casos ocorridos nos últimos anos: o secretário corporativo da Samling Global Ltd. deixou o cargo em 2011 por “motivos pessoais” que resultaram em uma condenação a 12 anos de prisão por fraude e lavagem de dinheiro. O presidente do conselho da VST Holdings Ltd. saiu em 2012 por “motivos pessoais” que levaram a uma pena de seis meses de prisão por manipular o preço de ações.

Esse problema não é novidade. Em maio de 2007, a Bolsa de Valores de Hong Kong e o Instituto de Diretores de Hong Kong solicitaram que as empresas listadas fossem mais claras na comunicação. “Ser detido pela polícia ou por outras autoridades” não significa um motivo pessoal, disseram.

Pedidos de demissão obscuros têm “sido um ponto nevrálgico para os emissores das empresas registradas em Hong Kong”, disse Michael Cheng, da Associação Asiática de Governança Corporativa, com sede em Hong Kong, por e-mail. “Sem dúvida, os reguladores de Hong Kong deveriam rever essa questão”.

Em 2012, a Comissão de Valores e Futuros de Hong Kong obteve o poder de impor sanções civis por falta de divulgação em tempo hábil de informações que podem influenciar os preços. A comissão não quis fazer mais comentários.

Ardil 22

A superposição entre Hong Kong e a China gera uma possível lacuna. Se um inquérito for aberto na China continental pelas autoridades chinesas, os executivos e reguladores de Hong Kong podem escapar da notificação – ou nem saber do que está acontecendo.

Algumas empresas estão presas em um Ardil 22, disse Cheng, pois são obrigadas a interromper as operações por não poderem divulgar investigações confidenciais.

“Sem essa divulgação, a bolsa de valores não permite que elas retomem as negociações”, disse Cheng. “Daí surge o impasse”.

Veja também

Hong Kong - As empresas chinesas, que estão tendo dificuldade para encontrar o melhor modo de divulgar a saída de altos executivos em meio a medidas enérgicas de combate à corrupção em todo o país, vêm adotando o eufemismo preferido das corporações dos EUA: motivos pessoais.

No sábado, o China Minsheng Banking Corp. citou “motivos pessoais” para justificar que seu presidente tenha pedido demissão , enquanto a mídia continental informava que ele está sendo investigado pelas autoridades.

Um mês antes, a desenvolvedora Kaisa Group Holdings Ltd. disse que o presidente do seu conselho estava deixando o cargo por “questões de saúde”, o que disparou o calote de um de seus empréstimos.

A companhia é alvo de um inquérito por vínculos com um ex-chefe de segurança de Shenzhen, que está sendo investigado por um suposto suborno, disseram duas pessoas com conhecimento do assunto.

O presidente Xi Jinping está travando a maior guerra contra a corrupção em décadas e as empresas que operam em bolsa estão buscando precedentes sobre quais informações divulgar e como fazê-lo. Mais de 70 altos executivos das corporações estatais foram presos no ano passado, de acordo com o People’s Daily, inclusive de empresas listadas em Hong Kong.

“As companhias raramente são claras sobre os motivos que levaram um diretor executivo a abandonar o cargo”, disse David Webb, acionista ativista e fundador do Webb-site.com, em entrevista. “É muito engraçado, porque vários pedem demissão ao mesmo tempo, ou um logo depois do outro, pelo mesmo motivo”.

O Minsheng disse que a renúncia do seu presidente não iria afetar as operações da companhia. Um porta-voz da Kaisa não quis comentar.

Casos recentes

Webb conta outros casos ocorridos nos últimos anos: o secretário corporativo da Samling Global Ltd. deixou o cargo em 2011 por “motivos pessoais” que resultaram em uma condenação a 12 anos de prisão por fraude e lavagem de dinheiro. O presidente do conselho da VST Holdings Ltd. saiu em 2012 por “motivos pessoais” que levaram a uma pena de seis meses de prisão por manipular o preço de ações.

Esse problema não é novidade. Em maio de 2007, a Bolsa de Valores de Hong Kong e o Instituto de Diretores de Hong Kong solicitaram que as empresas listadas fossem mais claras na comunicação. “Ser detido pela polícia ou por outras autoridades” não significa um motivo pessoal, disseram.

Pedidos de demissão obscuros têm “sido um ponto nevrálgico para os emissores das empresas registradas em Hong Kong”, disse Michael Cheng, da Associação Asiática de Governança Corporativa, com sede em Hong Kong, por e-mail. “Sem dúvida, os reguladores de Hong Kong deveriam rever essa questão”.

Em 2012, a Comissão de Valores e Futuros de Hong Kong obteve o poder de impor sanções civis por falta de divulgação em tempo hábil de informações que podem influenciar os preços. A comissão não quis fazer mais comentários.

Ardil 22

A superposição entre Hong Kong e a China gera uma possível lacuna. Se um inquérito for aberto na China continental pelas autoridades chinesas, os executivos e reguladores de Hong Kong podem escapar da notificação – ou nem saber do que está acontecendo.

Algumas empresas estão presas em um Ardil 22, disse Cheng, pois são obrigadas a interromper as operações por não poderem divulgar investigações confidenciais.

“Sem essa divulgação, a bolsa de valores não permite que elas retomem as negociações”, disse Cheng. “Daí surge o impasse”.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaChinaCrimeExecutivos

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Negócios

Mais na Exame