Mr. Lam: o Eike que deu certo
No meio da década de 2000, Eike Batista já ambicionava ser o homem mais rico do mundo, mas detinha apenas um modesto recorde, esse jamais constado por ninguém: o de cliente mais esfomeado da história do Mr. Chow (badalado restaurante chinês de Nova York), o glutão capaz de devorar numa só noite 36 satays de […]
Da Redação
Publicado em 31 de maio de 2016 às 16h13.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h51.
No meio da década de 2000, Eike Batista já ambicionava ser o homem mais rico do mundo, mas detinha apenas um modesto recorde, esse jamais constado por ninguém: o de cliente mais esfomeado da história do Mr. Chow (badalado restaurante chinês de Nova York), o glutão capaz de devorar numa só noite 36 satays de frango, o tradicional espetinho oriental.
Gula, aliás, que chamou a atenção do dono do restaurante, o chef Sik Chung Lam, o Mr. Lam, que fez questão de conhecer pessoalmente o empresário brasileiro. A conversa terminou num grande negócio. Eike convenceu Lam a abrir em sociedade uma filial no Rio de Janeiro, batizada com nome do chef chinês, e em pouco tempo, ao custo de 8 milhões de dólares, ergueu, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, um suntuoso restaurante de três andares.
O resto é história. Eike viu o seu sonho ruir, virou protagonista de uma das maiores derrocadas econômicas dos últimos anos, transformando a megalomaníaca meta de virar o homem mais rico do mundo num amontoado de dívidas. Não sobrou pedra sobre pedra dos megaempreendimentos administrados pelo Grupo X, tampouco de seus negócios de valor mais afetivo, como o Hotel Glória, que ele prometia transformar no seis estrelas mais luxuoso do Rio de Janeiro, hoje controlado por um fundo árabe. Até mesmo a McLaren esportiva, avaliada em quase 3 milhões de reais e estacionada no meio da sala do empresário, teve que se vendida por um terço do valor.
A despeito de tudo isso, o Mr. Lam vai muito bem, obrigado. O restaurante completa dez anos de existência ignorando não só a decadência econômica vivida pelo seu proprietário, como a crise financeira que assola o país. Não é exagero afirmar que o restaurante chinês, que virou ponto turístico no Rio, o preferido de celebridades nacionais e internacionais, simboliza o “Eike que deu certo”.
Não há um sinal de decadência no chinês que oferece, no último piso, uma deslumbrante vista para a Lagoa Rodrigues de Freitas e para o Corcovado. Pelo contrário: o espaço com 180 lugares, em plena quarta-feira à noite, já tinha fila de espera – que costuma durar horas nos fins de semana.
O repórter da EXAME Hoje foi acomodado no segundo altar, onde o próprio Eike costumar jantar, hábito que ele retomou recentemente. No meio do turbilhão, para evitar o assédio de clientes e de jornalistas, o empresário evitou o restaurante. “Ele esteve aqui ontem”, diz Éder Heck, gerente da casa.
Heck e os garçons cuidam para que ninguém atrapalhe a refeição do chefe, que continua comendo satays de frango em quantidades industriais. A equipe, porém, não consegue evitar o burburinho de sempre. O gerente diz que ouve a mesma pergunta há anos, seguida de uma piadinha: ‘O Eike ainda é o dono do Mr. Lam?’É? Você não tem medo do restaurante falir? Vai embora enquanto é tempo!’”.
O pato de André Esteves
Heck trabalha há nove anos e meio, ou seja, quase desde a abertura do restaurante, e garante que o Mr. Lam nunca viveu um momento tão bom e que dificilmente seguirá o caminho de outros negócios de Eike. A equipe, formada por chineses e brasileiros, é praticamente a mesma desde a fundação. Os salários, dizem, nunca atrasaram.
“O dono do Mr. Lam é o Eike pessoa física, não o empresário (o chef Lam tem 10% da sociedade e Thor Batista, um dos filhos do empresário, cerca de 2%). Ele sempre colocou dinheiro do bolso dele aqui. É sua grande paixão, mas isso não quer dizer que o restaurante não dê lucro, que não se paga”, diz o gerente. O lucro médio, garante Heck, está na casa dos 13%.
É claro que o seu patrão viveu momentos mais prósperos. Na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, ao assistir, no restaurante, a Alemanha golear a Argentina por 4 a 0, Eike, filho de mãe alemã, mandou avisar que a champanhe era por conta da casa.
O mimo não se repetiu na Copa seguinte, no Brasil, quando a Alemanha ganhou o título, vencendo também a Argentina. “Hoje, se eu servir de graça alguma Veuve Clicquot daquela adega, eu estou no olho da rua”, brinca Heck, apontando para a Veuve Clicquot Vertical Limit, nome dado à luxuosa adega projetada exclusivamente pela Porsche Desing Studio, a única, reforça Heck, com esse formato em todo o mundo.
Cerca de 35% da clientela do Mr. Lam é formada por executivos e empresários. Muitos negócios foram fechados no segundo andar do restaurante – grandes cortinas vermelhas dividem o ambiente em espaços menores. Ali, são devorados dezenas de Peking Duck, pato inteiro laqueado, uma das especialidades da casa, o prato preferido, conta Heck, também de um famoso banqueiro carioca, que reside em São Paulo. “Ele tem loucura por esse pato. Chegou a mandar um helicóptero de São Paulo para o Rio só para buscar o pato. Não vou dizer o nome, nem se você insistir”, diz o gerente, fazendo mistério. O repórter insistiu. “Está bem. É o André Esteves (dono do BTG Pactual). Mas as outras histórias, e têm muitas outras, eu não vou contar, não”. Ah, se a adega projetada pela Porsche falasse.
(Tom Cardoso)