Juventus já valorizou 200 milhões de euros com Cristiano Ronaldo
Chegada do craque faz ações da Juventus dispararem. Mais do que enriquecer o clube de Turim, Cristiano Ronaldo pode ajudar a transformar futebol na Itália
André Jankavski
Publicado em 11 de julho de 2018 às 17h52.
Última atualização em 2 de agosto de 2018 às 12h42.
O craque português Cristiano Ronaldo está acostumado a fazer gols em momentos decisivos e a movimentar milhões de euros por onde passa, mas todo esse poder jamais tinha sido medido pelo mercado financeiro tão de perto. Até agora. Ao deixar o clube espanhol Real Madrid para assinar com a Juventus, atual campeã italiana, por 105 milhões de euros, Cristiano fez as ações da equipe de Turim subirem aos maiores níveis desde 2011.
Nos últimos sete dias, período em que a transação começou a ser ventilada no noticiário esportivo, os papéis do clube subiram 30,4% na Bolsa de Valores de Milão e aumentaram o valor de mercado da Juventus para 853 milhões de euros. Isso significa uma valorização de cerca de 200 de milhões de euros.
Mais do que elevar as receitas do clube italiano, a missão de Cristiano Ronaldo é colocar a Juventus no topo da Europa. A última vez em que a equipe venceu a Liga dos Campeões, principal torneio de clubes do mundo, foi em 1996. Coincidência do destino ou não, Cristiano Ronaldo foi o principal responsável por eliminar a Juventus nas duas últimas edições do campeonato europeu. Além disso, o craque português pode ajudar na recuperação do futebol italiano, que está bem longe dos tempos áureos de jogadores como Franco Baresi, Paolo Rossi e, mais recentemente, Fabio Cannavaro.
Para cumprir esse objetivo, Cristiano Ronaldo receberá 30 milhões de euros anuais até 2022, quando completará 37 anos de idade – idade considerada alta para um jogador de futebol. “O Cristiano vai entrar em um nível que somente Michael Jordan conseguiu, que é de lucrar mesmo perto da aposentadoria”, afirma Amir Somoggi, fundador da consultoria Sports Value. “Como ele cuida muito bem do corpo e da carreira, acredito que irá corresponder muito bem em campo.”
O crescimento nos números da Juventus está longe de ser por acaso. A marca Cristiano Ronaldo é uma das mais fortes do esporte. Um estudo realizado pelos professores Pedro Dionísio e Miguel Rodrigues da escola de negócios portuguesa INDEG-ISCTE apontaram que o valor da marca “CR7” está entre 171 e 186 milhões de dólares.
Por conta disso, o impacto dessa transação deve ser sentido rapidamente no balanço da equipe italiana. A consultoria KPMG estima que a chegada do craque deve render um aumento entre 100 milhões e 130 milhões de euros nas receitas da equipe a partir da temporada 2019/2020. Seria um grande salto para o clube que é apenas o décimo mais rico do mundo, segundo um levantamento da consultoria Deloitte, com um faturamento de 405 milhões de euros. O maior de todos é o Manchester United, da Inglaterra, cujas receitas alcançaram 676,3 milhões de euros no ano passado. Ou seja, mesmo se nem entrasse em campo, Cristiano Ronaldo já traria retornos milionários para a Juventus.
Um clube de capital aberto
Assim como outros clubes tradicionais, como os ingleses Arsenal e Manchester United, o alemão Borussia Dortmund e até mesmo rivais como Lazio e Roma, a Juventus decidiu negociar as suas ações na bolsa de valores. A explicação para isso é a mesma utilizada por empresas convencionais: captar dinheiro para investir no negócio. Em 2001, o clube decidiu abrir o seu capital e captou 128,6 milhões de dólares. Foi o maior valor conseguido por um clube de futebol até 2012, quando o Machester United recebeu 230 milhões de dólares na Bolsa de Nova York.
Os clubes de futebol são avaliados pelos seus títulos, claro, mas também pela gestão e os resultados em quesitos como número de associados e patrocínios. Não à toa, mesmo tendo resultados relevantes como ter sido campeã dos último sete campeonatos italianos e duas vezes vice-campeã na Liga dos Campeões da Europa, as ações da Juventus não subiram tanto como com o anúncio de Cristiano Ronaldo. “A compra será um grande negócio e que aumentará o apelo da Juventus no mundo através de merchandising”, disse um analista italiano para a agência de notícias Reuters.
Além de aumentar a visiblidade do clube, Ronaldo pode melhorar a imagem do futebol italiano, arranhado nos últimos anos por conta da qualidade técnica questionável e por denúncias de corrupção e armação de resultados envolvendo dirigentes de clubes do País da Bota – a Juventus, inclusive, chegou a ser rebaixada em 2006 por envolvimento no escândalo. De lá para cá, os clubes italianos só foram campeões europeus uma vez e a seleção italiana, que foi campeã em 2006, amargou eliminações na primeira fase nas Copas do Mundo. Em 2018, sequer se classificou.
O resultado desses problemas foi a opção de jogadores renomados deixarem de considerar a Itália como um destino relevante para jogar futebol. “Hoje, a Serie A (liga italiana) é a quarta força do futebol, atrás dos campeonatos da Inglaterra, da Espanha e da Alemanha”, diz Somoggi.
Cristiano Ronaldo pode ajudar a mudar essa dinâmica. É o que esperam os torcedores, e os investidores, da Juventus.