Investimento em inovação cai entre empresas brasileiras
Segundo especialistas, moeda fraca e cultura de "inovação reativa" podem ser causa de queda em gastos com projeto e desenvolvimento no Brasil
Luísa Melo
Publicado em 28 de abril de 2014 às 07h52.
São Paulo - A desvalorização do Real e a tradicional forma reativa de se investir em inovação no Brasil podem ser as causas de o país ter perdido posições no ranking das empresas que mais gastam com projeto e desenvolvimento no mundo, segundo especialistas.
Conforme um estudo divulgado na última semana pela Booz & Company, enquanto os gastos com projeto e desenvolvimento (P&D) entre 2012 e 2013 atingiram um volume recorde no mundo todo - um total de 638 bilhões de dólares - no Brasil, na contramão, a parcela investida caiu 18,3% no mesmo mesmo período - de 3,7 para 3 bilhões de dólares.
"De certa forma, essa queda está ligada a uma questão de métrica. O estudo é feito em dólar e, como o real está desvalorizado, o investimento feito no Brasil apresenta um número menor na moeda estrangeira. Em reais, os valores gastos caíram 4,8%, mas em dólares 18,3%", explica Fernando Fernandes, sócio da Booz & Company. "Talvez [a queda] seja um reflexo da crise de 2008. Enquanto o resto do mundo já retomou seus investimentos, nós estamos sofrendo um efeito tardio, ainda que em menor grau que outros países", completa.
O levantamento da Booz & Company é realizado anualmente e lista as mil companhias de capital aberto que mais investem em P&D. Nesta edição, o Brasil perdeu uma posição: a Companhia Paranaense de Energia (Copel), que estava no ranking desde 2011, não foi incluída. As brasileiras presentes são Vale, Petrobras, Gerdau, Totvs, CPFL e Embraer. Veja a tabela:
Posição | Empresa | Investimento em 2013 | Investimento em 2012 |
---|---|---|---|
95 | Vale | US$ 1,49 mi | US$ 1,71 mi |
119 | Petrobras | US$ 1,15 mi | US$ 1,46 mi |
714 | Gerdau | US$ 123 mi | US$ 126 mi |
902 | Totvs | US$ 90 mi | US$ 105 mi |
937 | CPFL Energia | US$ 85 mi | US$ 128 mi |
985 | Embraer | US$ 78 mi | US$ 86 mi |
Para o coordenador do núcleo de inovação da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda, um dos motivos de as empresas brasileiras investirem menos em projeto e desenvolvimento é a cultura de inovar apenas para sustentar a capacidade competitiva. "É o que eu chamo de 'inovação de retrovisor', que olha para o passado e acontece em resposta a uma exigência de mercado ou entrada de um novo competidor", diz o professor. "Por isso, o investimento em P&D, que geralmente está associado ao futuro (desenvolvimento de novas tecnologias, novos equipamentos e de nacionalização de algum produto) é menor", completa.
Segundo o professor, essa tendência é confirmada pela pesquisa Sondagem de Inovação realizada pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) a cada três meses, junto a 300 empresas. No levantamento feito no primeiro trimestre deste ano, por exemplo, 66,4% das empresas disseram que a busca por maior participação no mercado era um fator de alta importância na hora de decidir sobre investir em inovação.
Para Fernando Fernandes, o problema também está relacionado à "qualificação da economia brasileira". "Aqui, as empresas ainda estão mais preocupadas em dar conta de atender as demandas mais básicas, relacionadas à infraestrutura e ocupação do mercado, do que em investir em sofisticação. Temos grandes redes de varejo, por exemplo, mas companhias desse setor investem em abrir novas lojas, não em inovação".
As que mais investem
No topo do ranking da empresas que mais investem está a Volksvagen, seguida de gigantes como Samsung, Roche Holding, Intel e Microsoft. Veja os números:
Posição | Empresa | Investimento em 2013 | Variação em relação a 2012 | Parcela da receita investida |
---|---|---|---|---|
1 | Volksvagen | US$ 11,4 bi | 22,40% | 4,60% |
2 | Samsung | US$ 10,4 bi | 15,60% | 5,80% |
3 | Roche Holding | US$ 10,2 bi | 14,70% | 21,00% |
4 | Intel | US$ 10,1 bi | 21,50% | 19,00% |
5 | Microsoft | US$ 9,8 bi | 8,50% | 13,30% |
São Paulo - A desvalorização do Real e a tradicional forma reativa de se investir em inovação no Brasil podem ser as causas de o país ter perdido posições no ranking das empresas que mais gastam com projeto e desenvolvimento no mundo, segundo especialistas.
Conforme um estudo divulgado na última semana pela Booz & Company, enquanto os gastos com projeto e desenvolvimento (P&D) entre 2012 e 2013 atingiram um volume recorde no mundo todo - um total de 638 bilhões de dólares - no Brasil, na contramão, a parcela investida caiu 18,3% no mesmo mesmo período - de 3,7 para 3 bilhões de dólares.
"De certa forma, essa queda está ligada a uma questão de métrica. O estudo é feito em dólar e, como o real está desvalorizado, o investimento feito no Brasil apresenta um número menor na moeda estrangeira. Em reais, os valores gastos caíram 4,8%, mas em dólares 18,3%", explica Fernando Fernandes, sócio da Booz & Company. "Talvez [a queda] seja um reflexo da crise de 2008. Enquanto o resto do mundo já retomou seus investimentos, nós estamos sofrendo um efeito tardio, ainda que em menor grau que outros países", completa.
O levantamento da Booz & Company é realizado anualmente e lista as mil companhias de capital aberto que mais investem em P&D. Nesta edição, o Brasil perdeu uma posição: a Companhia Paranaense de Energia (Copel), que estava no ranking desde 2011, não foi incluída. As brasileiras presentes são Vale, Petrobras, Gerdau, Totvs, CPFL e Embraer. Veja a tabela:
Posição | Empresa | Investimento em 2013 | Investimento em 2012 |
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95 | Vale | US$ 1,49 mi | US$ 1,71 mi |
119 | Petrobras | US$ 1,15 mi | US$ 1,46 mi |
714 | Gerdau | US$ 123 mi | US$ 126 mi |
902 | Totvs | US$ 90 mi | US$ 105 mi |
937 | CPFL Energia | US$ 85 mi | US$ 128 mi |
985 | Embraer | US$ 78 mi | US$ 86 mi |
Para o coordenador do núcleo de inovação da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda, um dos motivos de as empresas brasileiras investirem menos em projeto e desenvolvimento é a cultura de inovar apenas para sustentar a capacidade competitiva. "É o que eu chamo de 'inovação de retrovisor', que olha para o passado e acontece em resposta a uma exigência de mercado ou entrada de um novo competidor", diz o professor. "Por isso, o investimento em P&D, que geralmente está associado ao futuro (desenvolvimento de novas tecnologias, novos equipamentos e de nacionalização de algum produto) é menor", completa.
Segundo o professor, essa tendência é confirmada pela pesquisa Sondagem de Inovação realizada pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) a cada três meses, junto a 300 empresas. No levantamento feito no primeiro trimestre deste ano, por exemplo, 66,4% das empresas disseram que a busca por maior participação no mercado era um fator de alta importância na hora de decidir sobre investir em inovação.
Para Fernando Fernandes, o problema também está relacionado à "qualificação da economia brasileira". "Aqui, as empresas ainda estão mais preocupadas em dar conta de atender as demandas mais básicas, relacionadas à infraestrutura e ocupação do mercado, do que em investir em sofisticação. Temos grandes redes de varejo, por exemplo, mas companhias desse setor investem em abrir novas lojas, não em inovação".
As que mais investem
No topo do ranking da empresas que mais investem está a Volksvagen, seguida de gigantes como Samsung, Roche Holding, Intel e Microsoft. Veja os números:
Posição | Empresa | Investimento em 2013 | Variação em relação a 2012 | Parcela da receita investida |
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1 | Volksvagen | US$ 11,4 bi | 22,40% | 4,60% |
2 | Samsung | US$ 10,4 bi | 15,60% | 5,80% |
3 | Roche Holding | US$ 10,2 bi | 14,70% | 21,00% |
4 | Intel | US$ 10,1 bi | 21,50% | 19,00% |
5 | Microsoft | US$ 9,8 bi | 8,50% | 13,30% |