Fui eu sozinho que organizei minha partida do Japão, diz Ghosn
O ex-executivo, que está foragido no Líbano, afirmou que as informações de que sua família estava envolvida na fuga são falsas
AFP
Publicado em 2 de janeiro de 2020 às 14h28.
Última atualização em 4 de janeiro de 2020 às 10h20.
O ex-chefe da Renault-Nissan Carlos Ghosn afirmou nesta quinta-feira que organizou "sozinho" sua partida do Japão , onde permaneceu em prisão domiciliar aguardando o julgamento por irregularidades financeiras, para se refugiar no Líbano. Ele é processado por peculato financeiro, em direção ao Líbano, negando qualquer envolvimento de sua família.
Em uma breve declaração divulgada por seus advogados, o empresário eximiu os membros de sua família, especialmente sua esposa, Carole, de qualquer responsabilidade.
"As alegações na mídia de que minha esposa Carole e outros membros da minha família tiveram um papel importante na minha partida do Japão são falsas e mentirosas. Fui eu quem organizou minha partida. Minha família não teve nenhum papel", garantiu Ghosn em um breve comunicado de imprensa recebido pela AFP.
Nesta quinta-feira, o governo do Líbano também recebeu um mandado de prisão de Ghosn emitido pela Interpol, anunciou o ministro libanês da Justiça, Albert Sarhane.
A ordem, um alerta vermelho da Interpol que pede às autoridades para prender uma pessoa procurada, foi recebida pelas forças de segurança interna do Líbano, e ainda não foi encaminhada ao Judiciário, afirmou a fonte citada pela agência Reuters.
- O Ministério Público (...) recebeu um alerta vermelho da Interpol sobre o caso Carlos Ghosn - disse Sarhane, citado pela agência de notícias oficial ANI.
Em casos anteriores em que o Líbano recebeu alertas vermelhos da Interpol para cidadãos libaneses residentes no país, os suspeitos não foram detidos, mas seus passaportes foram confiscados e uma fiança foi estabelecida, disse a fonte.
Ainda hoje, a polícia fez uma operação nesta quinta-feira na residência de Carlos Ghosn em Tóquio, ao mesmo tempo que as autoridades turcas anunciaram a detenção de várias pessoas na tentativa de elucidar as circunstâncias da fuga para o Líbano, via Istambul, do ex-titã da indústria automobilística.
Canais de TV japoneses exibiram nesta quinta-feira imagens de policiais entrando na casa de Tóquio na qual o ex-CEO da aliança Renault-Nissan estava em prisão domiciliar.
Já de acordo com a agência de notícias DHA, a polícia turca prendeu sete pessoas, incluindo quatro pilotos, sob suspeita de auxiliar Ghosn a viajar ao Líbano a partir de um aeroporto de Istambul, onde ele chegou em um voo procedente do Japão.
Ghosn, de 65 anos, está livre sob fiança em Tóquio, desde abril do ano passado, aguardando julgamento que poderia representar uma longa sentença de prisão para ele.
A emissora pública japonesa "NHK" informou hoje que Ghosn tinha dois passaportes franceses e um deles poderia usá-lo para entrar legalmente no Líbano.
O ex-executivo chegou a Beirute na última segunda-feira em um avião particular, depois de fazer uma escala na Turquia, onde uma investigação foi aberta e sete pessoas foram presas hoje por supostamente facilitar sua fuga.
Por sua parte, a Segurança-Geral libanesa disse na terça-feira que o acusado entrou "legalmente" no país árabe, do qual ele tem nacionalidade, além do brasileiro e francês.
Da prisão à fuga
Carlos Ghosn decidiu fugir do Japão depois de saber que seu julgamento foi adiado para abril de 2021, e também porque não teve permissão de falar com a esposa, disseram fontes próximas do ex-chefe da Nissan à Reuters.
Ghosn, de 65 anos, que também comandou a Renault e é uma das figuras mais conhecidas da indústria automobilística mundial, enfrenta quatro acusações, que nega, que incluem ocultar renda e enriquecer através de pagamentos a concessionárias de automóveis do Oriente Médio.
A seguir, algumas das principais datas do caso, desde a prisão de Ghosn 14 meses atrás até sua audaciosa fuga nesta semana.
19 de novembro de 2018
A polícia japonesa prendeu Ghosn quando ele chegou a um aeroporto de Tóquio em seu jato particular, e procuradores o acusaram de relatar somente cerca de metade do valor de seu salário ao longo de um período de cinco anos que durou até março de 2015.
10 de dezembro 2018
Procuradores de Tóquio indiciaram Ghosn por supostamente relatar valores menores de sua renda. Eles também voltaram a prendê-lo devido a alegações de que ele subvalorizou sua renda durante mais três anos até março de 2018.
21 de dezembro 2018
Procuradores japoneses prenderam Ghosn novamente devido a alegações de que ele fez a Nissan arcar com 16,6 milhões de dólares de perdas em investimentos pessoais, o que acabou com suas chances de ser solto sob fiança antes do Natal.
6 de março 2019
Ghosn, que havia sido detido por mais de 100 dias, deixou uma prisão de Tóquio graças a uma fiança de 9 milhões de dólares, passando ao largo dos repórteres com o rosto encoberto. Cercado por seguranças e vestido com um uniforme de funcionário e um boné azul, Ghosn surgiu com o rosto oculto por óculos escuros e uma máscara.
4 de abril de 2019
Procuradores japoneses prenderam Ghosn novamente devido à suspeita de que ele tentou enriquecer à custa da Nissan. Foi a quarta vez em que procuradores prenderam o antes celebrado executivo.
25 de abril de 2019
Ghosn saiu de uma prisão japonesa, solto sob fiança pela segunda vez, depois de concordar com limites nos contatos com a esposa enquanto aguardava um julgamento provocado por acusações de má conduta financeira.
8 de junho de 2019
Ghosn se declarou inocente em sua primeira aparição pública desde sua prisão em novembro de 2018, dizendo a um tribunal de Tóquio que foi acusado equivocadamente de má conduta financeira. Ele foi levado à sala da corte algemado e com uma corda ao redor da cintura, parecendo mais magro do que antes de ser preso, e seu cabelo escuro exibia raízes brancas.
31 de dezembro de 2019
Ghosn disse que fugiu para o Líbano para escapar do que classificou como um sistema de Justiça "manipulado". Não ficou claro como ele, que tem cidadania francesa, libanesa e brasileira, conseguiu orquestrar a saída do Japão. Solto sob fiança, ele estava sob vigilância rígida das autoridades e havia devolvido seus passaportes.
(Com Agência O Globo, Reuters, AFP e EFE)