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Frangos: felicidade dá lucro?

Seaford, Delaware – A luz do sol se espalha pelo chão no final de um galinheiro em Ash-O-Ley Acres, e alguns frangos cornish batem as asas enquanto correm uns atrás dos outros. No outro extremo do galpão, onde as janelas foram cobertas como parte de uma comparação, os frangos parecem sonolentos e se movem lentamente. “Essa […]

AVICULTURA: a fabricante de alimentos Perdue testa a eficácia de criar seus frangos com luz solar, num esforço para melhorar o bem-estar animal / T.J. Kirkpatrick/The New York Times (T.J. Kirkpatrick/The New York Times/The New York Times)
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Da Redação

Publicado em 7 de julho de 2016 às 11h04.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h06.

Seaford, Delaware – A luz do sol se espalha pelo chão no final de um galinheiro em Ash-O-Ley Acres, e alguns frangos cornish batem as asas enquanto correm uns atrás dos outros. No outro extremo do galpão, onde as janelas foram cobertas como parte de uma comparação, os frangos parecem sonolentos e se movem lentamente.

“Essa é a segunda vez que crio galinhas com acesso à luz do sol. Agora elas estão muito mais alegres. Dá pra ver. Estão mais ativas, mais brincalhonas”, afirmou Karen Speake, cuja família cria galinhas para a Perdue Foods, a quarta maior empresa produtora de derivados de frango do país há quase quatro décadas.

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Ao longo dos próximos anos, todas as galinhas utilizadas pela Perdue – 676 milhões de animais no ano passado – terão acesso à luz solar, como parte de uma ambiciosa mudança nas práticas de bem estar animal adotadas pela empresa. O compromisso levará a Perdue a seguir padrões similares aos aplicados na Europa, considerados antiquados, ineficientes e caros por boa parte dos criadores americanos.

Além de instalar janelas, o plano é dar mais espaço aos frangos. A empresa planeja inclusive mudar as práticas de cruzamento para diminuir a velocidade de crescimento das aves, ou ao menos para reduzir o tamanho do peito dos animais, medidas que podem diminuir a incidência e a gravidade de problemas nas patas, algo que atraiu uma atenção indesejada da empresa.

Além disso, a Perdue planeja dopar os frangos antes de abatê-los, uma medida adotada há anos pela Bell & Evans, empresa de médio porte do setor. “Mais do que aquilo que as galinhas precisam, nosso plano é dar aquilo que elas querem”, afirmou Jim Perdue, cujo avô fundou a empresa em 1920.

O setor argumenta há muito tempo que essas medidas aumentariam os custos de produção e acabariam afetando os consumidores. Contudo, a Perdue, que registrou 6 bilhões de dólares em vendas no ano passado e aumentou a produção em mais de nove por cento, aposta que essas preocupações são exageradas, com base em suas experiências até o momento.

A medida também pode gerar um efeito dominó no setor, forçando os concorrentes a adotarem práticas similares. Quando a Perdue anunciou que pretendia parar de usar antibióticos, muitos concorrentes fizeram o mesmo seguindo as exigências de grandes clientes. “Isso vai mudar de muitas maneiras a forma como fazemos negócio no setor”, afirmou Perdue.

Várias pesquisa realizadas pelos setores de carne bovina e derivados de leite sugerem que as pessoas se preocupam e gostariam de saber como os animais são tratados. Por essa razão, de acordo com Perdue, a empresa planeja publicar relatórios anuais sobre como os novos padrões estão progredindo. “Queremos poder responder por nossas práticas. Se fizermos alguma bobagem, temos de estar preparados para reconhecer o erro.”

No fim de 2014, o grupo de defesa dos direitos dos animais, Compassion in World Farming, publicou um vídeo filmado em uma fazenda contratada pela Perdue mostrando pássaros com os peitos sem pena sentados empoleirados sobre amônia e fezes. Alguns meses antes, a Perdue concordou em parar de usar a frase “criação humanizada” nas embalagens da linha Harvestland, como parte de um acordo firmado após um processo aberto pela Humane Society dos Estados Unidos.

Ainda assim, em uma entrevista há um ano, Perdue não teve papas na língua, enfatizando que o departamento de agricultura estava de acordo com os padrões de bem-estar animal da Perdue. Por isso, Leah Garces, diretora do braço americano da Compassion, ficou surpresa este ano quando Perdue a convidou para conversar sobre bem-estar animal com Bruce Stewart-Brown, o vice-presidente sênior de segurança alimentar, qualidade e operações da empresa.

“Quando você se reúne com alguém como Bruce, que está no comando de uma empresa que explora tantos animais, a gente tem a impressão de que não vai ter nada em comum. Mas quando começamos a conversar, percebemos que temos muito mais em comum do que imaginávamos”, afirmou Leah.

Ela afirmou que enquanto a Tyson Foods, a maior produtora de derivados de frango dos EUA, pediu para que seus produtores adotassem as cinco liberdades do bem-estar animal – incluindo a garantia de que estejam livres do desconforto, do medo e da tensão –, a Perdue deu um passo além, insistindo para que os produtores garantam que elas sejam aplicadas. “A Perdue está indo muito mais longe que a Tyson, e nenhuma outra grande empresa do setor chegou perto disso”, afirmou Leah.

Ao longo da última década, a Perdue fez mais do que qualquer outra grande empresa americana do setor para eliminar todos os tipos de antibióticos de seus produtos. Dessa forma, tornou-se impossível criar tantos pássaros em espaços limitados e sob condições que muitas pessoas consideram insalubres. A Tyson e a Pilgrim’s Pride, a segunda maior fábrica de derivados de frango do mundo, também passaram a reduzir o uso de antibióticos.

A compra da Coleman Natural Foods, que produz carnes orgânicas, em 2011, assim como a aquisição da Niman Ranch, produtora de carne suína e bovina de alta qualidade, no ano passado, também ajudaram a convencer Perdue de que sua empresa, atualmente a maior produtora de frangos orgânicos do país, seria capaz de aumentar o bem-estar animal sem prejudicar o faturamento.

“Na qualidade de uma grande produtora de carne de ave, achei que teríamos muito mais dificuldades de criar frangos orgânicos. Entretanto, descobrimos que isso traz muitos benefícios para os animais, o que possibilita aplicar essas técnicas em larga escala”, afirmou.

Perdue viajou recentemente por todo o país, conversando sobre o novo programa de bem-estar animal com muitos dos 2.200 avicultores que trabalham para a empresa. Agora, os criadores não serão compensados apenas pela eficiência; ao invés disso, a Perdue irá premiá-los por garantir que os animais sejam criados de forma mais humanizada.

(Stephanie Strom/ © 2016 New York Times News Service)

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