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Fim do acordo têxtil internacional aumenta temor por produtos asiáticos

Brasil deveria adotar salvaguardas contra países da região para evitar enxurrada de importações, afirma a Abit

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

O setor têxtil brasileiro começa o ano preocupado com uma possível invasão de produtos asiáticos nos próximos meses. O temor é causado pelo fim do Acordo Têxtil e de Vestuário (ATV), que vigorou até o último dia de 2004. Durante 40 anos, o ATV regulamentou as cotas de exportação de têxteis de cada país e contribuiu para que o Brasil não fosse inundado por artigos asiáticos, que cresceram à base de mão-de-obra barata e produção em escala. Sem o ATV, os produtos brasileiros querem novas proteções.

"É possível estabelecer salvaguardas de importação contra esses países, porque é um mecanismo previsto pela OMC [Organização Mundial do Comércio]", afirma Fernando Pimentel, diretor da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Pimentel ressalta que o Brasil nunca precisou recorrer à imposição de cotas para conservar seu mercado. As barreiras atuais são tarifárias: quem quiser comprar artigos estrangeiros paga uma tarifa de 15% a 20%.

Outros países também estão preocupados com a ameaça dos têxteis asiáticos. A União Européia, por exemplo, já havia anunciado, no ano passado, uma série de medidas tarifárias para conter a entrada desses produtos. Qualquer país exportador que detenha mais de 12,5% do mercado europeu de têxteis perderá descontos em tarifas e a participação em regimes especiais de importação. Atualmente, a China responde por 20% do mercado de têxteis da Europa, seguida pela Índia, com 11%. Nos Estados Unidos, uma das plataformas sobre a qual o presidente George W. Bush foi reeleito, no ano passado, era a intenção de promover uma guerra comercial com a China, a fim de impedir o predomínio do país no setor têxtil americano.

Impactos para o Brasil

Segundo Pimentel, da Abit, o Brasil já começa a sentir alguns efeitos do fim do ATV. O primeiro é que as importações já estão num ritmo mais acelerado que as vendas para o exterior. No ano passado, as exportações brasileiras de têxteis e artigos confeccionados cresceram 21%, para 2 bilhões de dólares, enquanto as importações subiram 30%, para 1,35 bilhão.

Sem o regime de cotas, o ritmo das importações pode se acentuar ainda mais. Além da China e da Índia, o regime de cotas beneficiava pequenas economias altamente dependentes das exportações de têxteis. Cerca de 80% das exportações de Macau devem-se ao setor, segundo a Abit. No Sri Lanka, a porcentagem é de 50%. Na Turquia, de 40%. Sem o mercado cativo garantido pelas cotas determinadas pelo ATV, esses países tendem a se tornar mais agressivos no comércio mundial, voltando-se para países com bom potencial de consumo, como o Brasil, o que elevará a concorrência com a indústria local.

Pimentel alerta que a valorização do câmbio deixou o mercado brasileiro ainda mais vulnerável às importações e desestimulou as exportações. "Enquanto isso, o câmbio chinês está muito favorável para as exportações daquele país", diz. "É fundamental que o Brasil regulamente as salvaguardas contra os têxteis asiáticos", afirma Pimentel.

Oportunidades

O outro lado do fim das cotas são as oportunidades que se abrem para os empresários brasileiros. Atualmente, o Brasil não responde nem por 1% do comércio mundial de têxteis e confeccionados, que encerrou 2004 na casa dos 380 bilhões de dólares. A meta da Abit é alcançar exportações de 4 bilhões até 2008.

A América do Norte é vista como o mercado com maior potencial de desenvolvimento. Entre janeiro e outubro de 2004 (últimos dados disponíveis), o continente absorveu 26,3% das vendas brasileiras do setor. Só os Estados Unidos representaram 24,6 pontos percentuais desse total.

Para aproveitar o fim das cotas e elevar os negócios, os exportadores brasileiros esperam que o governo sele acordos comerciais que beneficiem o setor. "Temos que investir nesses acordos", afirma Pimentel. Quem o fez já colhe seus frutos. O Vietn, que experimenta um crescimento econômico expressivo desde que decidiu abrir a economia há dez anos é um exemplo. O acordo comercial mais importante que o país assinou até hoje foi com os Estados Unidos. Agora, os americanos compram mais de 2 bilhões de dólares (a totalidade das exportações brasileiras do setor) em artigos têxteis. Em 2003, as exportações vietnamitas subiram 21%.

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