Faria Lima contra a fome: agenda social mobiliza empresas e investidores
Para o investidor Florian Bartunek, no meio da pandemia o combate à vulnerabilidade social é o melhor investimento de curto prazo para o empresariado brasileiro
Maria Clara Dias
Publicado em 21 de maio de 2021 às 06h20.
Última atualização em 21 de maio de 2021 às 12h45.
Para o investidor e fundador da Constellation Asset, Florian Bartunek , o retorno com questões sociais urgentes tende a ser maior do que com ações filantrópicas que miram resultados a longo prazo. E essa é a realidade predominante durante a pandemia de covid-19.
Combater a fome agora concentra boa parte das ações filantrópicas da Constellation, tomando o primeiro lugar no pódio das priorizações sociais, acima até da atuação educacional da empresa - algo que também é pregado pela Fundação Estudar, na qual Bartunek é também presidente do conselho.
A mudança de curso vem em momento pertinente. Com a crise sanitária e o colapso do sistema público de saúde, um movimento natural do empresariado brasileiro foi o de apoiar a manutenção, compra e distribuição de equipamentos e insumos de saúde. Numa outra ponta, porém, a população mais pobre sofre com uma das consequências das incertezas na economia causadas pela pandemia: a fome.
Com isso, Bartunek entra para um seleto grupo de empresários que apoiam a urgência de ações com foco na geração e melhor distribuição de renda. Junto dele estão empresas como Dasa, Fundação Casas Bahia, PwC, Grupo Movile, Ânima Educação, Ipiranga, Instituto C&A, Arezzo & Co, Falconi, entre outros. Em comum, todas essas companhias contribuem com a campanha de combate à fome capitaneada pela ONG Gerando Falcões, do empreendedor social Edu Lyra. Pelo segundo ano consecutivo, a ONG é o principal catalisador de doações com foco no combate à fome em comunidades carentes.
Bartunek, assim como o bilionário Jorge Paulo Lemann, assumiram o compromisso de doar 500.000 reais, caso a campanha atingisse esse montante em um período de 5 dias - algo que de fato aconteceu. Em poucos meses, foram 46 milhões de reais captados, recurso suficiente para alimentar 800.000 pessoas em 700 favelas do país, de acordo com as estimativas de Lyra. O valor foi arrecadado por aproximadamente 93.000 doadores, nacionais e internacionais. “É como erguer a maior força de vendas da filantropia brasileira”, diz o empreendedor.
Na entrevista a seguir, Florian Bartunek, fundador da Constellation e colunista da EXAME, destaca a importância do comprometimento de empresas durante a pandemia, além de explicar o racional do engajamento social do empresariado brasileiro durante a pandemia.
Ação social
“Sempre acreditamos que a nossa força para ajudar a sociedade e tentar minimizar o impacto das nossas operações é através da educação financeira. Mas, nesses últimos doze meses, o assunto mais importante do Brasil foi claramente a pandemia. Decidimos então, ao invés de focar nossos esforços todos em educação, neste ano também ajudar a sociedade. E isso é algo que deve ser muito mais natural a partir de agora.”
ESG
“O princípio do ESG é a materialidade, e com isso, cada empresa tem uma maneira de se tornar de fato ESG. Para a Vale do Rio Doce, por exemplo, a questão ambiental é o foco. Para a Constellation, nunca foi o meio ambiente a prioridade, mas sim a educação financeira, pelo fato de lidarmos com isso com mais familiaridade. A diferença é que agora o desejo genuíno de fazer o bem também está junto da urgência social, para todas empresas - o que acaba as tirando de uma zona de conforto.”
Engajamento do empresariado
“As companhias perceberam que é possível ajudar também nos pontos que vão além de onde ela mais pode agregar. Na pandemia, ficou muito claro que os pilares de saúde, emprego e fome eram essenciais. Como empresa e como investidor, contribuir com a empregabilidade já é natural, pelo fato de já investir em outras companhias. Mas, quando falamos da fome, o assunto ganha mais importância do que nunca.”
Investimentos
“Já aprendi que investir em educação é algo que traz retorno apenas em médio e longo prazo. Investimos em um jovem, dando uma bolsa de estudos, ele vai se qualificar, conseguir um bom emprego e trazer retorno em dois ou três anos. Mas, do que adianta isso, se ele estiver passando fome e se quer conseguir ir estudar? Assim como passa pela minha cabeça, também já é verdade absoluta para as demais empresas de que a fome é hoje o principal problema social que vivemos. É agora um investimento de curto prazo. Lá na frente podemos voltar a focar apenas em educação, mas nossa urgência agora é outra.”
Brasil tem muito a avançar em filantropia
“O Brasil, por uma questão de cultura e também questões fiscais, tem um menor nível de ações filantrópicas. Mas algo inédito aconteceu no ano passado: a desigualdade ficou muito mais exposta e escancarada. Isso fez querer engajar, e despertou um novo senso de filantropia no Brasil. Espero que isso se mantenha, vire uma tradição. Os empresários se engajando é algo lindo e meu grande sonho é que isso continue, mesmo depois da pandemia. Pois a desigualdade vai continuar existindo, então é mais do que justo a Faria Lima ajudar.”
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