Fábrica brasileira de semicondutores investe R$ 650 milhões para produzir mais e até exportar chips
Com sede em Atibaia, Zilia já está há 25 anos no mercado e chegou a participar de companhia com faturamento na casa dos R$ 2 bilhões anuais
Repórter de Negócios
Publicado em 1 de julho de 2024 às 10h00.
Última atualização em 1 de julho de 2024 às 15h41.
A pandemia da covid-19 evidenciou bem como uma cadeia de suprimentos funciona: houve redução de produção nas fábricas de semicondutores na Ásia. Como consequência, países e setores correram para conseguir comprar esses chips. Mesmo assim, a demanda foi maior que a oferta, e montadoras de carro, que usam chips eletrônicos em partes tecnológicas do veículo, por exemplo, passaram a vender produtos sem todos esses componentes.
Tanto é que, se você comprou um carro durante a pandemia, ou tem um carro que foi produzido entre 2020 e 2022, pode ter a prova disso. Talvez esteja faltando um chip de bluetooth, ou uma das tecnologias agregadas no painel de controle não estejam operando como deveriam.
Não é nada que impacte na segurança do motorista, mas a falta desses componentes ajuda a evidenciar duas coisas: a necessidade de uma cadeia de suprimentos estruturada e, como a Ásia domina o mercado de chips no mundo.
Como contra-ataque, países ocidentais começaram a se mexer. Os Estados Unidos, por exemplo, quer nacionalizar cada vez mais a produção de chips, não só para carros, mas para qualquer tipo de tecnologia. Os investimentos na terra do Tio Sam para nacionalização da produção já passam dos bilhões de dólares.
No Brasil, não é diferente. No último ano, o governo federal retomou a discussão sobre a viabilidade da Ceitec, a indústria de chips estatal do Rio Grande do Sul, ao passo em que iniciativas como o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (PADIS) foram prorrogadas.
Fora das instituições públicas, a iniciativa privada também se mobiliza.
A Zilia Technologies, uma indústria de manufatura de semicondutores e de cartões de memória sediada em Atibaia, a 60 quilômetros de São Paulo, acaba de anunciar um investimento de 650 milhões de reais até o final do ano que vem com o objetivo de expandir sua capacidade produtiva e ampliar o portfólio de produto. A ideia também é intensificar a exportação de chips.
Como esse dinheiro será usado
Desse valor, cerca de 475 milhões de reais serão destinados ao aumento da sua capacidade produtiva atual. Suas duas fábricas, localizadas em Atibaia e outra no polo industrial de Manaus, que receberão novas máquinas e equipamentos, utilizados tanto no encapsulamento e testes de novos circuitos integrados, como na montagem de dispositivos eletrônicos baseados em semicondutores.
A área de produção da fábrica de Atibaia também será ampliada em cerca de 1,5 mil metros quadrados, e receberá uma nova linha de produção, dedicada à exportação.
Os outros 175 milhões de reais serão destinados a atividades de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I), com foco em produtos, processos industriais e qualificação de recursos humanos.
“A Zilia hoje faz componentes para grandes fabricantes de computadores e smartphones”, diz Rogério Nunes, CEO da empresa. “Agora, além disso, estaremos também comercializando produtos como outras memórias para celulares, SSDs e cartões de memórias para celulares e máquinas fotográficas. Ou seja, vamos produzir para o varejo. Também teremos semicondutores para o setor automotivo. São novos mercados que ganhamos ”.
Até o ano passado, a Zilia era subsidiária da Smart Modular, uma empresa de semicondutores norte-americana listada em Bolsa. Enquanto fazia parte desse grupo, a empresa faturava algo em torno de 400 milhões de dólares.
Qual é a história da Zilia
Nunes começou um negócio de chips em 1997, numa época que imprime bem a expressão “avanço tecnológico”. A internet começava a engatinhar no Brasil, assim como os primeiros computadores pessoais. O assunto nas mesas das famílias, das empresas e até dos bares passava por uma revolução tecnológica - algo semelhante ao que acontece hoje com a inteligência artificial.
Sua trajetória profissional foi iniciada na NEC do Brasil, onde ocupou diversos cargos gerenciais, principalmente relacionados à manufatura e vendas de componentes semicondutores, até ingressar na Elpida como gestor dos negócios da empresa para o Brasil. Rogério passou a integrar a Zilia em 2002, liderando o início das operações da empresa no país.
A Zilia nasceu surfando na onda de uma segunda fase do mercado dos chips no mundo, iniciada em meados dos anos 1980, quando países como Estados Unidos lideraram uma transformação tecnológica com novos produtos como walkmans e televisões mais modernas.
No início, a Zilia produzia apenas módulos de memória. A entrada no universo de chips aconteceu em 2005, quando construíram uma fábrica de semicondutores em Atibaia e passaram a encapsulá-los. Nessa época, já estavam em parceria com a norte-americana Smart.
No universo de chips, há três etapas. A primeira é o desenho do chip. É a parte de maior valor agregado, pois é como o chip é esculpido para depois ser reproduzido. Geralmente essa etapa está sob grandes economias já bem estabelecidas, principalmente na América do Norte e na Ásia.
A segunda etapa é a de encapsulamento e teste, quando o chip ganha vida. É nessa etapa que atua a Zilia em Atibaia. A última etapa é a de montagem dos módulos, quando eles ficam prontos para serem inseridos nos componentes finais. Aqui a Zilia também atua, com a fábrica de Manaus.
Em 2023, com a saída da Smart, a Zilia (sob novo nome) passou a andar com pernas próprias. Parte do capital deste exit está sendo aplicado agora, no investimento para crescimento da operação.
“A Zilia já fez investimentos pesados no Brasil. Investimentos acumulados muito superiores a esse, e vamos seguir investindo no país”, diz Nunes. “Esse investimento de agora é do ano calendário de 2024 e deve durar cerca de 12 meses. É muito provável que ano que vem, quando esses 650 milhões de reais já foram investidos, novos anúncios de investimento serão feitos”.
Por questões contratuais, a empresa não divulga quais são seus clientes nem quanto fatura agora, fora da parceria com a Smart.