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Eugênio Staub deixa a presidência da Gradiente

Empresário fica só no conselho de administração e diz que planeja fazer oferta pública de ações

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 17 de maio de 2011 às 19h17.

Em meio a uma de suas mais sérias crises financeiras, a Gradiente vai passar pela mais profunda reestruturação de sua história. Eugênio Staub, principal acionista e presidente executivo, deixa o comando da companhia no fim do mês  e permanece apenas na presidência do conselho de administração.

Em seu lugar assume o executivo Nelson Bastos, sócio da Íntegra Associados, consultoria especializada em recuperação de empresas em dificuldades. Bastos é um dos fundadores da própria Gradiente. A Íntegra também foi contratada para cuidar da reestruturação financeira. Segundo Staub, a empresa planeja fazer uma oferta pública de ações nos próximos anos.

Antes disso, porém, Bastos terá de colocar as contas da Gradiente em dia. Os executivos da empresa não admitem que haja crise, mas no mercado comenta-se que as dívidas crescentes foram as responsáveis pela recente venda da marca Philco, adquirida há pouco menos de dois anos, por 22 milhões de reais.

Além disso, Staub confirma que já acertou a venda de uma de suas três fábricas para a Honda, por 27 milhões de reais e que negocia  com um investidor a venda dos cinco prédios da primeira unidade produtiva da Gradiente em Manaus. O valor do negócio é estimado em 20 milhões de reais.

A produção ficará concentrada na fábrica que era da Philco, mais moderna e enxuta. A necessidade de fazer caixa também teria sido o motivo para que, no primeiro semestre, a empresa queimasse seu estoque de aparelhos de DVDs, oferecendo o produto com  descontos de 35%.

Na nova fase a Gradiente deverá focar sua atuação na linha de televisores de LCD, plasma e  de  tubo de tela plana com perfil mais estreito. "Vender televisores de tubo tradicionais deixou de ser um bom negócio", diz Staub.

Outra grande aposta da marca é a tecnologia de TV digital. As transmissões começam no fim deste ano e Bastos diz que a Gradiente é a empresa que está mais adiantada nas pesquisas do sistema brasileiro de transmissão. Já foram investidos 20 milhões de reais, sendo que metade com recursos do governo.


A empresa já tem aparelhos portáteis  com telas de 5 polegadas que funcionam no novo padrão e Staub acredita que  esse novo tipo de receptor  será um sucesso. A empresa também deve voltar ao mercado de celulares, mas não mais no segmento mais popular.

Depois da bem sucedida sociedade com a Nokia - desfeita em 2000 e que rendeu 415 milhões de dólares à Gradiente - e de uma parceria pouco frutífera com a francesa Sagen, Bastos e Staub querem agora o mercado de celulares mais sofisticados. "Serão aparelhos com convergência de tecnologias", afirma Bastos. Uma das possibilidades é lançar celulares capazes de captar a programação da TV digital, como já ocorre hoje no Japão.

A empresa também negocia novas parcerias. A mais importante deve ser fechada com uma companhia chinesa para a produção de televisores de plasma e LCD. "Cometemos erros no passado ao escolher parceiros na Ásia sem nos preocuparmos com a qualidade, mas isso já foi revisto", diz Bastos. O executivo e o empresário, no entanto, descartam a associação com um só parceiro asiático.

"Nossa grande vantagem é ter uma marca forte para poder escolher parceiros para produtos determinados", afirma Staub. No próximo mês a empresa lança uma nova TV de plasma, a última aposta de Staub para deixar os problemas financeiros para trás. "Não posso revelar detalhes, mas é um produto inovador."

A inovação, em muitos casos, tem sido um problema da Gradiente. Alguns produtos foram lançados antes do tempo certo e transformaram-se em grandes fracassos. O mais recente foi um computador multimídia batizado de OZ, que se propunha ser o computador, a televisão e o aparelho de som da casa. Naufragou. Staub não descarta a volta ao mercado de informática, que se transformou em um importante negócio de concorrentes nacionais da Gradiente como CCE e Semp Toshiba.  

Sem registrar lucro operacional há dez anos - em 2000 houve lucro graças à venda de sua participação na sociedade com a Nokia e em 2005 houve um pequeno resultado positivo graças à negociação de créditos tributários - Bastos tem como meta voltar aos resultados operacionais positivos já em 2008.


Para isso, vai reduzir custos. Além da venda de duas das fábricas, vai terceirizar boa parte da produção - o que significa mais demissões - , reduzir pela metade o espaço que ocupa em quatro andares de um luxuoso edifício em uma das regiões mais nobres de São Paulo e quer economizar até no xerox e no cafezinho.

"Parte dos problemas da Gradiente estão associados a uma estrutura de custos muito pesada. Precisamos mudar isso." O mercado vê com reservas a mudança. "Sem dúvida o problema na Gradiente é de gestão", diz um ex-executivo da empresa. "A dúvida é se ainda há tempo para salvá-la", afirma. Staub nega que os problemas sejam tão profundos.

Segundo o empresário, as dívidas hoje são 20% menores do que no fim do ano passado e a dívida com o BNDES é de 50 milhões de reais. "Tomamos emprestado 100 milhões de reais, que já foram pagos, e depois outros 60 milhões, que estão sendo pagos em dia", afirma Staub. "O caixa está curto, mas a situação está longe de ser tão ruim como muita gente diz."

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