Eugênio Mattar, da Localiza: foco no ESG para aprender em tempos raros
Em artigo exclusivo para EXAME, o presidente do conselho de administração da locadora de veículos Localiza explica por que a pandemia pode trazer uma oportunidade para empresas investirem na agenda ESG
Da Redação
Publicado em 23 de maio de 2021 às 10h20.
(Por Eugênio Mattar, presidente do conselho de administração da Localiza)
Desde março de 2020, aprendemos a conviver e a encarar os desafios do novo coronavírus . Quem poderia imaginar que 2020 seria uma avalanche de mudanças drásticas no nosso modo de viver, que se estende até os dias atuais? A pandemia mostrou que na vida e no mundo dos negócios temos que nos reinventar constantemente e comprovou que solidariedade e senso de comunidade são fundamentais para podermos seguir em frente.
Para além das questões correntes relacionadas a agendas ambientais e de direitos humanos, a COVID-19 intensificou fortes dores da nossa sociedade gerando consequências duras para a população: o impacto agudo no sistema de saúde; as milhões de pessoas alcançadas pelo sofrimento da doença ou mesmo pelo luto de um parente, amigo ou conhecido; desemprego de aproximadamente 14,2% no Brasil, de acordo com último levantamento doIBGE(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) realizado em janeiro de 2021, e 19 milhões de brasileiros passando fome, segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, para citar algumas.
Neste cenário, as empresas, além de se voltarem para dentro, diante de seu próprio contexto emergencial e de sustentabilidade com transformação digital de seus negócios e enfrentamento da ruptura das atividades, gestão e caixa, e cuidado com os colaboradores, viram a importância do seu papel no combate da maior crise sanitária do planeta.
A responsabilidade social corporativa foi a protagonista no enfrentamento da covid-19 desde seus primeiros momentos no Brasil. Diversas companhias se empenharam em contribuir para diminuir os impactos da pandemia na saúde das pessoas, no sustento da população e de pequenos negócios, entre diversas outras frentes. Até hoje, de acordo com o Monitor das Doações COVID-19, criado pela Associação Brasileira Captadores de Recursos, foram doados R$ 6,89 bilhões para a causa - um marco histórico.
O que se acentuou e ganhou novas proporções com a crise - marcas solidárias e com propósito - já vinha sendo sinalizado no radar de parte da sociedade e em crescente movimento entre investidores. Com a pandemia, confirmamos que não há mais espaço para empresas que não se posicionem e exerçam seu papel cidadão frente aos desafios da sociedade.
Pesquisa do Barômetro Global COVID-19 da Kantar Ibope, realizada com 500 pessoas de diferentes partes do Brasil no início da crise, já mostrava que 87% dos entrevistados acreditam que as empresas deveriam comunicar seus esforços para enfrentamento da crise. Para o mercado, o cenário não é diferente. Realizado em outubro do ano passado com investidores de todo o globo, estudo do HSBC mostrou que 49% deles acreditam que o investimento em ESG (Environmental, Social and Governance) pode potencializar os resultados das empresas frente aos desafios do mundo que emerge pós-pandemia.
A responsabilidade ambiental, com destaque para o tema mudanças climáticas, continua sendo um assunto relevante para as empresas e sociedade, fator fundamental para a saúde do planeta e a continuidade de muitos negócios. Durante a pandemia, as certificações de carbono cresceram 40%, de acordo com levantamento da consultoria Eccaplan, realizado em parceria com a iTrack. O tema é, inclusive, prioridade da estratégia do Pacto Global da ONU para os anos de 2021 e 2023. Na Localiza, signatária do Pacto, nossa agenda de sustentabilidade avançou e chegamos à neutralização de nossas próprias operações, por exemplo.
Ser uma empresa cidadã , contudo, não é tarefa fácil. A cidadania precisa estar ligada à cultura e DNA, com apoio e patrocínio direto do board das companhias. Por isso, ter uma governança corporativa clara, eficiente, transparente e ética é fundamental. Um estudo muito interessante do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) evidenciou que a dedicação dos conselhos de administração nas empresas aumentou em quase 40% durante a gestão da crise do coronavírus.
Dos 94 conselheiros entrevistados, 85% acreditam que temas de ESG serão priorizados e são o principal legado dessa pandemia. No nosso caso, o Conselho atuou ativamente junto à nossa liderança, impulsionando nossos investimentos e contribuindo para fortalecer ainda mais a boa governança corporativa que é marca da Localiza.
O apoio do Conselho foi fundamental para lançarmos um ambicioso programa de Diversidade e Inclusão, que já reúne uma rede de 500 colaboradores distribuídos em cinco grupos de afinidades: Equidade de gênero, LGBTI+, Migrantes e pessoas em refúgio, Raça e Pessoas com Deficiência, responsáveis por nos ajudar a avançar nesse tema de forma consistente e realista.
Os dados e nossas percepções e vivências, enquanto lideranças, reforçam a importância de que a conexão entre a atuação pautada em valores relevantes para a sociedade contemporânea e o engajamento dos públicos às companhias e suas marcas refletem uma agenda que veio para ficar. Mais do que algo simpático ou simples modismo, agir para promover impactos positivos para a sociedade e para as pessoas exige autenticidade e todo um comprometimento das organizações para assumir seu papel de protagonismo nessa jornada mais sustentável para todos.
Exige uma liderança atenta e conectada com as demandas das pessoas. E nos impulsiona a seguir buscando gerar valor compartilhado a partir de uma visão de que nosso negócio é a mobilidade, e uma mobilidade sustentável. Que é boa para as pessoas, para o planeta e para o negócio.
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