Eneva aposta em gás natural para reduzir emissões em sistemas isolados
Projeto reduzirá 35% das emissões de CO2 e 99% de óxido de nitrogênio, gases nocivos ao meio ambiente e à saúde, em plena região amazônica
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Publicado em 5 de julho de 2021 às 09h00.
O Brasil tem uma das melhores matrizes elétricas do mundo em termos de uso de fontes renováveis. Está, hoje, onde países desenvolvidos planejam chegar até 2050. Entretanto, em sistemas isolados em plena região amazônica, prevalece um grau relativo de poluição bem maior do que a média mundial: quase 100% composto de usinas termelétricas (UTE) à base de óleo diesel. Para ajudar a acabar com esse contrassenso, a Eneva, geradora de energia de gás onshore (em terra), quer chegar a essas localidades.
Mas, por que o Brasil ainda utiliza este tipo de energia? A resposta é simples: porque antes não havia outra opção. O Sistema Interligado Nacional (SIN), que mantém as luzes acessas de quase todo o país, é formado por uma complexa rede de linhas de transmissão, com mais de 150.000 quilômetros de extensão.
Contudo, ainda há uma extensa área na Região Norte (271 localidades, com 3,3 milhões de habitantes) que não está conectada ao SIN por causa da longa distância a ser percorrida pelas linhas de transmissão e o baixo consumo de mercados tão pequenos. Representa apenas 1,7% da população brasileira e 0,7% do consumo total de energia elétrica. A solução foi atender à demanda por meio de termelétricas, que usam óleo diesel como combustível, uma energia bem mais cara e com níveis de emissões de gases de efeito estufa (GEE) muito elevados.
“Justamente no espaço geográfico que é símbolo do meio ambiente – a região da Amazônia – utiliza-se um combustível (diesel) que aumenta a emissão de CO2. Em analogia, é como estar fumando charuto em uma festa de debutantes”, compara Nivalde de Castro, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel).
A saída
É aí que entra a Eneva. Com o projeto integrado Azulão (AM)-Jaguatirica (RO), vencedor em um leilão realizado em 2019, a empresa está transformando o gás natural do campo de Azulão em energia para abastecer mais da metade do estado de Roraima. Uma energia mais acessível, limpa, estável, segura e confiável que proporciona oportunidades de geração de renda, empregos e desenvolvimento de fornecedores locais nos dois estados.
“O gás tem uma importância estratégica para a transição energética e o desafio de equilibrar a necessidade da descarbonização da matriz em contrapartida à manutenção do progresso socioeconômico”, afirma Pedro Zinner, CEO da Eneva.
O projeto reduzirá as emissões de CO2 em 35% e de óxidos de nitrogênio (NOx), gases nocivos à saúde, em 99%. Na prática, serão quase 180.000 toneladas de CO2 emitidas a menos por ano. Estima-se, ainda, um potencial de conversão de diesel, óleo combustível e GLP (mais caros e poluentes) em gás natural de 3.084 m³/dia no Amazonas, 1.442 m³/dia em Roraima e 5.454 m³/dia no Pará.
“Além do ganho ambiental, há o social, com a geração de empregos e maior qualidade no suprimento de energia elétrica à população, evitando interrupções e perdas. No campo econômico, significa menos custos, ou seja, menos gastos com os subsídios que são pagos por todos os consumidores das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste”, completa Nivalde de Castro, da Gesel.
Potencial de replicação
O projeto, apesar de inovador do ponto de vista da eficiência energética, tem com grande potencial de replicação para outros municípios na Região Norte. O gás é liquefeito no local de extração e transportado em caminhões com isotanques até Boa Vista, onde é regaseificado para acionar as turbinas da UTE de Jaguatirica II.
A fórmula pode ser replicada em toda a Região Norte, já que a produção de gás natural no Amazonas seria capaz de fornecer energia aos 235 sistemas isolados existentes. “São volumes de demanda pequenos, já que são cidades com baixo número de habitantes e consequentemente com baixo nível de consumo de energia elétrica”, justifica Castro.
Para o professor, o modelo criou um paradigma para a Região Norte por adotar uma tecnologia inovadora e pioneira no Brasil, praticamente iniciando o processo de transição da matriz elétrica da Amazônia ao substituir usinas termelétricas a diesel.
“A transição depende apenas da realização de leilões de compra de energia elétrica de longo prazo que possam viabilizar os investimentos elevados, destaca. “O custo final das usinas a gás é menor do que o das usinas a diesel, além de contribuir para maior eficiência no transporte, notadamente na possibilidade de perdas e de furtos, muito comuns no diesel, frente à possibilidade de ser usado para outros fins.”
A descarbonização
A Eneva aposta em capacidade financeira, técnica e conhecimento de mercado para adotar o projeto em toda a Região Norte e, assim, ajudar na descarbonização da energia onde ela ainda é necessária. “A geração de eletricidade é a base da transição para uma energia limpa, tornando fundamental o combate às mudanças climáticas, o controle do aquecimento global e o atendimento das crescentes exigências ESG por parte dos stakeholders”, afirma Zinner, da Eneva.
Apesar do crescimento e da maior competitividade de custo das energias renováveis, a descarbonização deverá ser um processo longo, com muitas soluções tomando lugar em diferentes ritmos ao redor do mundo. O CEO da empresa acredita que será necessário desenvolver tecnologias que permitam fornecer energia limpa à matriz energética em dias sem vento, nublados ou durante a noite.
“A busca de uma geração de eletricidade de carbono zero também envolverá possivelmente a captura e o armazenamento de carbono (CCS), que separa e armazena permanentemente a poluição de CO2 oriunda do sistema de exaustão de uma usina para afastá-la da atmosfera, além do desenvolvimento de soluções de hidrogênio verde e cinza. O investimento em inovação é crucial para a descarbonização”, aposta o executivo.
Zinner sabe que um dos grandes desafios será equilibrar a necessidade de eliminar as emissões de carbono e manter o progresso socioeconômico, mas aponta que estudos recentes revelaram que, a menos que a desigualdade econômica seja reduzida, será extremamente difícil alcançar outros objetivos do desenvolvimento sustentável. “A deterioração do meio ambiente, que costuma ser considerada um dano passado de geração para geração, também intensifica as desigualdades sociais ao longo das gerações. Desta forma, tem o efeito de aumentar os desequilíbrios preexistentes.”
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