Empreendedorismo na favela: 50% dos moradores de favela têm seu próprio negócio, diz estudo
Neste sábado é celebrado o Dia da Favela, e já há eventos previstos para falar sobre empreendedorismo e inovação nas comunidades brasileiras. Zeca Pagodinho é o homenageado do ano pela CUFA
Repórter
Publicado em 2 de novembro de 2023 às 08h33.
Última atualização em 2 de novembro de 2023 às 10h19.
No dia 4 de novembro é celebrado o Dia da Favela. A data foi reconhecida em 1900 pela CUFA (Central Única das Favelas) após o delegado Dr. Enéas Galvão redigir um documento dizendo que o Morro da Providência precisava ser ‘’limpo”, trazendo adjetivos negativos aos moradores locais e colocando a palavra “favela” em um documento público pela primeira vez. Os moradores decidiram eternizar o dia como forma de reconhecimento do local onde moram.
"Sabemos das dificuldades que existem nas favelas, e o que seus moradores têm de enfrentar, driblar e contornar. E o Dia da Favela está aí exatamente para isso, para destacar e protagonizar a capacidade e a resiliência que os mais de 18 milhões de brasileiros, que vivem nesses territórios. É preciso inovar, empreender, criar soluções e celebrar a vida", afirma Celso Athayde, CEO da Favela Holding e fundador da Central Única das Favelas (CUFA).
Com 423 favelas no Brasil e 17,9 milhões de habitantes, se todas as favelas fossem um estado teriam a 6ª maior massa de renda do Brasil, com os moradores movimentando R$ 202 bilhões em renda própria por ano, ficando atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná, segundo estudo realizado em março deste ano pelo Instituto Locomotiva.
Esse alto consumo é um dos fatores que estimula esses moradores a ter um desejo profissional em comum: empreender. O estudo mostra a preferência dos 2.423 entrevistados pelo Data Favela.
- 35% querem ter um negócio próprio
- 12% passar em um concurso
- 10% conseguir um emprego
- 9% ter uma profissão
- 6% ser promovido
“Empreender significa não ter que baixar o nariz para os chefes. A população da favela, que é a concentração geográfica da desigualdade do Brasil, muitas vezes teve que se humilhar e omitir o lugar onde mora para conseguir passar em uma entrevista de emprego. Muitas vezes tem que passar horas em um transporte público para ganhar um salário-mínimo. Por isso, moradores da favela que empreendem buscam mudar essa realidade. Não enxergam na carteira assinada a possibilidade de realizar seus sonhos,” afirma Renato Meirelles, presidente do Data Favela.
Atualmente, 50% dos moradores de favela empreendem, o que somam 5,2 milhões de empreendedores, destes apenas 37% tem CNPJ. Entre os tipos de negócios mais comuns nas favelas, se destacam, segundo estudo:
- 15% são restaurantes e lanchonetes;
- 10% cuidados com beleza / saúde / estética
- 8% comércio / manutenção de roupas
- 6% revenda de produtos de cosméticos / comunicação e social mídia / limpeza e sorveteria
- 4% comércio /manutenção de eletrônicos
- 3% relacionados a cultura / projetos sociais / motorista de app / artesanato
- 2% vendas diversas / revenda / Academia de ginástica
Entre os moradores das favelas que pretendem abrir um negócio,7 em cada 10 pretendem abri-lo dentro da favela. Segundo Meirelles, existe uma razão para isso:
“Abrir o negócio dentro da própria favela, é antes de tudo estar conectado com a família e transformar a sua relação social, de amigos e vizinhos, em clientes. Essa é a melhor forma para o negócio crescer rapidamente e ao mesmo tempo aumentar o PIB da favela.”
Mesmo com o empreendedorismo, as condições das favelas ainda são preocupantes. A pesquisa mostra que segurança e moradia ainda são as maiores preocupações dos moradores:
- 27% Segurança para os moradores
- 19% Melhores condições de habitação / moradia
- 15% Mais infraestrutura, como rede de esgoto, iluminação
- 9% Melhor saúde
- 9% Opções de lazer
- 8% Melhor educação
- 5% Respeito para os moradores
- 2% Mais opção de transporte
- 5% outros
Evento Slum Summit
Considerando o Dia da Favela, será realizado nos dias 03 e 04 de novembro o “Slum Summit - evento nacional de imersão em empreendedorismo de impacto social, empoderamento, diversidade e inovação na favela. O evento traz como tema principal "Empreender Liberta" e será realizado pela organização G10 Favela, junto com a Prefeitura de São Paulo, em Paraisópolis.
Além de shows com diversos artistas, o evento tratará de assuntos como a moda como setor criativo, os desafios da logística em favelas e empreendedorismo em territórios periférico.
O evento é aberto ao público e para entrar será preciso apenas de inscrever na entrada do Pavilhão Social do G10 Favelas.
“É um dia de celebração para mostrar um novo olhar sobre a favela. Em vez da favela carente, marginal e violenta, uma favela potente, ativa economicamente, que precisa de investimentos para poder se desenvolver e que sabe o que quer. O evento é para comemorar todas as nossas vitórias e exaltar a importância das favelas na sociedade,” afirma Gilson Rodrígues, presidente do G10 Favelas.
Zeca Pagodinho é o homenageado pela CUFA
A Central Única das Favelas (CUFA), juntamente com outras instituições, vai promover a Semana da Favela, entre os dias 4 e 10 de novembro, para continuar a missão de ressignificar o conceito e o significado de favela.
Neste ano, a Central escolheu como homenageado o sambista Zeca Pagodinho, por ser uma referência e ao longo da sua trajetória ter contribuído para elevar a autoestima dessa população.
“O Zeca é um grande parceiro da nossa instituição e, sobretudo, exemplo dessa busca por soluções por meio de iniciativas sociais,” diz a presidente da CUFA.
O evento será realizado em todos os estados do Brasil nas mais de 5 mil favelas que a CUFA atende.
“Será uma semana de muitas ações pelo país inteiro. Essas ações vão trazer muitas reflexões sobre o que é a favela, e tudo o que está presente nesse território. A sociedade tem muito a aprender com a potência e a resiliência dos moradores de favela”, disse Marcio Lima, vice-presidente nacional da CUFA.
No Rio de Janeiro, o Dia da Favela é lei no município desde 2006. E, no estado, desde 2019. Em São Paulo, a data entrou para o calendário oficial de eventos do município em 2015.