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Echo, o inesperado hit da Amazon

Em junho de 2014, Jeff Bezos fez algo raro nos 20 anos de história da Amazon: reuniu a imprensa para anunciar um produto. Bezos subiu ao palco do Fremont Theatre, em Seattle, e apresentou o Fire Phone, a esperada entrada da Amazon no mercado de smartphones. A grande novidade do aparelho era um sistema que […]

JEFF BEZOS: se é possível sonhar que um colosso como a Amazon tenha comportamento de startup, é também razoável esperar que nossas corporações mais tradicionais possam fazer o caminho inverso / David Ryder / Stringer (David Ryder / Stringer/Divulgação)

JEFF BEZOS: se é possível sonhar que um colosso como a Amazon tenha comportamento de startup, é também razoável esperar que nossas corporações mais tradicionais possam fazer o caminho inverso / David Ryder / Stringer (David Ryder / Stringer/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 19 de abril de 2016 às 12h29.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h37.

Em junho de 2014, Jeff Bezos fez algo raro nos 20 anos de história da Amazon: reuniu a imprensa para anunciar um produto. Bezos subiu ao palco do Fremont Theatre, em Seattle, e apresentou o Fire Phone, a esperada entrada da Amazon no mercado de smartphones. A grande novidade do aparelho era um sistema que emulava uma tela tridimensional sem a necessidade de óculos especiais. O Fire Phone usava uma versão adaptada do sistema Android — o sistema tinha atalhos para os usuários comprarem na Amazon, por exemplo. Só seis semanas depois, porém, o preço do telefone foi cortado de 199 dólares para 99 centavos. O smartphone da Amazon, que exigiu anos de desenvolvimento e era visto como um ponto estratégico da empresa para competir com Apple e Google, foi um fracasso vergonhoso.

Cinco meses depois, talvez com o gosto amargo da humilhação ainda na boca, a empresa lançou um novo produto, dessa vez em silêncio. Inicialmente, o Amazon Echo era uma caixa de som bluetooth meio diferente. Por fora, não tem nada demais. O aparelho é um cilindro preto de uns 25 centímetros de altura, com perfurações para o alto falante na metade inferior. O Echo servia para tocar músicas do smartphone, mas não era portátil, pois tinha de ficar o tempo todo ligado na tomada. Por outro lado, oferecia uma ideia inovadora: uma audição superaguçada. Ao ouvir o nome “Alexa”, mesmo que falado do outro lado da sala, o aparelho escutava e respondia, com voz feminina, a perguntas simples, como a previsão do tempo, o sumário das notícias do dia ou informações triviais, como a população do Brasil. E, é claro, o Echo permitia fazer compras na Amazon usando apenas comandos de voz. A recepção dos jornalistas especializados foi morna, e um analista disse que o Echo era “uma solução procurando um problema”.

Um ano e meio depois, o que era um aparelho meramente intrigante passou a ser visto como uma promessa revolucionária, um hit adormecido. O Amazon Echo tem o potencial de abrir um novo modelo de computação — natural, intuitiva e invisível. Nos meses que se passaram desde o lançamento, o software — a assistente virtual Alexa — passou por vários atualizações, sempre automáticas. Mais importante que isso, porém, é a melhoria constante que ocorre nos bastidores. “Alexa”, a assistente virtual e o nome da plataforma de inteligência artificial desenvolvida pela Amazon, fica cada vez mais inteligente e mais capaz.

Já é possível pedir um carro do Uber, encomendar uma pizza da rede Domino’s e consultar a situação de sua conta no banco Capital One. A Amazon também permite que desenvolvedores criem aplicativos. Ainda não são muitos, e a maioria são mais brincadeira que qualquer outra coisa. Peça a Alexa para abrir o Cat Facts e ela lê uma informação aleatória sobre gatos; tente acertar cinco perguntas sobre o seriado Seinfeld ou sobre músicos de jazz, e assim por diante. Mas há apps — ou skills, habilidades, como diz a Amazon — úteis, como os que informam horários de trens e têm receitas. Quando a Apple liberou a criação de aplicativos de terceiros para o iPhone, os primeiros apps também eram rudimentares — hoje, são milhões e representam uma fatia bilionária do negócio do software. O analista Scot Wingo, da empresa de consultoria Channel Advisor, acredita que o Echo possa se tornar o próximo negócio de 1 bilhão de dólares da Amazon.

O mais curioso na história do Echo é que ele explodiu de repente. A Apple lançou a Siri há mais de quatro anos. Celulares que usam o sistema Android têm o equivalente no Google Now. A Microsoft criou a Cortana. Mas todos esses assistentes virtuais dependem de um smartphone ou de um computador. O Echo fica plantado na sala e está sempre às ordens. O reconhecimento de voz é excelente, mesmo que se fale de longe, com a TV ligada, por exemplo. E Alexa responde imediatamente. O Echo também funciona como uma central de automatização doméstica, controlando lâmpadas, fechaduras, sistemas de irrigação e cortinas que antes dependiam de um aplicativo no celular.

No dia 31 de março, a Amazon começou a entregar outros dois produtos baseados na plataforma Alexa. Um é o Echo Dot, uma versão menor do Echo tradicional. O outro é uma caixa de som portátil (mas que não está o tempo todo ouvindo o ambiente, pois funciona com baterias). A expectativa é que a voz feminina da Alexa esteja presente em outros produtos, talvez até mesmo de outros fabricantes. Enquanto isso, não tenha dúvida de que os engenheiros da Apple, do Google e da Microsoft estejam coçando a cabeça, se perguntando como vão responder a esse sucesso inesperado.

(Sérgio Teixeira Jr., de Nova York )

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