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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h39.
A derrota para a indiana Tata Steel na disputa pela anglo-holandesa Corus deixa a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em uma situação complicada. De um lado, a CSN precisa encontrar um escoadouro para a sua crescente produção de minério de ferro e de produtos semi-acabados - principais alvos de seus projetos de expansão interna. De outro, o processo de consolidação do setor siderúrgico mundial segue em passo acelerado e os bons ativos estão minguando. Com os grupos internacionais se fortalecendo, os analistas já começam a questionar a capacidade de a brasileira resistir a eventuais ofertas de compra. Ou seja, depois de uma temporada malsucedida de caças, é a própria CSN que pode entrar na mira dos concorrentes.
Não seria a primeira vez que o grupo liderado pelo empresário Benjamin Steinbruch atrairia a atenção dos rivais. No início do ano passado, circularam informações de que havia uma disputa entre a Mittal Steel e a Arcelor pela CSN. As empresas nunca admitiram publicamente o fato, e a Mittal Steel limitou-se a informar que tinha interesses no mercado brasileiro. Os rumores chegaram até mesmo à Tata Steel. Em meados de 2006, um jornal indiano, o Times of India, noticiou um possível interesse do grupo pela empresa brasileira. A informação foi desmentida pela Tata, que a classificou como especulação.
A CSN, porém, possui atributos atrativos para um eventual comprador. A empresa é relativamente pequena para o cenário mundial. Sua produção de pouco mais de 5 milhões de toneladas anuais de aço a coloca na 50ª posição entre as maiores siderúrgicas do mundo. Apesar disso, conta com uma forte posição no mercado brasileiro, sendo a terceira maior do país, atrás apenas da Gerdau e da Usiminas. A mina da Casa de Pedra, de onde a companhia extrai o minério de ferro que consome em sua produção, também é um ativo interessante e em plena expansão.
Novos alvos
A aquisição da Corus catapultaria a CSN ao posto de quinta maior siderúrgica do mundo. Agora, para não ficar vulnerável a uma oferta de compra, a empresa já dá sinais de que vai atacar novos alvos. O primeiro é a usina colombiana Paz del Rio, cujo leilão deve ocorrer nos próximos meses. A siderúrgica é a segunda maior do país e tem controle misto - público e privado. Uma fatia de cerca de 40% do capital será leiloado por dois investidores: o Fundo de Capitalização Acerías Paz Del Río e o Instituto de Fomento Industrial.
O negócio está agitando o setor. A Gerdau, por exemplo, ainda luta para participar do leilão, após ter sua presença vetada pelo governo colombiano, que alegou que sua presença feria as regras de livre concorrência do mercado.
Alguns especialistas, porém, são céticos quanto à utilidade dessa aquisição. "A CSN tem um plano de forte crescimento da produção de placas de aço e minério de ferro. Comprar uma usina na Colômbia não adianta nada", afirma um analista que prefere não se identificar. O projeto de expansão da Casa de Pedra, por exemplo, prevê que a capacidade produtiva salte dos atuais 16 milhões de toneladas de minério de ferro para 45 milhões no início de 2008. Exportar parte da produção também está nos planos da companhia, que está expandindo as instalações do porto de Sepetiba para 30 milhões de toneladas.
Escassez
A aquisição da Corus, por exemplo, permitiria à CSN escoar parte do minério de ferro e das placas de aço, quando a expansão estivesse concluída. Além disso, fortaleceria a presença da companhia no mercado europeu. Encontrar outra empresa que seja capaz de oferecer as mesmas vantagens está cada vez mais difícil, segundo os observadores. "Os melhores ativos já foram comprados. Os asiáticos são bastante agressivos nas aquisições do setor siderúrgico e de mineração", afirma Carlos Nunes, analista de investimentos da corretora Coinvalores.
O resultado é que o preço dessas empresas está subindo, o que restringe o número de potenciais compradores. O próprio comportamento das ações da CSN e da Tata Steel, nesta quarta-feira (31/1), indica a cautela com que o mercado enxerga a consolidação do setor. Enquanto as ações da CSN subiam mais de 5% nesta manhã, as da Tata Steel caíam 10% na bolsa de Bombaim. O recado é claro: a Tata Steel pode ter se tornado a quinta maior do mundo com a Corus, mas há dúvidas se os indianos conseguirão manter o equilíbrio financeiro da operação e administrar a pesada dívida que contraíram para levar a anglo-holandesa. "A dívida contraída poderia comprometer o desempenho da CSN", afirma Nunes, da Coinvalores. Por isso, a valorização dos papéis mostra que o mercado ficou mais tranqüilo com uma CSN menor, porém menos endividada. Além disso, a empresa receberá cerca de 400 milhões de dólares decorrentes da operação - parte por já ser acionista da Corus, com 3,8% de seu capital, e parte por um prêmio de participação no leilão, equivalente a 1% dos 11,3 bilhões de dólares pagos pela Tata Steel para ficar com a anglo-holandesa.
Com os bons ativos cada vez mais escassos, Kelly Trentin, analista de investimentos da SLW Corretora, aposta que a CSN optará por um modelo de crescimento parecido com o da Gerdau: pequenas aquisições estratégicas que, no conjunto, formam um grande grupo. A Gerdau, por exemplo, saltou à frente do ranking brasileiro de siderúrgicas em setembro de 1999, quando adquiriu a americana Ameristeel, deixando para trás a Usiminas e a CSN.
Ninguém duvida, porém, que Steinbruch voltará à carga em algum momento. Em nota divulgada hoje, o empresário afirma que "estamos confiantes que o processo de consolidação do setor siderúrgico está apenas se iniciando, o que deverá trazer melhores oportunidades de crescimento para a CSN no futuro, para as quais estaremos sempre preparados".