Carrefour doará vendas do dia 20 a entidades ligadas à consciência negra
Iniciativa foi decidida neste sábado, após manifestação pública de CEO global, na matriz francesa
Reuters
Publicado em 21 de novembro de 2020 às 11h59.
Última atualização em 21 de novembro de 2020 às 12h27.
O Carrefour Brasil informou neste sábado que as vendas do dia 20 de novembro das lojas Carrefour Hipermercados serão doadas para entidades ligadas à luta pela consciência negra, posicionamento adotado após o assassinato por espancamento de um homem negro em uma das lojas da rede, em Porto Alegre.
Em nota à imprensa, a varejista afirmou que o Dia da Consciência Negra, celebrado na véspera em várias cidades do Brasil, deveria ser marcado pela conscientização da inclusão de negros e negras na sociedade, mas "foi o mais triste da história do Carrefour".
Na quinta-feira, João Alberto Silveira Freitas foi espancado até a morte na unidade do Carrefour de Passo D’Areia, na capital gaúcha, o que teria ocorrido após ele discutir com uma caixa do supermercado que então chamou o segurança da loja.
Um vídeo do violento episódio foi amplamente compartilhado nas redes sociais na sexta, provocando protestos e ataques a lojas do Carrefour em vários locais do país, gerando pedidos de boicote contra a rede varejista, além de manifestações contra o racismo.
"Palavras não expressarão nossa angústia com a brutalidade. Daremos todo o apoio à família de João Alberto Silveira Freitas e, em respeito a ele, nossa loja de Passo D’Areia fechou ontem e permanecerá fechada hoje", afirmou o Carrefour.
"Além disso, todo o resultado das vendas do dia 20 de novembro das lojas Carrefour Hipermercados será doado para entidades ligadas à luta pela consciência negra", acrescentou.
O Carrefour disse ainda que as lojas serão abertas mais tarde neste sábado para reforço de "treinamento antirracista com todos os nossos funcionários e terceiros".
A divulgação das ações vem após o presidente do Carrefour, Alexandre Bompard, se manifestar na tarde da véspera em sua conta no Twitter. "Medidas internas foram imediatamente tomadas pelo Grupo Carrefour Brasil, principalmente em relação à empresa de segurança contratada. Essas medidas são insuficientes. Meus valores e os valores do Carrefour não compactuam com racismo e violência."
Ele pediu também que a filial brasileira realizasse "uma revisão completa das ações de treinamento dos colaboradores e de terceiros, no que diz respeito à segurança, respeito à diversidade e dos valores de respeito e repúdio à intolerância".
O empresário Abilio Diniz, que integra o Conselho de Administração do Carrefour Brasil e é um dos acionistas da companhia, também se manifestou no Twitter, classificando a morte de Freitas como "tragédia e uma enorme brutalidade". "Pedi à empresa que não meça esforços e trabalhe incansavelmente para que fatos trágicos como este jamais se repitam no Brasil", escreveu.
O vídeo do espancamento mostra Freitas sendo agredido por dois homens, identificados como Magno Braz Borges, segurança do Carrefour Passo D'Areia, e Giovani Gaspar da Silva, policial militar temporário. De acordo com testemunhas, Silva estaria fazendo compras quando participou do espancamento.
Freitas aparece sendo agarrado por um dos homens enquanto o outro dá socos em sua cabeça. Depois, um dos homens coloca o joelho nas costas da vítima enquanto o outro continua batendo. A polícia foi chamada depois que Freitas já estava imóvel. Uma ambulância também foi chamada, mas Freitas já estava morto. Os dois agressores foram presos em flagrante e autuados por homicídio triplamente qualificado.
O Carrefour também foi pressionado pela Ambev. Em uma publicação nas suas redes sociais, a fabricante de bebidas afirma estar em luto pelo assassinato brutal de João Alberto Silveira Freitas. "Para todos nós, nossos funcionários e a comunidade negra, a tristeza, frustração e medo gerados por atos recorrentes de violência como este são profundos e pessoais. Estamos comprometidos a ajudar a criar mudanças positivas e um mundo onde a diversidade e o respeito sejam a norma", escreveu a empresa.
A fabricante ainda convocou o Carrefour a prestar esclarescimentos e a criar medidas imediatas e efetivas. "Temos o compromisso inegociável de promover a equidade racial em todo o nosso ecossistema, o que inclui os nossos parceiros, clientes e fornecedores", escreveu a Ambev.