ANDREA BUZZONI: Executivo deu novo gás à montadora Ducati no Brasil / Divulgação
Da Redação
Publicado em 28 de março de 2017 às 16h08.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h04.
Naiara Bertão
São motos possantes, daquelas com mais de 500 cilindradas, consideradas premium. Com a crise internacional em 2008, esse mercado seleto tem sofrido com quedas radicais nas vendas – e os rearranjos têm sido necessários para a sobreviência das fabricantes. Em 2012, a montadora italiana Ducati deu dois grandes passos no rumo na reinvenção: tornou-se parte do grupo alemão Audi (foi vendida pela bolada de 1 bilhão de euros) e firmou parceria com a Dafra para montar seus produtos diretamente no Brasil. No mundo, a empresa conseguiu ampliar a participação no mercado e, no Brasil, a presença industrial deu muito resultado: as vendas aumentaram 36% em 2016 – mesmo com retração de 28% no setor de motocicletas.
Os louros coincidem com a volta do italiano Andrea Buzzoni à empresa, em janeiro de 2015, quando assumiu o cargo de diretor global de Vendas e Marketing, o número dois da Ducati no mundo. Natural de Milão, Buzzoni foi diretor da filial na Alemanha entre 2001 e 2004, mas saiu para assumir a divisão italiana da concorrente BMW, onde ficou por 10 anos. Lá, foi responsável por novidades como os primeiros projetos do campeonato mundial de corrida de motocicleta Superstock e o campeonato italiano Superbike. Em entrevista à EXAME, ele falou sobre as prioridades da empresa e dos impactos da crise no mercado de motos.
Como o mercado de motos sentiu a crise financeira, iniciada em 2008?
O impacto da crise financeira sobre as motocicletas premium tem sido muito forte. Em 10 anos, o mercado mundial caiu quase 40%. De 2008 a 2013, vimos uma redução significativa nos volumes: o mercado mundial passou de 1,5 milhões de motos vendidas para 800.000 unidades vendidas. Os primeiros sinais de recuperação foram vistos em 2014 e 2015, com alta de 5% ao ano, mas, em 2016 voltou a desacelerar (cresceu apenas 1,6%). O mercado parece ter se estabilizado em torno de 1 milhão de unidades, mas com um forte aumento da competitividade entre as marcas. As europeias e americanas estão investindo mais em novos produtos e ganhando mais espaço do que as asiáticas. O próprio segmento premium se tornou mais importante por ter sido menos afetado pela crise do que o popular.
O segmento premium tem marcas fortes. Como a Ducati quer vencer a concorrência?
A Ducati ganhou participação de mercado. Passamos de 3,7% de participação no mercado mundial em 2009 para 5,3% em 2016, saltando de 35.000 a 55.000 unidades vendidas (crescimento que chega a 57% em oito anos). Ou seja, se crescemos em vendas, estamos fazendo algo melhor do que as outras em termos de rede de revendas, serviço e marca.
Como crescer?
A política de expansão comercial foi focada principalmente na América do Sul e Ásia. Em 2012, a Ducati firmou um acordo com a Dafra Motors e passou a montar as suas motocicletas no Brasil [processo conhecido no mercado como CKD]. Em 2011, a Ducati abriu uma nova unidade de produção na Tailândia, e Índia e a China também se tornaram países estratégicos em termos de vendas e percentual de mercado. A expansão comercial tem andado de mãos dadas com a expansão da nossa rede: a Ducati já está presente em 90 países, com 783 pontos de vendas e serviços.
A aposta é nos emergentes?
A Índia é um mercado em crescimento: em 2016, os emplacamentos cresceram 18% sobre o ano anterior. Nos mercados não-europeus destaca-se o forte desempenho da China, onde a Ducati dobrou o resultado (120% de crescimento no ano passado). Na Argentina, as vendas aumentaram em 219%. No geral, 2016 não só representa um novo recorde de vendas para a Ducati, mas a consolidação da importante expansão dos volumes de 2015, graças à introdução da marca Scrambler, que está vendendo super bem.
Qual a importância do Brasil no plano de expansão da empresa?
O mercado brasileiro é um dos mais importantes do mundo. O setor vendeu 35.000 motos premium em 2016. Para nós, o Brasil se aproxima do Reino Unido em importância e é um dos três únicos lugares do mundo onde produzimos as motos, além da Tailândia e da sede, na Itália. Emplacamos, no ano passado, 1.235 motocicletas no Brasil, um crescimento de 28% em relação a 2015, enquanto o mercado amargava uma queda de 21%. Aumentamos nossa participação de 2,1% em 2015 para 3,4% em 2016. Estamos muito satisfeitos com o andamento do mercado e do excelente desempenho dos modelos Multistrada, Panigale e Xdiavel [cujos preços variam de 62.900 a 89.900 reais], e da Ducati Scrambler, que se encaixa numa faixa de preço inferior [38.900 reais].
Por que a Ducati resolveu montar os modelos no Brasil?
Ao produzir aqui, conseguimos ganhar competitividade e eficiência de custos. Além disso, nos envolvemos diretamente na comercialização de novos produtos, na expansão da rede de vendas e nos novos serviços de apoio aos muitos fãs da Ducati. Esta fase ainda não terminou, mas prossegue vigorosamente. Há muitos fãs brasileiros que nos seguem no MotoGP e no Superbike e não perdem a chance de ir para a pista para pilotar e se divertir.
Quais as expectativas daqui para a frente?
Acabamos de inaugurar nossa segunda concessionária em São Paulo (a sétima no país), e vamos abrir mais cinco. Com 12 lojas, conseguiremos atender 80% do nosso público no Brasil, é uma boa cobertura. Acreditamos que temos espaço para chegar a uma participação de mercado de 7% nos próximos anos. Estamos confiantes com nosso portfólio de produtos. O mercado premium do Brasil tem potencial para dobrar nos próximos cinco a seis anos, mas tudo dependerá se o país voltar a crescer, ou seja, do desenrolar da situação macroeconômica. Vemos que os brasileiros entendem sobre o assunto e são apaixonados por motocicletas. Esse parâmetro qualitativo poderia trazer crescimento mais rápido.