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Brincadeira de gente grande

O velho ioiô está de volta e ainda dá dinheiro

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

No final do ano 2000, o campineiro Carlos Henrique Ribeiro, então com 27 anos de idade, ficou desempregado. Mesmo sem dinheiro, decidiu passar uma temporada na cidade de Varginha, no sul de Minas Gerais. A estranha bagagem indicava que o forasteiro não estava em busca de descanso. Além de uma pequena mala com roupas e objetos pessoais, Ribeiro levou 6 000 ioiôs, com o objetivo de vendê-los. Havia recebido a mercadoria como pagamento ao sair da empresa para a qual trabalhava no Rio de Janeiro como jogador profissional de ioiô. Ribeiro ficou dois meses em Varginha. Voltou para Campinas sem nenhum ioiô. Era o início de sua trajetória empresarial.

Vender ioiôs é uma atividade prosaica. O diferente no caso da Yo-Yo Fever, a empresa criada por Ribeiro com foco na venda dos brinquedos, é sua estratégia promocional. Como os circos, a empresa faz longas turnês em cidades de pequeno e médio portes. Em vez de palhaços e malabaristas, as estrelas da trupe são campeões internacionais de ioiô. Enquanto eles fazem apresentações em escolas, encantando a criançada com manobras complexas, outra equipe da Yo-Yo Fever visita padarias, bancas de jornais e outros pequenos estabelecimentos, propondo que recebam os ioiôs em consignação.

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Para promover o brinquedo, são organizados campeonatos. Diariamente, os aprendizes são premiados com bonés e camisetas. Aos sábados, os melhores levam bolas e skates. Na grande final, os vencedores recebem videogame e aparelho de som. Os torneios são divulgados no rádio e na televisão, com apoio total ou parcial de anunciantes locais, como redes de varejo ou emissoras de rádio. A inscrição é gratuita: basta apresentar um ioiô da marca Fever.

A intensa ação promocional transforma o ioiô em febre entre a garotada. "Vendemos ioiôs para, no mínimo, 5% da população da cidade", afirma Ribeiro. O preço de venda do brinquedo ajuda a explicar o fenômeno: 5 reais. "As empresas que nos apóiam têm ótimo retorno, não apenas de imagem como também em incremento de vendas", afirma Sandra Regina Paulino Ribeiro, de 27 anos, responsável pelo marketing da Yo-Yo Fever. A empresa fez em setembro e outubro de 2002 uma promoção conjunta com o supermercado Palato, de Maceió. "Vendemos 6 000 ioiôs e fortalecemos nossa marca, além de registrar um aumento de 10% nas vendas da loja", diz Marcelo Martins, gerente de marketing do Palato. A campanha também foi aproveitada pelo supermercado para fazer marketing social, com demonstrações em instituições de caridade e distribuição de brindes.

O negócio de Martins não é novo. No Metropolitan Museum of Art, em Nova York, há desenhos de ioiôs da Grécia Antiga. Há quem diga que o filósofo Sócrates usava o brinquedo com seus discípulos em exercícios de relaxamento. O ioiô moderno se popularizou nas Filipinas, no início do século 20. Um imigrante filipino, Pedro Flores, levou o brinquedo para os Estados Unidos em 1920. O auge da popularidade foi em 1962, quando o presidente americano John Kennedy se vangloriava de fazer mais de 160 truques com seu ioiô.

"Sou fanático por ioiô há quase 20 anos e sempre sonhei em ter meu próprio negócio", afirma Ribeiro. "Resolvi unir o útil ao agradável." O sucesso da Yo-Yo Fever o afastou de seu passatempo predileto. Mas ele não tem do que reclamar. Em 2001, sua empresa faturou 255 000 reais. No ano passado, 400 000. Para 2003, a receita projetada é de 650 000 reais, com margem de lucro de 20%. "Quando abri a empresa, não tinha dinheiro para nada", afirma Ribeiro, que abandonou a faculdade no terceiro mês do curso de comércio exterior. "Hoje o negócio mudou da água para o vinho. Tenho três carros e estou acabando de pagar meu apartamento." A próxima meta de Ribeiro é levar seu modelo de negócios para o exterior. "Mas antes a gente precisa se capitalizar, pois não podemos dar um passo maior que a perna." Nada mau para um negócio que começou como brincadeira de criança.

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