BNDES diz que presença da família Batista na JBS prejudica governança
Irmãos Wesley e Joesley Batista, que comandaram a empresa já estiveram presos acusados de manipulação do mercado financeiro
Reuters
Publicado em 24 de maio de 2018 às 12h04.
Última atualização em 25 de junho de 2018 às 13h44.
Nota : A entrevista abaixo foi feita em 23/mai/2018. Por uma falha técnica, foi inicialmente publicada com data de 25/jun/2018. Corrigimos a data.
Rio de Janeiro — O BNDES ainda não está satisfeito com as mudanças feitas no comando da processadora de carne JBS, afirmou o presidente do banco de fomento, Dyogo Oliveira, que vê necessidade de melhorias na governança da companhia da família Batista.
Os irmãos Wesley e Joesley Batista, que comandaram a empresa e já estiveram presos acusados de manipulação do mercado financeiro e uso de informação privilegiada, estão afastados da JBS e da controladora J&F, mas ainda há representantes da família Batista em posições importantes da companhia.
"Algumas coisas têm sido feitas, algumas coisas têm avançado, mas há muita coisa para avançar ainda", disse o presidente do BNDES. O banco tem participação de cerca de 21 por cento na JBS.
Ele citou que a presença do patriarca da família Batista, José Batista Sobrinho, na presidência-executiva da JBS, além de outros membros do clã, como Wesley Mendonça Batista Filho - presidente da JBS na América do Sul - cria um desgaste para a imagem do grupo, assim como os escândalos revelados na delação premiada dos irmãos.
"Acho que isso não contribui para a imagem da empresa e atrapalha a imagem da companhia. Só uma melhoria da governança da empresa é que poderia amenizar isso", avaliou Oliveira. "Mas, eles são acionistas da empresa e não tenho mecanismos para obrigá-los a deixarem de ser acionistas. O que temos feito, como minoritários, é batalhar muito para que a empresa evolua em termos de controles, governança e transparência. Essa é nossa briga cotidiana", acrescentou.
A JBS enviou comunicado em que afirmou que "a nova estrutura de governança foi aprovada por todos os conselheiros da companhia".
Oliveira afirmou que apesar das turbulências enfrentadas pelo grupo desde a delação premiada dos irmãos Batista no ano passado, a JBS continua sendo um ativo atrativo, com vários grupos interessados em ingressar na empresa de proteína animal.
"Existem vários grupos interessados...há muito grupos interessados em comprar participação na JBS. Não necessariamente a participação do BNDES na JBS. Tem todo tipo de proposta", disse Oliveira sem dar detalhes.
Criação de fundos
Em outra frente, Oliveira afirmou que o BNDES vai detalhar na próxima semana um novo programa para fomentar a criação de fundos voltados para financiamento de infraestrutura. O banco quer atuar com o investidor âncora desses fundos para atrair novos investidores.
O BNDES terá disponível 6 bilhões de reais no primeiro ano para atuar nesses fundos. "O BNDES quer ancorar as emissões e assumir mais riscos em alguns casos através de cotas subordinadas e de mezanino para alavancar os recursos", disse Oliveira.
"Estamos falando de emissão de dívida...É pequeno perante as necessidades de infra-estrutura do país, mas é uma largada, um teste", afirmou, acrescentando que se o modelo for bem sucedido, os recursos do banco poderão ser ampliados para a modalidade.
Segundo o presidente do BNDES, o banco nunca terá uma participação majoritária no fundo, preferindo uma parcela menor "porém não tão pequena, porque senão não vai remunerar a atividade do BNDES".
Um acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a criação de um outro fundo voltado para infraestrutura, também deve ser anunciado na semana que vem. "Queremos desenvolver e ampliar a participação do mercado no financiamento de longo prazo", disse Oliveira.