Até dívida cair, Petrobras pagará aos acionistas só os dividendos mínimos
Empresa está focada em reduzir indicador de dívida líquida sobre lucros; desinvestimentos devem gerar caixa
Reuters
Publicado em 2 de agosto de 2019 às 13h56.
Última atualização em 2 de agosto de 2019 às 15h24.
Rio de Janeiro — A Petrobras pagará apenas dividendos mínimos até atingir sua meta de desalavancagem, prevista para 2020, afirmou nesta sexta-feira a diretora-executiva de Finanças e Relacionamento com Investidores da companhia, Andrea Almeida.
A petroleira tem como objetivo atingir no próximo ano alavancagem medida pelo indicador de dívida líquida sobre Ebitda ajustado de 1,5 vez. O valor é calculado a partir da razão entre a dívida e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização.
Com ele, é possível compreender a situação de endividamento da empresa.
O indicador foi de 2,69 vezes ao final do segundo trimestre, ante 3,10 vezes no primeiro trimestre e 3,20 vezes ao final de junho de 2018.
Em meio à busca pela desalavancagem, a empresa está realizando desinvestimentos expressivos, tendo levantado no acumulado do ano até julho 15 bilhões de dólares com vendas de ativos considerados não essenciais, enquanto busca focar esforços na exploração e produção de petróleo e gás em águas profundas e ultraprofundas.
"A gente, nesse horizonte até 2020..., está focado em redução da alavancagem e a gente imagina que o dividendo vai ser o mínimo", disse Almeida, durante teleconferência com analistas de mercado sobre os resultados do segundo trimestre.
"Não estou imaginando que vai sobrar caixa para a gente fazer mais do que o dividendo mínimo no horizonte da desalavancagem."
O objetivo, segundo a diretora, é usar caixa para reduzir a dívida.
Em uma fala hipotética, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, afirmou que a petroleira não deveria pagar dividendos até recuperar a sua saúde financeira. Mas atualmente há regras que obrigam a empresa a realizar pagamentos mínimos aos acionistas quando há lucro.
"A minha opinião pessoal é que uma companhia como a Petrobras, embora com os progressos que tem realizado na redução de alavancagem da dívida, não deveria pagar dividendo nenhum. Nós deveremos pagar muitos dividendos, bom dividendos para nossos acionistas, quando nós recuperarmos de fato a saúde financeira", disse Castello Branco.
O trabalho para a redução de dívida já vem dando frutos ao longo dos últimos trimestres. A dívida líquida da empresa totalizou 83,7 bilhões de dólares ao final do segundo trimestre, uma redução 11,9 bilhões de dólares ante o primeiro trimestre.
A companhia informou na véspera que seu Conselho de Administração aprovou a antecipação de distribuição de remuneração aos acionistas sob a forma de juros sobre o capital próprio de 2,6 bilhões de reais, em meio à venda de fatia majoritária na Transportadora Associada de Gás (TAG), que rendeu 33,5 bilhões de reais à petroleira em junho.
"Os melhores dias da Petrobras ainda estão muito à frente de nós. Esperamos aprofundar o processo de criação de valor para os acionistas", disse Castello Branco, ao encerrar a teleconferência com investidores e analistas para comentar o lucro recorde de 18,87 bilhões de reais no segundo trimestre, impulsionado principalmente pela venda da TAG.
As ações preferenciais da companhia tinham alta de cerca de 3,5% por volta das 13h, enquanto o Ibovespa operava praticamente estável.
Desinvestimentos
Também durante a teleconferência, Castello Branco explicou que o programa de desinvestimentos já está desenhado, e tem projetos em execução e outros em estruturação.
Após questionamento, o executivo explicou que uma privatização de sua subsidiária de logística Transpetro não está em discussão. Mas a empresa deve diminuir de tamanho, uma vez que uma parte dos ativos de transporte está associada a refinarias que serão vendidas.
A Reuters publicou na véspera que a companhia está estudando uma grande transferência de funcionários, enquanto se prepara para mais vendas de ativos.
"A Transpetro foi a única subsidiária da Petrobras criada por lei. Isso exigiria então a inclusão em um programa de desestatização, autorização legislativa, que é complexo. Nós estamos seguindo o que foi decidido por ampla maioria no plenário da suprema corte do Brasil. Então, outras subsidiárias nós podemos desinvestir se assim decidirmos que é bom", afirmou Castello Branco.
A Petrobras já havia anunciado anteriormente a venda de oito refinarias e suas logísticas associadas, mantendo apenas sob sua direção as cinco refinarias localizadas nos Estados Rio de Janeiro e São Paulo.
Dessa forma, as atividades da Transpetro serão focadas nas atividades remanescentes, explicou a diretora executiva de Refino e Gás Natural, Anelise Lara.
Roberto Castello Branco também afirmou que a empresa está avançando para apresentar as outras quatro refinarias a serem ofertadas ao mercado. A tendência é que detalhes sejam conhecidos em um mês. "Evidentemente, há uma série de detalhes sendo feitos para lançar as refinarias", disse.
O executivo afirmou que a empresa não vê impedimento para que a venda das refinarias aconteça, mesmo que o esteja sendo fortemente questionado na Justiça depois do anúncio.
O prazo para a venda determinado no acordo firmado entre a estatal e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) é o final de 2021, mas o executivo afirmou que a meta é concluir o processo antes. "Não queremos esperar até o final de 2021. Temos pressa", afirmou.
Castello Branco também reafirmou informação da véspera de que poderá desinvestir ainda mais na BR Distribuidora, mas que nada está decidido ainda. A Petrobras manteve uma participação de 37,5% do capital da companhia, após vender o seu controle na B3 na semana passada.
O próximo plano de negócios da companhia, previsto para o fim do ano, já está sendo preparado e irá focar em endividamento baixo, retorno sobre capital investido e custos baixos, segundo o presidente. Ele ressaltou que a empresa também irá buscar reduzir suas diferenças em relação a grandes concorrentes globais.
Venda de fatia da Gaspetro
Além disso, a Petrobras tem conversado com a japonesa Mitsui sobre como será feito o desinvestimento de sua participação na Gaspetro, unidade que controla distribuidoras de gás e na qual as empresas são sócias, disse nesta sexta-feira a diretora de Refino e Gás Natural da estatal, Anelise Lara.
Ela acrescentou, no entanto, que ainda não há uma definição na Petrobras sobre um modelo para a transação, embora a Mitsui tenha preferência na negociação por já ser sócia do ativo.
Um plano do governo brasileiro para fomentar a competição na indústria de gás natural e reduzir preços determina que a Petrobras deve vender toda sua participação em empresas de distribuição e transporte do insumo.
Em entrevista a jornalistas sobre os resultados do segundo trimestre, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, disse também que a empresa reduzirá a zero a fatia na Gaspetro, seguindo as diretrizes do plano governamental, o "Novo Mercado de Gás".