Após faturar R$ 1 bilhão em cinco anos, empresa americana de óleos essenciais inaugura fábrica em SC
A doTerra investiu R$ 50 milhões na construção da sua primeira fábrica no Brasil, terceiro maior mercado da companhia
Repórter de Negócios
Publicado em 29 de dezembro de 2023 às 07h01.
Última atualização em 17 de janeiro de 2024 às 14h33.
A americana doTerra pretende elevar a relevância do Brasil no negócio global. Em apenas cinco anos, o país se tornou o terceiro maior mercado da empresa e faturou 1 bilhão de reais em 2022 com a venda de frascos de óleos essenciais. Nesta segunda, 21, a operação inaugura a sua primeira fábrica por aqui, na cidade de Joinville, emSanta Catarina.
A unidade consumiu 50 milhões de reais em recursos, e com a construção a empresa procura facilitar a logística do negócio. Os óleos são extraídos de plantas em diversas partes do mundo como Ásia, Europa e África e, no fluxo atual, precisam passar por laboratórios nos Estados Unidos para testagem e validação de pureza antes de entrarem no Brasil para o envase e comercialização.
A nova fábrica elimina esse processo e, para além, dá agilidade logística e de produção, com o potencial de permitir que a operação local se torne um hub de exportação tanto para a América Latina quanto para outras partes do mundo.
O controle local também deve melhorar as margens do negócio. Desde o início em solo brasileiro em 2018, a empresa teve que conviver com uma rentabilidade mais espremida para ser competitiva e oferecer os produtos com preços em linha com o praticado em outros mercados.
“Nós vamos conseguir recuperar um pouco da margem que abrimos mão e ao longo do tempo melhorar os custos e repassar aos clientes finais”, Helton Vecchi, diretor-executivo doTerra.
A empresa foi criada em Utah, nos Estados Unidos, em 2008. Entre os sete sócios, quatro deles ex-executivos da Young Living, a maior companhia de óleos essenciais no mundo. A movimentação gerou um processo por parte da Living contra a doTerra por roubo de segredos industriais, arquivado pela justiça americana em 2017.
De acordo com dados da GrandView Research, esse é um mercado vai movimentar US$ 23,7 bilhões neste ano e é estimado para chegar a US$ 40 bilhões em 2030. Com taxa de expansão anual prevista em 7,9%, os números serão impulsionados por usos em áreas como cuidados pessoais, cosméticos, aromaterapia e na indústria de alimentos e bebidas.
Como funciona o negócio da doTerra
14º funcionário, Vechhi chegou na unidade brasileira após 20 anos de experiência em posições de gestor financeiro em empresas de produtos médicos, ortopédicos e até imobiliários no Brasil, Estados Unidos e Peru.
Ele se interessou pelo desafio, mas sem botar muita fé no efeito dos óleos essenciais, extratos tirados de plantas e ervas diversas, como cardamomo, lavanda, coentro, copaíba, hortelã e manjericão. Hoje, se declara um “heavy user” e anda com uma coleção de frasquinhos, entre outros itens, por onde vai.
Os óleos têm propostas diversas de uso e efeito:
- prometem relaxar e melhorar o sono
- abrir as vias respiratórias
- melhorar o humor desde ajudar no sono
- contribuir na hidratação na pele
Atualmente, a doTerra vende mais de 1 milhão de frascos por mês. O mais pedido, de lavanda, sai a partir de 94 reais, a versão com 10 ml. Com uma base de 400 mil clientes cadastrados no site, a empresa registra uma taxa de recorrência de compra de 60%.
Vez por outra, consultores da marca extrapolam e decidem incluir benefícios desconhecidos. Na pandemia de Covid-19, o FDA americano, órgão similar à Anvisa brasileira, repreendeu e advertiu a empresa nos Estados Unidos porque alguns representantes alegaram que os óleos tinham propriedades imunológicas e poderiam ser uma barreira com o vírus.
“O óleo essencial não é remédio, não podemos fazer alegações nem insinuar que pode substituir nenhum medicamento”, afirma Vecchi. “São produtos para o bem-estar, não para a cura”.
De acordo com o executivo, a empresa monitora as mídias sociais para controlar e fiscalizar os anúncios sobre os produtos, além de investir na formação dos profissionais chamados de “consultores de bem-estar”.
São eles quem ajudam a marca a ficar mais conhecida no mercado e recebem uma remuneração por cada compra feita por amigo ou pessoa indicada. Até por isso, de vez em quando, o modelo de negócio é associado ao marketing multinível - ou coisa pior.
“O modelo de negócio da doTerra não é marketing multinível. Trata-se de um modelo único de e-commerce que se vale do marketing de relacionamento dos Consultores de Bem-estar para apresentação de seus produtos”, afirma Vecchi. “Não há qualquer relação entre o modelo de negócios da doTerra e pirâmide financeira, uma vez que esse modelo é insustentável e ilegal”.
No dia a dia, a empresa se posiciona como um ecommerce tradicional. Hoje, os clientes só podem comprar os produtos da empresa pelo site e, além das indicações dos consultores, o modelo compreende dois formatos:
- varejo: o consumidor entra no site e faz a sua compra
- clientes preferenciais: os clientes pagam uma taxa de inscrição e recebem descontos em produtos a cada nova compra
Nas três situações, a relação de compra é direta entre o cliente e a empresa.
Qual é o futuro do negócio
Nos planos da doTerra, os frasquinhos de óleos essenciais puros continuarão a impulsionar a receita da empresa com a diversificação de tamanhos e novas plantas, mas há espaço também para ampliar o portfólio. A empresa tem investido em linhas como suplementos, vitaminas, cuidado corporal e acessórios, produtos feitos a partir dos óleos.
É da combinação desta receita com o maior conhecimento das pessoas sobre os benefícios dos óleos que projeta expansão robusta tanto no curto quanto no longo prazo. Após crescer 50% no ano passado, a expectativa é dobrar o faturamento e atingir o seu segundo bilhão de reais.
Mantidas as condições de temperatura e pressão, a operacão brasileira estipulou que pode alcançar o seu primeiro 1 bilhão de dólares em 2026 - dois anos antes do projetado inicialmente. O valor aproximaria a unidade dos dois principais mercados da companhia, os Estados Unidos e a China. Embora no terceiro lugar, o Brasil está “algumas voltas atrás” dos líderes, segundo Vecchi.
Presente em mais de 100 país, a DoTerra movimenta 2,5 bilhões de dólares e, no planejamento, deve chegar a US$ 7,5 bilhões em 2030.
Esta reportagem foi publicada originalmente em 9 de agosto de 2023.Clique aqui para ler o texto original.