AIG pode vender ativos no Brasil para levantar capital
Pessoas ligadas à empresa no Brasil já admitem a venda de participações na Unibanco AIG e outras 8 empresas
Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 18h34.
A gigante americana AIG pode levantar capital para financiar suas operações com a venda de ativos na América Latina - principalmente no Brasil. A seguradora não se pronuncia oficialmente, mas pessoas ligadas à AIG no Brasil admitiram ao Portal EXAME que essa é uma das opções. Apesar de a empresa ter conseguido um empréstimo-ponte de 85 bilhões de dólares do Federal Reserve (Banco Central dos EUA), ativos da empresa foram utilizados como garantia do crédito e poderão ser posteriormente vendidos para reduzir os débitos.
Mais conhecido no Brasil como sócio do Unibanco em seguros, o grupo AIG possui outras duas operações no país: fundos de investimentos em private equity (aplicação em empresas privadas) e resseguros. A participação mais fácil vender seria sua fatia no Unibanco AIG. O Unibanco seria o interessado natural no ativo. Por já ser sócio do negócio e ter porte suficiente para assumi-lo sozinho, o banco brasileiro poderia realizar a aquisição e depois procurar outro sócio estrangeiro - caso entenda que isso é necessário. Em comunicado, a seguradora Unibanco AIG afirmou apenas que opera no Brasil de forma independente da AIG americana, possui receitas próprias e mantém suas reservas técnicas aplicadas em títulos negociados no mercado nacional.
A carteira de private equity seria o segundo ativo mais interessante da AIG. Apesar de não ser líder do setor, a AIG Investments, a unidade de private equity, acumula hoje participação em oito empresas, além de US$ 600 milhões disponíveis para aquisição de novos ativos. Essas participações poderiam ser vendidas em conjunto ou separadamente.
A carteira da AIG inclui R$ 100 milhões em ações da Cia. Brasileira de Distribuição (Grupo Pão de Açúcar), US$ 50 milhões em ações da Disco (rede supermercadista argentina que disputa a liderança do mercado local com Carrefour), R$ 60 milhões investidos na Advento Participações (grupo do setor de serviços de engenharia com sede em Campinas), US$ 65 milhões na Calyx Agro (empreendimento patrocinado pela Louis Dreyfus Commodities, grupo líder no setor do agronegócio na América Latina, especialmente no Brasil), 7,34% das ações da Companhia Providência Indústria e Comércio (líder na América Latina na produção de não-tecidos, utilizados em fraldas e absorventes femininos), além de participações na Falcon Farms (empresa dedicada ao cultivo e distribuição de flores frescas com produção na Colômbia, Equador e México) e Frigorífico Mercosul (que processa carne de gado no Brasil).
A operação de resseguros ainda é recente no país - e poderia ter pouco valor para investidores. Iniciada em dezembro, com dez funcionários e um escritório localizado no Itaim Bibi (zona oeste de São Paulo), a empresa só obteve no início de agosto licença de operação formal da Susep (órgão do governo que regulamenta o mercado de seguros).
Um quarto braço da companhia, que atuava em private banking (gestão de grandes fortunas), foi desativado há cerca de seis meses, após o envolvimento de sua principal executiva, Magda Portugal, entre os réus da Operação Kaspar 2 da Polícia Federal. A operação investiga um esquema de lavagem de dinheiro e envio ilegal de dólares ao exterior. Magda Portugal chegou a ser presa e prestou esclarecimentos à PF antes de ser liberada.
"É cedo para falar que a empresa vá se desfazer de seus ativos, mas esta seria uma escolha natural de uma instituição que atravessa uma crise de liquidez", afirma o professor de finanças Fábio Gallo, da FGV-SP (Fundação Getulio Vargas) e da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica). Procurado pela reportagem, a AIG do Brasil não quis comentar as informações.
Nos EUA, o porta-voz da AIG, Joe Norton, disse que a empresa continua a avaliar opções para aumentar sua liquidez no curto prazo. Segundo informou nesta segunda-feira o Wall Street Journal, outros ativos que poderiam ser vendidos são a unidade de seguros de veículos nos EUA e também a empresa de leasing de aviões IFLC. A empresa tem uma frota de 900 aeronaves, é a maior cliente da Boeing e da Airbus e valeria nada menos do que cerca de 50 bilhões de dólares.
Correção: ao contrário do informado nesta reportagem, a AIG não tem mais participação na Fertilizantes Heringer. As ações foram vendidas no IPO (oferta inicial de ações) da empresa, em 2007. O erro foi corrigido.