5 erros de gestão que levaram à renúncia do presidente da Tepco
A empresa de energia japonesa não se mostrou preparada para minimizar os efeitos do acidente na usina de Fukushima
Da Redação
Publicado em 20 de maio de 2011 às 17h25.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h33.
São Paulo – O terremoto seguido de tsunami ocorrido no começo de março no Japão teve mais um impacto revelado nesta sexta-feira (20/5). A Tokyo Electric Power Company (Tepco), operadora da usina de Fukushima, anunciou a perda de 1,25 trilhão de ienes (15,3 bilhões de dólares) no ano fiscal de 2010, terminado em março. Junto com as finanças, caiu também o presidente Masataka Shimizu, que renunciou e chamou para si a responsabilidade sobre o acidente nuclear causado pelo desastre natural. Não que ele tenha sido o único culpado pelo prejuízo financeiro e pelos riscos ambientais provocados pelos vazamentos da usina de Fukushima, mas é fato que Shimizu é o representante maior de uma gestão de crise ineficiente, recheada de erros que poderiam ter sido evitados, caso a companhia tivesse se preparado um pouco mais. A partir de agora, Toshio Nishizawa assume o cargo de presidente da companhia para tentar apagar esse incêndio. Confira a seguir alguns dos principais deslizes da Tepco que culminaram na troca de CEO.
Diante do sofrimento de famílias que foram obrigadas a deixar suas casas devido à ameaça de contaminação por radiação no nas cidades vizinhas à usina de Fukushima, a Tepco demonstrou pouquíssimo tato. No início de abril, quase um mês depois do terremoto, a empresa ofereceu cerca de 237.000 dólares para cada uma das 10 cidades próximas ao desastre. Dividindo esse valor por todas as pessoas desabrigadas e afetadas pelo problema, cada uma receberia pouco mais de 11 dólares de ajuda. O prêmio de consolação ofertado pela empresa foi solenemente recusado pelas vítimas, ofendidas com a falta de sensibilidade da empresa. Para retomar sua imagem, a empresa anunciou que os salários dos trabalhadores da companhia iriam ser reduzidos em solidariedade às famílias. A remuneração anual dos altos executivos foi reduzida em 50%, a dos intermediários caiu 25% e a de assalariados, 20%, resultando em uma economia de cerca de 665 milhões de dólares. Em abril, a empresa anunciou que iria pagar, no primeiro plano de auxílio, 12.400 dólares a cada família desabrigada e 9.300 dólares a lares de apenas um membro. E, para tentar remediar de vez a falha com as indenizações, a empresa anunciou na semana passada, junto com o governo do Japão, que vai indenizar as famílias atingidas e os funcionários da usina.
Em meio ao pânico geral em relação à ameaça da radiação vinda de Fukushima, a Tepco se mostrou despreparada para manter a calma e analisar a situação friamente. Por mais de uma vez, a companhia divulgou dados técnicos errados sobre os níveis de radiação da usina. O engano mais grotesco ocorreu no dia 28 de março, quando uma leitura equivocada da radioatividade da água que saía da central nuclear mostrou que o nível estava 10 milhões de vezes acima do normal. No mesmo dia, a empresa reconheceu que o valor estava errado e, apesar de o índice estar mais alto do que o recomendado, ele não era tão alto quanto o dado anterior. O governo do Japão ficou furioso com o deslize, afirmando que uma falha desse tipo é inaceitável. A Tepco assumiu o erro e disse que, na ocasião, a radioatividade medida foi tão alta que o funcionário que fez a medição deixou o local rapidamente antes de confirmar os dados em uma segunda leitura. Uma semana depois, a Tepco errou de novo ao informar sobre os índices de iodo radioativo liberado, piorando ainda mais a credibilidade de sua imagem.
Com tantos erros de informação e uma postura inicial questionável em relação às vítimas da radiação, a Tepco demorou demais a reagir e tomar as rédeas da crise. Aos trancos e barrancos, ela assumiu os problemas, mas errou muitas vezes, o que, em situação de crise, é algo muito perigoso. Esse longo tempo que ela levou para se organizar fez com que o governo do Japão e entidades como a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) deixassem de confiar na companhia. No final de março, foi noticiado que o governo japonês estava disposto a assumir o controle da Tepco por meio de injeção de fundos públicos na companhia. A finalidade da operação seria evitar ainda mais gafes e agilizar as decisões a respeito do desastre. Agora, diante do prejuízo que a empresa enfrenta, o governo quer impedir sua falência, com um plano de ajuda no pagamento de dívidas e indenizações.
Um erro comum, mas que pode provocar sérios danos, é a tentação de esconder pequenos deslizes da empresa. Dez dias antes do desastre na usina de Fukushima, a Tepco revelou que caiu nessa armadilha. Na época, a empresa confessou às autoridades japonesas que havia manipulado dados de controle de manutenção. Nos relatórios de controle, a companhia disse que fez a inspeção de aproximadamente 30 peças que, na verdade, não haviam sido checadas. Depois de assumir que mentiu, a Tepco teve que fazer um documento para saber se os procedimentos de segurança estavam sendo respeitados. A conclusão da Agência de Segurança Nuclear foi negativa. Esse não foi um problema isolado. Em 2002, a empresa teve que parar 17 reatores nucleares de água quente para uma inspeção provocada pelo mesmo problema: manipulação de relatórios. No deslize mais recente, o diretor geral de Fukushima e seu braço direito foram demitidos.
Uma das principais controvérsias em torno da energia nuclear é exatamente o grande risco que ela representa para a população em caso de um acidente. Antes que a Tepco tivesse tempo de rever seus padrões de qualidade, a usina de Fukushima entrou em colapso devido ao terremoto seguido pelo tsunami e, apesar de ainda não ser possível definir se os enormes danos causados foram potencializados pela falta de manutenção, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) considerou que as medidas adotadas pela empresa não foram o bastante para evitar o acidente. A usina estava projetada para suportar resistir a um terremoto de 6,5 graus na escala Richter. O tremor que assolou o Japão atingiu 9 graus. As falhas nos procedimentos de segurança da Tepco não ocorreram apenas antes do desastre. No final de abril, a companhia reconheceu que uma funcionária da sede central nuclear recebeu dose radioativa três vezes maior do que o limite permitido, o que aumenta o risco de câncer. A funcionária deixou o local no dia 23 de março, 12 dias depois do terremoto. A empresa, mais uma vez, lamentou o erro e afirmou que, de fato, a gestão de exposição às radiações deveria ter sido mais rigorosa.
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