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'Surto de gripe aviária seria trágico para setor rural', diz ministro

Para Roberto Rodrigues, porém, é impossível que doença chegue ao Brasil

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h41.

Acompanhe entrevista sobre gripe aviária com o ministro da Agricultura Roberto Rodrigues:

EXAME - O senhor também está mais preocupado com a gripe aviária do que com a febre aftosa?

Roberto Rodrigues - A gripe aviária está para a avicultura como a doença da vaca louca está para a bovinocultura. Elas apresentam riscos à saúde humana e, portanto, são ameaças muito sérias. Falando somente do ponto de vista do agronegócio, um embargo por causa de um foco de gripe aviária seria muito mais violento do que o que estamos passando com a febre aftosa, isso sem falar do aspecto da saúde pública. Apesar de o Brasil se manter livre da gripe aviária -- mesmo dos vírus menos letais e que já causaram prejuízos em vários países, como Estados Unidos, Holanda e Chile -- não se pode cochilar, porque um surto dessa gripe aqui seria trágico para o setor rural.
EXAME - É possível prever se a gripe aviária vai chegar ou não ao Brasil?

Rodrigues - Não. Isso é impossível. Em primeiro lugar, é preciso entender quais são os dois principais meios de contaminação. O primeiro é via aves migratórias. Essas, aves atravessam países e mais países para fugir do frio e voam alto pra chuchu. O segundo meio de contaminação é por visita de estrangeiros infectados. O que podemos fazer e já estamos fazendo é trabalhar para evitar a entrada da moléstia no país.

EXAME - E o que está sendo feito?

Rodrigues - Em primeiro lugar criamos um grupo para tomar conta exclusivamente desse assunto. Esse grupo é híbrido, com membros do governo e do setor privado. Reforçamos o monitoramento das aves que migram para o Brasil. Conhecemos as rotas e já fazemos isso há anos. Nesse ponto contamos com uma ajuda adicional, porque as aves que vêm para o Brasil têm de passar necessariamente pelos Estados Unidos, que estão gastando uma fortuna na monitoração dos animais. Isso acaba sendo uma espécie de barreira natural para o Brasil. Antes disso, há quatro meses proibimos a importação de aves de países com risco de infecção. Também reformulamos os procedimentos de revista de estrangeiros de países com risco de contaminação em todos os portos e aeroportos. Nesse momento estamos em negociação com a Infraero para que a empresa instale detectores de material orgânico e incineradores para queimar materiais suspeitos diretamente nos aeroportos. O objetivo é impedir que algum tipo de alimento contaminado entre no país. Como ainda não temos os detectores, estamos abrindo malas, e olha que estamos encontrando muita coisa. Uma outra medida relacionada a isso foi iniciar a monitoração dessas pessoas via Polícia Federal.

EXAME - Como assim, qual a ameaça nisso?

Rodrigues - Num mundo como o de hoje, não podemos ignorar os riscos de bioterrorismo. O que vamos fazer é monitorar as pessoas que tentam entrar no país com algum material suspeito para saber quem são elas. Pode ser um imigrante que desavisadamente traz um alimento, mas também pode ser alguém com interesses criminosos, coisa que não é novidade na história do mundo e dos negócios.

EXAME - Em quanto tempo as ações recomendadas pelo grupo de crise serão postas em prática?

Rodrigues - Em novembro as coisas têm de começar a funcionar porque as aves começam a vir para o hemisfério Sul, fugindo do inverno do Norte.

EXAME - Mas quanto tempo levará para equipar os aeroportos?

Rodrigues - Bom, estamos negociando com a Infraero e o objetivo é fazer tudo o mais rápido possível, mas não dá para dar uma data precisa.

EXAME - E o projeto de regionalização da avicultura, em que pé está?

Rodrigues - Esse é um projeto que está sendo estudado há mais de um ano. Não é uma coisa fácil de se fazer, porque envolve os sistemas produtivos das empresas, e muitas delas têm produção em vários estados. Nossa previsão é ter o projeto prontinho até 15 de dezembro. Depois, vamos apresentá-lo à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), que tem de analisá-lo. A regionalização é muito importante para o setor em uma situação de crise como a de um surto de doença. Ela consiste em separar o país em regiões sanitárias. Com isso, estabelece-se regras de trânsito de animais de uma região para a outra, por exemplo, além de regras de produção. Em caso de um surto de doença, é possível suspender a entrada de animais da área contaminada, para que o foco da doença seja isolado. Hoje, caso ocorresse um surto de uma doença como a gripe aviária, todo o país pararia de exportar, mesmo que o foco estivesse isolado em um único estado. O que estamos estudando hoje não é nem a regionalização, mas a estadualização, que é o que as empresas pleiteiam e que faz bastante sentido, já que as dimensões de um estado brasileiro equivalem a um país da Europa. Lá, um país livre da doença continua exportando, mesmo que seu vizinho esteja embargado por ter um foco de uma determinada doença. Aqui, se houver um problema no Amazonas, o produtor do Rio Grande do Sul sofrerá embargo.

EXAME - Mas isso leva tempo para ser analisado pela OIE e também para ser implementado, não é?

Rodrigues - Sim, mas já estamos em contato com a OIE. No sentido da implementação, é verdade que a regionalização envolve compartilhamento de custos, pois há necessidade de criação de barreiras, por exemplo. Mas acho que tanto os estados, como a iniciativa privada estão muito interessados no projeto, pois ele significa um fator muito importante na proteção dessa atividade econômica em uma situação de crise. Acho que em três meses é possível implementar as medidas necessárias à regionalização ou estadualização.

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